“Triunfe em vossos corações a paz de Cristo” (Col 3)

Há em nós uma necessidade vital de sermos reconhecidos. E ser reconhecido é ser amado. Só seremos nós mesmos quando alguém nos descobre, nos acolhe, nos aceita. Quando respeitam nossa verdadeira identidade. O outro é a realidade que nos permite tomar consciência de nós mesmos. Neste mundo confuso e conflituoso, buscamos ansiosamente a nossa identidade (quem sou eu?). Essa identidade se revela por meio das relações sociais. Ninguém cresce sozinho, precisamos dos outros, precisamos viver relações sadias e maduras com os outros (família, amigos, trabalho, grupos).

Nesse sentido, uma pessoa encontra somente sua realização na interação com o ambiente que a cerca. O ser humano está comprometido com os outros por sua própria natureza. A pessoa se torna humana somente em interação com os outros, ela possui impulsos naturais que o levam em direção ao convívio, à cooperação, à comunhão, ela é reserva de humanidade e compromete-se com a dignidade humana.

Estamos sempre em contato com o “outro”

E o outro é pessoa. O outro revela certa magia, ao mesmo tempo fascinante e enigmático. O outro é plural, apresenta múltiplos rostos, é diferente, inédito. Refletir e rezar sobre o outro é apaixonante e interminável. Como mulheres e homens trazemos esta força interior que nos faz sair de nós mesmos e criar laços, construir fraternidade, fortalecer a comunhão. O olhar do outro é o fato originante da fraternidade.

O ser humano não é feito para viver só, ele é chamado a viver em comunhão com todas as pessoas. Necessita conviver, viver-com-os-outros. É essencial descobrir o sentido e a vivência da relação com os outros, da fraternidade. O sentido da relação com os outros é um dom de Deus, que nos foi dado a todos. O outro audacioso suscita coragem, remove barreiras e limpa o horizonte embaçado por temores. O outro solidário é a pessoa com quem se pode contar nas horas de alegria, de angústia e de desespero. É aquela pessoa companheira que caminha conosco por estradas planas ou esburacadas, acompanha-nos sem ter marcado encontro, interpela nossas consciências anestesiadas rumo ao futuro novo e provocativo.

Deus nos fez amor para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão. Fomos criados à imagem e semelhança do Deus Trindade, comunhão de Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é perfeito” (1Jo 4,12). Deus colocou em nossos corações impulsos naturais que nos levam em direção ao convívio, à cooperação, à acolhida, à solidariedade. A face do outro é o divino no ser humano. Todo ser humano é imagem do Outro, que é Deus.

Deus é o ponto focal para enxergarmos o outro

Se há eu e se há tu, então a presença de Deus se revela. A fraternidade, a vida em comum, se mede pelo amor, por atos e gestos de doação, por vivências de comunhão, por experiências de partilha do mesmo ser, da mesma vida, da entrega mútua gratuita. O amor é olhar o outro com olhos tão limpos, bondosos, desinteressados, profundos, que eu só desejo que o outro seja o que é. Eu o aceito e o quero tal e como é. Alegro-me de vê-lo assim, tal como é. O outro é universo dialogal, aberto, é existência de reciprocidade. O outro, movido pela esperança, avança sempre, sem jamais desistir.

E, como pessoas que buscam esse encontro, somos convidadas a olhar cada uma das pessoas com quem convivemos. Dar-nos conta daquilo que sentimos para com cada uma delas, como as tratamos. Contemplar o outro respeitando-o em seu modo de ser, de agir, de pensar, de falar, aceitando seu modo próprio de viver. É sempre um convite à vida observar e descobrir os valores do outro, suas riquezas, sua originalidade, sua profundidade, lentamente, mas com um olhar sereno e profundo. Tentar descobrir algo a mais presente em cada pessoa com quem trabalhamos, estudamos, convivemos. Vê-las com os olhos do coração, imagem de Deus, amadas por Deus, templo do Espírito, presença de Deus no mais profundo de seu ser.

Texto Bíblico  Col 3,12-17

 

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