I. Douglas Turri SJ[1]

Você já se perguntou o que é exatamente um religioso irmão? Se sim, saiba que você não está sozinho, uma vez que a maioria dos católicos, incluindo religiosos presbíteros, possui apenas um conhecimento superficial sobre a existência dos irmãos.

Confesso que, em algum momento da minha vida, isso me deixava impaciente. No entanto, a necessidade de explicar algo tão essencial e, muitas vezes, justificar por que não escolhi ser padre, despertou em mim um compromisso de promover a importância dessa vocação menos conhecida na Igreja Católica.

Um ótimo ponto de partida para refletirmos sobre a identidade e missão dos irmãos religiosos é encontrado na própria instrução que o Senhor nos dá: “Todos vocês são irmãos” (Mt 23,8). Essas palavras de Jesus não se aplicam exclusivamente aos religiosos irmãos, mas representam de forma significativa o valor evangélico das relações fraternas que todos nós somos chamados a assumir.

Essa dimensão fundamental jamais nos abandona, sendo o elemento principal do alicerce que nos sustenta e nos leva a seguir Jesus, profundamente unidos a Ele, primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29).

Este dom, na medida em que exprime uma vocação específica, encontra seu verdadeiro propósito na vida religiosa, por meio da profissão dos votos de pobreza, castidade e obediência. Ao se juntar a uma família religiosa que o acolhe, o indivíduo assume e vivencia essa vocação de maneira compartilhada, testemunhando o modo de vida de Jesus na comunidade eclesial e perante o mundo.

Na essência da identidade de cada irmão religioso que tive o privilégio de conhecer, independentemente da idade, sempre percebi uma característica singular: uma profunda sensibilidade diante das questões que afetam os mais vulneráveis entre o povo. Aqueles que sofrem opressão de diversas formas de desigualdade, aqueles que são deixados à própria sorte e os que estão à margem da narrativa histórica.

Isso ressalta a verdadeira riqueza no primeiro papel que os irmãos desempenham na Igreja, que é o de serem simplesmente irmãos ao lado daqueles com os quais o próprio Senhor Jesus se identifica.

No entanto, frequentemente interpretado como comum, insignificante, só, normal, o adjetivo “simples” se apresenta como um grande desafio para que o cristão contemporâneo compreenda e aceite o chamado desconcertante de Jesus para sermos irmãos, seja como leigos, sacerdotes, no matrimônio e como consagrados à vida religiosa. Infelizmente, há uma grande atração pelo poder, pela glória, pelo controle, pela grandiosidade, pelo sucesso e pela vitória que nos afasta desse projeto evangélico de fraternidade, assumido no batismo.

Mas então, o que exatamente é um irmão? O que os distingue dos demais quando, no fundo, sua vocação é a vocação de todos os que foram batizados?

Eu afirmo que é justamente na ausência de distinção que compreenderemos o que é um irmão, basta recordar o relato nas escrituras que diz: “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens.” (Fl 2,6-7).

Em outras palavras, a maneira escolhida para que pudéssemos ser aceitos como filhos de Deus foi por meio de Jesus Cristo, que primeiramente se tornou nosso irmão, compartilhando de nossa humanidade e se solidarizando com os sofrimentos de seus semelhantes.

Dessa forma, a riqueza e a beleza da vocação dos religiosos irmãos consiste em serem iguais aos demais, testemunhando um compromisso total, expresso através da profissão dos votos, para que o projeto que eles carregam em seus nomes permita que Jesus seja percebido, sentido e reconhecido pelas pessoas nos dias atuais, neste mundo carente de fraternidade, como um rosto irmão.

Todos os demais serviços e ministérios realizados pelos religiosos irmãos, seja dentro das congregações religiosas ou nas linhas de frente dos serviços de saúde, educação, assistência social, no acompanhamento de crianças e adolescentes em situação de risco, entre outros, só ganham sentido e razão de existir a partir desse primeiro ministério.

Assim sendo, em meio a essa atual situação em que os mais fracos sofrem e os mais poderosos se aproveitam, torna-se ainda mais vital que os irmãos religiosos reiterem e demonstrem, com um empenho renovado, a mensagem evangelizadora das relações mútuas de amor, empenhando-se para cuidar uns dos outros, apoiarem-se mutuamente e colaborarem harmoniosamente em busca da fraternidade tão almejada em nosso mundo.

Lembre-se de que todos nós, cristãos, temos um papel importante nessa missão de sermos irmãos uns dos outros e de testemunharmos o amor de Cristo.


[1] Irmão Jesuíta, que nasceu em 30 de junho de 1987, em João Pessoa PB e criado no interior de São Paulo, iniciou sua trajetória profissional no Terceiro Setor, mais precisamente na gestão de recursos materiais, humanos e comunicacionais. Com formação em administração de empresas, ele descobriu na espiritualidade inaciana um caminho eficiente para seguir Jesus, o princípio e a fonte que o guiaria a decidir consagrar sua vida a Deus na Companhia de Jesus. Atualmente, dedica-se aos estudos teológicos na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE, em Belo Horizonte. Além disso, Douglas também colabora com o SJMR Brasil – Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados.

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