“Ninguém põe remendo
de pano novo em roupa velha” Mt 9, 14-17

Mudanças são a essência e o sabor da vida. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre em construção: física, psíquica, social, cultural e espiritualmente. Nosso universo interior está em constante movimento. As mudanças interiores são verdadeiras transformações capazes de dar um novo sentido e impulso à vida ou de abrir novas possibilidades de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao mistério de todas as coisas.

A mudança é o elemento que traz energia, variedade, surpresa, cor e vida à vida. Temos, sim, capacidade de realizar mudanças em nossas ideias, atitudes, percepções; essa capacidade nos ajuda a extrair toda a seiva possível da novidade da vida. A capacidade de mudar desenvolve-se mudando, e atrofia-se quando permanecemos estacionados. Mudar em coisas pequenas, prepara o caminho para mudar em coisas grandes, e mudar com frequência facilita o continuar mudando sempre. A mudança suave e gradual em nossa visão das coisas, dos fatos, das pessoas, do nosso modo de proceder, leva-nos a maior vitalidade, entusiasmo e alegria.

É saudável questionar-se, abrir-se e aventurar-se a ver as coisas de maneira diferente e a responder às circunstâncias com espontaneidade nova. Mas a mudança não é questão de puro voluntarismo, nem de imposição ou cobrança externa. Trata-se de um hábito do coração. O ser humano é, em sua essência, mudança, movimento, dinamismo, energia. Deus não nos deu um espírito de timidez, de medo, de fuga, de acomodação, mas de audácia, de criatividade, de luta, de participação.

Isso porque não temos dentro de nós um núcleo duro e inflexível, nem uma estátua completamente esculpida, permanente e fixa; ser pessoa significa ser afetado por um processo dinâmico de mudança permanente. A partir do interior, a mudança desencadeia uma rede de transformações na comunidade, nas relações com a natureza e com o universo inteiro.

Mas viver em estado de mudança não significa viver um processo tranquilo.

As mudanças, quando vão ao fundo das coisas, provocam desconcerto, inquietam-nos, afligem-nos e desafiam-nos a discernir, examinar, purificar e substituir os hábitos inertes, a sair de nossos esquemas mentais fechados, a mudar as condutas petrificadas, os projetos sem horizontes.

Movidos por sua força, vemos a possibilidade de questionar toda nossa atitude conformista, sacudir nossas convicções, ampliar nossos horizontes e animar nossa vida. Toda mudança implica sair de nós mesmos, de nosso estreito mundo, de nossas práticas arcaicas, daquilo que nos protege e nos esteriliza. E essa atitude traz alegria à alma, já que o fato de abrir janelas refresca o ambiente, deixa entrar a brisa, enche o espaço de luz e oferece paisagens longínquas ou novas aventuras. E essa mudança é suficiente para conservar a esperança, contagiar o entusiasmo e alimentar a alegria.

Confiar na Graça de Deus, que desperta nossa vida e acompanha nosso crescimento.

Imersos no carisma fundante (fonte) e inspirados no melhor da tradição inaciana, somos chamados a uma mudança permanente na nossa vida pessoal e na nossa missão apostólica; esta não é puro ativismo, nem mera repetição mecânica, nem formalismo, mas um “modo de ser e proceder” alimentado por uma intuição, uma chama, uma espiritualidade. A fonte desta espiritualidade encontra-se nos Exercícios Espirituais, método dinâmico e vital que arranca a pessoa de seu imobilismo e de sua acomodação. Tal dinamismo gera audácia, desperta a criatividade, abre ao diferente, suscita respostas novas, usa os melhores meios para atingir o fim desejado.

A fidelidade criativa ao carisma inaciano nos impulsiona a inventar constantemente, a ousar sem medo, a deslocar-nos sem parar. Se é verdade que devemos buscar nas origens, no carisma inaciano, a inspiração para mudanças que são necessárias, não é simplesmente uma volta ao passado que nos ajudará a sermos criativos.

Fidelidade criativa significa uma leitura atenta dos sinais dos tempos e abertura dócil a uma realidade em continua mudança que define o campo de nossa criatividade.  É a ousadia, motivada e sustentada pelo amor de Deus, mas também pelo zelo apostólico e por uma sensibilidade para perceber as novas necessidades do nosso tempo, que nos ajudará, com a graça de Deus, a exercer essa criatividade. Isto consiste em colocar-nos nos passos de Deus, com suficiente visão da realidade para ir adiante, e com bastante disponibilidade para mudar de caminho quando o sopro do Espírito assim nos sugerir.

Texto Bíblico: Mt 9,9-13 / 2Tim 1,6-18 / Ef 4,1-16 / Lc 8,22-25

 

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