Ir. Douglas Turri, SJ
Quando Santo Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros deram vida à Fórmula do Instituto da Companhia de Jesus, não estavam apenas fundando uma ordem religiosa; estavam acendendo a chama de um caminho espiritual profundo e transformador. Um caminho repleto de escuta orante, paixão missionária e serviço à Cristo e sua Igreja. Essa experiência se deu numa universidade, lugar das ideias e opiniões. Os primeiros jesuítas conseguiram superar suas próprias diferenças de cultura e nações, para, no meio de tantas vozes, conseguir reconhecer a Cristo que chama.
A jornada de um jesuíta começa no dia em que entra no Noviciado. Depois dos Primeiros Votos, que inclui um compromisso perpétuo de castidade, pobreza e obediência. O Jesuíta se reconhece alistado sob a bandeira da Cruz, “para servir unicamente ao Senhor e à Igreja, sua Esposa, sob a orientação do Romano Pontífice, Vigário de Cristo na terra”. Contudo, como primeiros votos, ele ainda promete entrar plenamente na Companhia de Jesus, para nela viver perpetuamente.
Os primeiros votos são apenas o início de um longo percurso de vivências, discernimento e experiências. Tornar-se jesuíta não é um ato pontual e acabado, mas um processo contínuo, que demanda tempo, entrega e escuta atenta — tanto daquele que se sente chamado quanto da comunidade que o acompanha, para que compreenda tudo conforme as Constituições, que, segundo Inácio de Loyola, “é um caminho determinado para ir até Ele” — ou seja, um caminho rumo a Deus.
Nas cinco primeiras partes das Constituições da Companhia de Jesus descreve-se com atenção o caminho formativo do jesuíta. Esse percurso começa com o exame daqueles que pedem ingresso e entram no tempo de “primeira provação”. Depois, seguem-se os anos de formação e amadurecimento, tempo de estudos e experiências — tradicionalmente chamados de “segunda provação” — até alcançar a etapa final, a “terceira provação”, que acontece após alguns anos de missão, depois da ordenação no caso dos padres ou, no caso dos irmãos, no término dos estudos especiais.
É após essa longa experiência formativa, iluminada pelos Exercícios Espirituais e pela forma peculiar de nossa vocação, que abraçamos um projeto como Irmão ou Sacerdote, pois, segundo Inácio de Loyola, o caminho é “segundo a graça que lhe foi concedida pelo Espírito Santo”. Depois de alguns anos, a Companhia convida finalmente o jesuíta para concluir sua formação e cumprir o voto que fez no Noviciado de entrar na Companhia – Últimos Votos. Nesse instante, depois de ouvir alguns membros da Província, com o discernimento do Superior Geral, o jesuíta é convidado a dar um passo decisivo pelos votos. Um salto que transcende o individual e apela a sua liberdade, como resultado natural e definitivo da graça original do batismo.
Nos Primeiros Votos, o jesuíta promete entrar na Companhia. Nos últimos Votos é a Companhia quem o convida para dar seu “sim” definitivo. Esses votos representam a incorporação plena a seu Corpo Apostólico. É uma confirmação solene da promessa já feita, um momento de reafirmação do compromisso com os três votos evangélicos — pobreza, castidade e obediência — agora com uma maturidade e profundidade maiores. Para alguns, soma-se ainda o Quarto Voto que nos identifica, pois inclui uma obediência especial ao Papa em relação a disponibilidade para a missão da Igreja.
Com os Últimos Votos o jesuíta torna-se parte definitiva do Corpo Apostólico da Companhia de Jesus, desejando sinceramente o que é verdadeiramente melhor para “a Maior Glória de Deus”. É uma abandonar-se nas mãos do Senhor de forma pessoal e comunitária. Unidos como membros de um mesmo corpo, em comunhão com o Senhor que chama, reafirmamos nosso desejo de seguir servindo a missão de Cristo no mundo. A forma peculiar de nossa vocação se atualiza em missão, nas paróquias, casas de Exercícios, Colégios, Centros Sociais e Universidades.
Um jesuíta sabe quem é quando a Companhia o chama para ir a missão. O jesuíta sabe o que o faz quando é chamado a realizar a missão com dedicação e excelência. O que sustenta nossa entrega é a “lei interior do amor e da caridade, gravada nos corações” ao longo de toda essa jornada. É essa força silenciosa, vibrante e fiel que impulsiona o jesuíta a seguir em frente com humildade, generosidade e criatividade — sempre a serviço da reconciliação e da construção de um mundo mais justo e fraterno.