“Exclamação de admiração com intenso afeto” (EE 60)

 Às vezes acontecem coisas estranhas. Passamos por um lugar centenas de vezes e, de repente, parece ser diferente, novo, cheio de significados, que sequer imaginávamos. É a surpresa, a contemplação, o encantamento. É o grito cheio de surpresa que brota do mais profundo do nosso ser, diante do mistério que nos envolve e nos escapa.

Mistério: este termo remete a etimologia “myo” (fechar os lábios, cerrar os olhos), onde a pessoa leva a mão à boca para se calar e cede lugar à escuta e ao silêncio. É docilidade à audição da voz que nos habita; é o sussurro que vem da realidade e das coisas, despertando o nosso ser para o espanto, para a maravilha e para o milagre. Mistério significa a percepção de algo escondido, de uma realidade não-manifestada e não-comunicada. Nesse sentido se pode dizer que a vida humana, as pessoas com quem convivemos, a realidade que nos cerca, o universo, a história, são mistérios para nós. Tudo é mistério.

A admiração é a irmã da fé

Mistério não se opõe a conhecimento, não é o que não se pode conhecer de algo. Refere-se, antes, a algo que pode vir a ser conhecido, mas que nosso conhecimento nunca consegue compreender sua totalidade. Conhecer mais e mais, entrar em comunhão cada vez mais profunda com a realidade que nos envolve. Portanto, a expressão mistério se refere mais à inesgotabilidade da realidade do que a nossa incapacidade de conhecimento. Logo, a atitude diante dessa realidade é o silêncio, a admiração e o espanto. O mistério nos mantém sempre na admiração até ao fascínio, na surpresa até à exaltação. É a capacidade do ser humano de se comover diante do mistério de todas as coisas. Não é pensar as coisas, mas sentir as coisas tão profundamente que percebemos o mistério fascinante que as habita.

Nesse sentido, mistério não diz respeito a teorias, a doutrinas, mas antes uma experiência, uma vivência que nos invade e nos conduz à caminhos novos. Diante do mistério que desperta a admiração, somos convidados a enxergar além das aparências, a adquirirmos outro olhar sobre a realidade, a vida e as pessoas. William Blake, poeta inglês, escreveu: “Ver um mundo num grão de areia, um céu estrelado numa flor silvestre, ter o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora”. O mistério irrompe como voz que convida a escutar cada vez mais a mensagem que vem de todos os lados, como apelo sedutor para nos mover sempre na direção profunda do coração de cada coisa.

É o ilimitado do conhecimento

Ele pertence a uma dimensão humana à qual todos tem acesso, quando vivem em profundidade e conseguem penetrar nos níveis mais enraizados da vida. Eis a plenitude da vida: mergulhar naquela presença transformadora que nos enche de sentido, de alegria, nos surpreende a cada momento, sorrindo entre as coisas.

Texto Bíblico Lc 7, 1-10 / Lc 10, 21-24

 

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