O mistério do Nascimento de Jesus nos fala do essencial: um Deus que se faz carne, o divino que se faz humano. O eterno se estremece diante do que é terno. O infinito abraça amorosamente a fragilidade. Viver este mistério é viver em Deus, compreender até onde chega a insanidade de amor de um Deus que se humaniza para que nos humanizemos. “A humanidade de Cristo é a humanidade vivida à maneira de Deus, ou melhor, vivida por Deus” (José Arregi). Deus se humanizou: tal expressão revela que o Amor de Deus significa também ternura.

Apareceu um menino, apareceu a ternura e a doçura do Deus que salva. Na fragilidade de uma criança se esconde e se revela a grandeza divina. Uma antiga tradição religiosa afirma que a maior seriedade de Deus aconteceu quando Ele virou menino. Louca aventura amorosa de Deus! No rosto de uma criança se faz visível o Amor que desce sempre mais abaixo, que vem ao encontro da humanidade, que nasce no ventre da terra e se faz terra fértil.

Se a história da encarnação começa na gruta, quer dizer que a fé em Deus implica prestar atenção na manifestação do amor materno e na frágil beleza do recém-nascido. É por esse caminho que podemos chegar à descoberta e à experiência de Deus. É também por este caminho que podemos chegar ao conhecimento de nós mesmos. No momento em que o Verbo de Deus assume um rosto, todo ser humano chega à plenitude de sua realização: entra em comunhão com o Infinito e recebe uma dignidade infinita. As grutas sempre despertaram fascínio nos seres humanos, elas possuem uma força atrativa e guardam segredos em seu interior. Ao mesmo tempo simbolizam o desejo permanente de retornar ao ventre materno, lugar de segurança, de aquecimento. A contemplação do Nascimento de Jesus nos impulsiona a fazer a travessia para o interior de uma gruta: ali o Grande Mistério se faz visível e revelador do sentido da existência humana.

Conectar-se com a Gruta de Belém é despertar o que há de mais divino em nós

A contemplação do Nascimento de Jesus não só nos conecta com o que há de mais divino em nós, mas nos conecta também com o divino presente em toda pessoa humana, pois o Filho de Deus, com sua encarnação e nascimento, se uniu a todo ser humano. Este nascimento faz referência à nossa comum humanidade, ou seja, nos revela que nossas vidas estão estreitamente interconectadas, e por causa desta conexão, somos responsáveis uns pelos outros. Nós nos humanizamos através dos outros. Precisamente porque cada um é parte inseparável do tecido da humanidade, o que um faz ou deixa de fazer tem consequências nas vidas dos outros.

A gruta está sem defesa, por isso, entram as chuvas e também o frio, mas é precisamente nas fendas de sua pobreza onde ocorre o nascimento da Vida, onde acontece, desde aquela noite, a manifestação da glória de Deus, o perfume de sua compaixão. No encontro com a criança de Belém tudo é aceito e acolhido, tudo encontra seu lugar. Nada é rejeitado, o sujo e o que não conta, o desprezível, o mal olhado, todos perdem seu aspecto desagradável e se ungem de calor e suavidade. Tudo fica transformado pela irradiação da luz que emerge a partir de dentro, há muito mais dignidade e beleza onde sequer poderíamos imaginar.

Trata-se de entrar nela com suavidade, de percebê-la e fazê-la descer até o coração, de convertê-la em matéria de consideração e oração silenciosa e surpreendida. A contemplação do Menino na Gruta revela que Deus assumiu a aventura humana desde seus começos até seu limite (vida, amor e morte). Deus se fez tecido humano, revestiu o ser humano de sua própria glória, plenificou-o de sentido e de finalidade. No nascimento de Jesus é revelada a grandeza, a dignidade, o mistério inesgotável da vida humana. Nossa humanidade foi divinizada pela descida de Deus. “Sendo rico, Cristo se fez pobre para que nós participássemos de sua riqueza” (2Cr 8,9).

Ao aproximar-nos da Gruta de Belém, com todos os nossos sentidos abertos, começamos a intuir que tudo foi alcançado pelo amor encarnado de Deus. Belém é Deus que entra em nossa própria casa. Acolhido pela natureza, presente na gruta, Deus se deixou impactar por tudo aquilo que o rodeava. Tudo isso é Deus na nossa carne quente e mortal. Um Deus que adentrou na humanidade e de onde nunca mais saiu. Um Deus que agora pode ser buscado em nossa interioridade e em tudo o que é humano. Na pobreza, na humildade da própria história pessoal, inserida na grande história da humanidade, torna-se possível acolher o dom do amor de Deus visível na Criança de Belém.

Ao entrar na gruta para contemplar o Menino-Deus, acessamos, ao mesmo tempo, o mais profundo do coração humano, carregado de compaixão e generosidade. A bondade humana é uma faísca que pode se atrofiar, mas jamais se apagar. São necessários alguns momentos densos para que esta chama seja ativada. A contemplação do Nascimento de Jesus é um deles.

Texto Bíblico Lc 2,1-20 / Mt 1,18-25 /  Jo 3,16-21

 

# Clique aqui e faça o download da versão para impressão desta reflexão
Veja também a reflexão de semana passada

 

Compartilhar.
Deixe uma resposta