Os que quiserem mostrar maior afeição e distinguir-se mais em todo o serviço do seu Rei Eterno e Senhor universal(EE 97)

Todo ser humano necessita de uma causa última pela qual viver, um valor supremo que unifique a diversidade de suas vivências e experiências, um projeto que mereça sua entrega radical. Cada um carrega dentro de si a sede do infinito, a capacidade para romper barreiras, de auto transcender-se. Ele traz dentro de si uma força que o arrasta para algo maior que ele; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do mais. “Somente desejando e elegendo o que mais nos conduz para o fim que somos criados”.

Para Santo Inácio de Loyola, o “magis” é a resposta do ser humano ao Deus “trabalhador e providente”. Sempre há um “mais” de amor por parte do “Deus sempre maior” com relação a cada pessoa. Diante da Divina Majestade e da bondade infinita de Deus, a resposta do ser humano não pode ter limites; ele é chamado a servir a Deus ao máximo. Este é o ideal ao qual todos devem aspirar; a meta de todos é o próprio Deus (“Sede santos como Eu sou Santo”), e o caminho para Deus não conhece barreiras, porque é um caminho aberto para o infinito.

Santo Inácio assinala esta meta com o termo “magis”, buscado em cada circunstância e em toda atividade. No fundo deste dinamismo encontramos uma tensão interna que estimula a pessoa a buscar sempre mais; uma força motriz que vai dando em cada momento o impulso necessário a superar-se, a entregar-se generosamente sem limites, a não ter medo das últimas consequências.

O “magis” passa a significar entrega total e sem reservas para “inteiramente cumprir sua santíssima vontade”; mais que o ardor de um temperamento, o “magis” corresponde agora a um desejo e a uma atitude espiritual: é preciso fazer o máximo para o louvor e o serviço do Senhor.

Esse desejar sempre mais impede a pessoa de deter-se no caminho, de instalar-se naquilo que foi encontrado; sente-se insatisfeita no estado em que se encontra; uma meta alcançada converte-se em plataforma de novos lançamentos; encontrada a Vontade de Deus, nunca se detém como se fosse a última, senão que a encontra para buscar de novo.

A sede de autenticidade, de generosidade, de renovação contínua, vai incitando a ser uma outra pessoa, uma pessoa nova.

O fundamento disso está na novidade inesgotável do próprio Deus, um Deus que se faz história, que fala, que chama, não uma vez, mas continuamente. O Senhor é o que veio, o que está vindo, o que virá: aqui está entranhado todo o dinamismo e a razão profunda da autêntica espiritualidade inaciana. É próprio de Deus afetar o íntimo do ser humano, atraindo-o para si, estimulando-o, desinstalando-o, colocando-o em movimento…

O “magis” está sempre presente e ativo na vida da pessoa inaciana como um princípio e critério que a orienta até nas mínimas decisões; mas, mais que um critério, trata-se de um clima espiritual que envolve toda sua ação e espiritualidade apostólica. No esforço por viver o “magis”, irá realizar-se aquela contínua progressão espiritual, aquela contínua superação de si mesma e maior impulso no seguimento de Jesus Cristo. Trata-se de um crescimento vital. A sede de autenticidade, de generosidade, de renovação contínua, vai incitando a ser uma outra pessoa, uma pessoa nova.

Todo ser humano é alguém capaz de crescer, de fazer mais, de ser mais; não crescer é sinal de morte. O verdadeiro sentido do “magis” não está simplesmente em esforçar-se para fazer mais, senão para “estar más dispuestos a recibir día tras día, mayores gracias y dones espirituales” (Const. 282).

Textos Bíblicos: Gn 18,1-18 / Sb 11,21-26 / Fl 4,10-20 / Mt 25, 14-30 / Mc 10,17-22

 

O Magis:

  1. Expressa uma dimensão evangélica própria do seguimento de Cristo; exige-se o maior amor;
  2. Impede a acomodação, põe a pessoa em movimento, levando-a à busca da excelência (desenvolver ao máximo seus dons pessoais);
  3. Exige da pessoa uma disponibilidade permanente; há sempre algo a discernir e realizar por Deus; faz a pessoa estar sempre aberta às situações novas e sempre disposta a mudar;
  4. Não é comparativo, mas superlativo; “é o desenvolvimento mais pleno possível das capacidades individuais de cada pessoa em cada etapa de sua vida, unido ao desejo de continuar este desenvolvimento, ao longo da vida, e a motivação para utilizar as qualidades desenvolvidas em benefício dos outros”.

 

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