“Discerni tudo e ficai com o que é bom” (1Ts. 5,21)                             

Escolher é viver, por isso ao entender e refinar minhas próprias maneiras de escolher, eleger e decidir, entendo melhor minha vida. É na decisão que a pessoa torna-se pessoa, que o indivíduo torna-se sujeito. São significativas as decisões que imprimem certa direção à nossa vida, que a constroem dia após dia. São as decisões que fazem a pessoa, formam sua personalidade, definem seu caráter e integram sua vida. A base da pessoa são suas decisões, suas determinações, o que faz com sua vida ao escolher o caminho dia após dia, ao rejeitar alternativas e avançar na rota.  

Escolher é viver,  decidir-se é definir-se

Em outras palavras, sou o que são as minhas decisões, e por isso quero saber detalhadamente quais são e como as tomo. Quero saber se minhas decisões são realmente minhas ou se são imitação daquilo que os outros fazem, ou submissão ao que os outros me disseram para fazer. O importante na vida é o ato humano, a entrega pessoal, a livre decisão. Saber a cada momento o que quero, e fazê-lo, é a essência da vida. O caminho se define por suas curvas, e a pessoa por suas decisões. Elas marcam a meta.

É verdade que as eleições na vida são para as grandes ocasiões, mas também são para as pequenas. O exercício constante da arte de escolher tem muita importância, não só pela extensão diária de suas oportunidades como também constitui a melhor preparação para o momento das grandes viradas. As pequenas decisões diárias são a trama da vida, o clima da alma e a têmpera do espírito. Elas definem, momento a momento, a atitude interna e criam o estado permanente que define a arte de viver, que é a arte da escolha.

A arte de escolher é a arte de viver e vivemos a todas as horas, porque escolhemos a todas as horas. Que façamos isso como rotina inconsciente ou com atenção amorosa, depende de nós, e daí pode brotar uma surda monotonia da repetição ou a alegria original da criatividade a cada instante. Minhas decisões são minha vida, todas elas. Os grandes dilemas e as pequenas encruzilhadas, as determinações heroicas e as preferências espontâneas, os grandes saltos e os pequenos passos.

Na vida são muito mais os passos pequenos do que os grandes saltos. Nessa linha, os Exercícios Espirituais de Santo Inácio não são apenas uma ajuda para decidir-se uma vez na vida, mas são para criar um contexto vital e permanente dentro do qual acontecem as decisões. Ajudam a manter um clima favorável no qual são tomadas as decisões, a qualquer hora e em qualquer circunstância. É um instrumento para nos fazer viver num estado constante de atenção e vigilância que nos torne fácil e natural trilhar os caminhos que é necessário trilhar em qualquer momento.

Um cristão é uma pessoa que  vive em estado de eleição

O importante é isto, o estado, o processo, a continuidade, o estar sempre a tempo, sempre alerta, sempre preparado. Já não se trata de fazer eleições, mas de viver em estado de eleição. A vida inteira se converte numa contínua eleição. O equilíbrio, o contato, a liberdade, a generosidade, cada nervo sintonizado, cada músculo em forma. E assim entramos na vida e enfrentamos mil situações.

Cada pequena decisão é uma satisfação em si mesma e uma preparação para a seguinte. Sempre avante. Avanço que pode ser mudado de direção a cada instante. Sendo donos do caminho, porque somos donos de nós mesmos. Vivemos a responsabilidade e o prazer do motorista que observa a estrada, acaricia o freio, mantém o volante fixo ou o gira com precisão, escolhe sua faixa. Entra no tráfego, avalia velocidade, distância, curva e horizonte, e acelera seu veículo, firme e seguro, com uma decisão a cada instante. Uma mudança a cada segundo na tenaz de suas mãos, no final uma viagem prazerosa e um período de tempo divertido. Também nós temos o volante nas mãos. Vamos desfrutar guiando.

Texto Bíblico  Lc 2,39-52

 

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