“Somente desejando e elegendo o que mais nos conduz para o fim que somos criados” (EE 23)

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial” (L. Boff). Cada pessoa tem dentro de si uma águia. Ela quer nascer. Sente o chamado das alturas. Ela tem as alturas dentro de si. Busca o sol. O sol habita seus olhos. O infinito dos espaços anima suas asas para enfrentar os ventos mais velozes. Ela é feita para o céu aberto. Há nela um fogo interior que cinza alguma pode apagar.

Somos constantemente desafiados a libertar a águia que nos habita. Carregamos dentro de nós o chamado do infinito, a criatividade, a capacidade de romper barreiras, os sonhos, a luz. Não basta libertar-se. A águia precisa também libertar-se para a sua própria identidade e para a realização de suas potencialidades. “Aquele amor que me move e me faz eleger tal coisa deve descer do alto, do amor do mesmo Deus” (EE 184).

Voar alto rumo ao infinito do desejo

No entanto, somos constantemente confrontados com outra dimensão da existência humana: o enraizamento, o cotidiano, o limitado, o círculo da vida privada, os afazeres domésticos, as limitações e sombras que marcam a vida. São dois polos que atuam em nós, eles vêm revestidos de muitos nomes: realidade e sonho, necessidade e desejo, história e utopia, fato e ideia, enraizamento e abertura, corpo e alma, poder e carisma, religião e fé, caos e cosmos, sistema fechado e sistema aberto. Como equilibrar estes dois polos? Como impedir que a rotina afogue a águia dentro de nós?

As dualidades acima referidas são dimensões da mesma e única realidade humana. Formam uma dualidade, mas não um dualismo. Tudo está em processo permanente e aberto, em busca de um equilíbrio dinâmico. Ambas se complementam. Traduzem o dinamismo humano, enraizado por uma parte e sempre aberto por outra. O ser humano precisa unir o enraizamento e abertura, luz e sombra, céu e terra. Somente integrando as duas dimensões, a vida poderá caminhar com os dois pés: um, firme no chão e outro levantado, como quem anda para frente, na direção certa. Somos seres concretos e históricos. Mas jamais devemos esquecer nossa abertura infinita, nosso desejo indomável, nosso projeto infinito.

Somos realistas e utópicos, enraizados na realidade concreta e abertos ao possível ainda não ensaiado, andando no vale, mas tendo os olhos fixos nas montanhas. Recordemos a lição dos antigos: “se não buscamos o impossível jamais conseguiremos o possível”.

Texto Bíblico  Is 40, 25-3l / Ex 19,2-6

 

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