Jesuítas reunidos na ordenação presbiteral de Bruno Torres

No segundo sábado de agosto, véspera do dia dos pais, presidi a uma ordenação sacerdotal. O rito aconteceu numa comunidade da periferia de Manaus, bairro Alfredo Nascimento III, cuja padroeira é Santa Joana D´Arc. O local foi escolhido pelo diácono que seria ordenado presbítero. Escolheu esta comunidade porque durante o seu noviciado na Companhia de Jesus ali fizera sua experiência pastoral. O agora Padre Bruno é um jesuíta. Como todos os jesuítas teve uma longa formação que o conduziu a diversos lugares no Brasil e até a China onde fez dois anos de missão. Uma missão de presença no meio universitário, para favorecer o conhecimento entre os povos e o encontro de culturas. Finalmente, chegou à Roma para os estudos teológicos e para lá vai voltar para se doutorar em Direito Canônico.

Nascido no Pará, criado em Manaus, é um filho da nossa Igreja. Na sua família e nas nossas comunidades foi iniciado à vida cristã. Aqui conheceu os seus futuros confrades e aprofundou a sua vocação. Só Deus e ele sabem os caminhos de discernimento que percorreu até chegar ao sim definitivo. Durante a celebração a emoção tomou conta de todos. Cada um tinha seus motivos, também o presidente da celebração. No momento da imposição das mãos, quando todos os concelebrantes impõem as mãos sobre o ordinando, passaram diante de mim como um relâmpago os jesuítas que fizeram parte da minha história e que ainda hoje são referência para a minha vida pessoal e ministério sacerdotal e episcopal. Na minha juventude tive o privilégio de tê-los como mestres.

Dom Sergio Eduardo Castriani

Todos me marcaram mas sobretudo dois, Pe. Mendes que depois a Igreja do Brasil ficou conhecendo como Dom Luciano e Padre Mc´Dowel. O primeiro, já falecido, com certeza é nosso intercessor junto ao Pai, o segundo ainda dá aulas. Deles aprendi que opção pelos pobres e por uma vida austera, caridade pastoral, alegria e jovialidade, comunhão fraterna, combinam e dependem de seriedade intelectual, vida espiritual intensa, obediência aos superiores e castidade assumida de forma positiva. Quando penso em jesuítas penso em homens assim. Em dom Luciano a santidade era uma coisa natural. Viveu para servir. Homem íntegro e coerente tinha sempre uma atenção especial para os pobres. Com uma capacidade intelectual fora do comum valorizava tudo que era dito pelos seus interlocutores.

Mas jesuítas também o foram José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. E como não lembrar de Inácio de Loyola e Francisco Xavier. Jesuítas são personagens de filmes e de romances, e suas vidas alimentam a imaginação de adeptos de teorias conspiratórias que os veem por trás de eventos históricos. E a nossa geração está vendo um papa jesuíta. Ele pediu aos seus confrades que sejam no mundo homens de misericórdia, paz e alegria. Na minha homilia disse que o presbítero é o homem do perdão e da reconciliação com Deus, promove a paz formando comunidades de vida e transborda de alegria trazendo esperança ao mundo. O Bruno não escolheu um caminho fácil, mas o seu olhar sereno e a emoção no momento em que se tornava um sacerdote dão a dimensão do seu desejo de viver com Jesus para a maior glória de Deus.


Texto de Dom Sergio Eduardo Castriani, Arcebispo Metropolitano de Manaus, originalmente publicado no jornal Amazonas em Tempo

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