Traduzido e adaptado do artigo de Luis Alfonso González, SJ

A espiritualidade de Santo Inácio pode ser definida por suas propostas contraditórias: entre a ação e a contemplação, a responsabilidade humana e a confiança em Deus, a indiferença e o esforço.

Poderíamos definir o carisma inaciano como paradoxal. Não é isto ou aquilo, mas isto e aquilo. Se procurarmos em um dicionário a definição de paradoxo, encontraremos que é “a figura de pensamento que consiste em empregar expressões ou frases que envolvem certa contradição”. Por exemplo, podemos dizer como cristãos que é paradoxal que Deus, o Todo-Poderoso e Absoluto, decida se encarnar e queira compartilhar a condição humana, que é frágil, relativa e contingente. Isto parece uma contradição. Da mesma forma, a identidade de Inácio de Loyola, sua espiritualidade, sua forma de conceber e agir no mundo só se entendem pela lógica do paradoxo. Devemos aprofundar essa lógica, caso contrário, corremos o risco de vivê-la de forma parcial e polarizada. Contudo, somos convidados a experimentá-la a partir da integração das partes que a compõem, com toda a complexidade e tensão que isso implica.

A espiritualidade inaciana é contemplativa na ação

Inácio está convencido da ação de Deus neste mundo. Ele trabalha e habita em toda a realidade (natureza, homem, história). Este Deus, Criador e Senhor, pode ser “descoberto”, por meio da fé, em todos os acontecimentos, na vida diária, em tudo o que fazemos. Com essa visão, Inácio rompe com esquemas dualistas, ao mesmo tempo que propõe ser contemplativo na ação. Trata-se de “ver Deus em todas as coisas”, experiência profunda que nos permite oferecer uma resposta transformadora das realidades.

Age como se tudo dependesse de ti, confia como se tudo dependesse de Deus

Este princípio nos confronta com certas formas de proceder na vida. Há momentos em que tendemos a “deixar tudo nas mãos de Deus” ou adotamos atitudes voluntaristas. No entanto, o sentido deste princípio inaciano é que devemos agir com responsabilidade, mas confiando que, no final, as coisas mais valiosas da vida são gratuitas. Age como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus.

Entre a indiferença e o magis

Aqui, temos a tensão entre dois termos. Por um lado, a indiferença inaciana refere-se a um processo no qual tudo é relativo em relação a Deus, o único Absoluto. Por outro lado, o termo magis tem a ver com a busca constante pelo melhor. Ambos os termos, indiferença e magis, expressam uma profunda liberdade frente a tudo, para desejar e escolher somente o que nos conduz ao fim para o qual fomos criados.

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