Hoje fazemos memória a vida de São João Berchmans, um estudante jesuíta que morreu jovem, aos 22 anos.

Ele nasceu na região de Flandes, na Bélgica, em 13 de março de 1599. Foi o filho primogênito entre cinco irmãos. Seu pai era obreiro, sapateiro, curtidor de couros e tinha uma oficina. Sua mãe, Isabel Van den Hove, era a filha do prefeito. João Berchmans, o mestre curtidor de peles, e sua esposa formavam um casal jovem e trabalhador. Aos sete anos, o pequeno Berchmans foi enviado à escola primária, que funcionava no local do mercado coberto. João ia de sua casa à escola e dali à Igreja de São Sulpício, onde aprendeu a ajudar na missa. O contato com os padres e com a liturgia tornou-se coisa espontânea em sua vida, como também a devoção à Virgem Maria.

Aos 10 anos, João era um garoto que já mostrava acerto em suas apreciações e firmeza em suas decisões. Como na piora da saúde de sua mãe, sobretudo a partir de 1609, quando uma doença a reteve presa a uma cadeira, paralítica pelo resto da vida. Era ele, por ser o filho mais velho, que colaborava em tudo, especialmente no cuidado dos seus quatro irmãos menores. Depois de concluir a escola primária, João começou os estudos secundários no mesmo local, estudos que já incluíam latim e humanidades. Com outros três ou quatro meninos, vivia na casa paroquial, ajudava na Igreja, fazia seus deveres escolares e, sobretudo, recebia a orientação do sacerdote.

Mas João fazia falta na família Berchmans: Dona Isabel continuava paralítica e a situação econômica era grave. Dom João mandou chamá-lo e disse lhe que não poderia pagar seus estudos, então o rapaz revelou ao seu pai que queria continuar estudando para se tornar sacerdote, pegando seu pai de surpresa. Com apoio de duas tias, João conseguiu convencer seu pai de que, com todas as qualidades que tinha, poderia ser mais tarde, como sacerdote, o apoio moral e material da família.

No dia 24 de setembro de 1616, com 17 anos e meio, João Berchmans ingressou no Noviciado dos Jesuítas em Malinas. O Noviciado, mais que um período de estudo, é uma escola de formação. O jovem flamengo já possuía muito definidos os traços humanos e espirituais de sua personalidade. Nunca realizou façanhas extras, fazia simplesmente seu dever diário da melhor maneira possível. “Se não me torno santo enquanto sou jovem, nunca chegarei a sê-lo” – dizia. E ele o conseguiu: pelo caminho tão fácil e tão difícil ao mesmo tempo, de ser “fiel nas coisas pequenas”, de “fazer cada coisa como se fosse a última de minha vida”. João aprendeu de seu mestre de Noviços, o Pe. Antônio Sucquet, SJ, este espírito de dar profundidade à vida rotineira. Poucos meses depois, sua mãe veio a falecer.

Em 25 de setembro de 1618, João Berchmans faz seus votos de pobreza, castidade e obediência. A fórmula destes votos, escrita em latim por sua própria mão, está conservada até hoje e mostra caligrafia clara e decidida.

Alguma coisa parecia estar acontecendo com a saúde de João. O primeiro alarme deu-se em dezembro de 1620. Começou a ter febres e nos meses seguintes escreveu cerca de quarenta vezes em seus apontamentos que colocava sua saúde nas mãos do Senhor. Entre esses escritos anotou uma frase heroica, resumo de toda sua generosa entrega: “Prefiro morrer do que, para cuidar da saúde, ter que renunciar ao ideal de santidade ao qual Deus me chamou”.

Já nos seus últimos dias, Berchmans pediu que lhe trouxessem três objetos que para ele significavam tudo: o Crucifixo que a Companhia lhe tinha dado no dia de seus votos, o livrinho das Regras da Companhia, e o rosário de Nossa Senhora. Segurando-os nas mãos, disse: “Aqui estão meus três amores: com eles morrerei contente”. E então faleceu em 13 de agosto de 1621, às oito da manhã, quando nos andares inferiores soava a campainha para as aulas. O corpo de João Berchmans repousa num altar da Igreja de Santo Inácio, que foi construída poucos anos depois, ao lado do Colégio Romano. Em frente do altar de Berchmans está o altar de São Luís Gonzaga, seu modelo.

João foi canonizado em 1888 pelo Papa Leão XIII, junto com São Pedro Claver, o servidor dos escravos, e de Santo Afonso Rodrigues, um humilde irmão jesuíta. Ao declará-lo santo, o Papa disse: “No jovem João Berchmans canonizamos as Regras da Companhia de Jesus”. Foi proclamado padroeiro da juventude da Bélgica.

São João Berchmans, rogai por nós e pelas juventudes!

 

Momento de Oração

Um dos grandes desejos de João Berchmans era a santidade.

Faz-se importante estabelecer a diferença radical entre perfeição e santidade. P. José Antonio Netto, em seu livro “Perfeição ou Santidade e outros textos espirituais”, nos ajuda a entender melhor estes conceitos a fim de melhor servirmos a Deus. Quanto à perfeição, ele nos afirma que “a busca da perfeição é um projeto do homem, um ideal humano. Trata-se de um projeto fechado dentro do próprio eu orgulhoso, que exige o máximo de si, o máximo de esforço para não falhar em ponto algum, uma vez que o perfeccionista está convencido de que somente será amado por Deus e pelos demais se for perfeito. Nesse esforço ele tende a contar exclusivamente consigo mesmo, prescindindo de Deus e dos outros (OLIVEIRA, 2000, p. 15)”.

Já a santidade é, “[…] dada por Deus e me é dada agora, imediatamente: sou amado por Deus, sem condições, agora, com todas as minhas imperfeições, pecados, fraquezas, debilidades, limitações, traumas…. e esse amor de Deus sem condições, me torna capaz de amar agora, e fazer o bem agora, de servir agora, de ser santo agora, apesar de minhas imperfeições e fraquezas. A grande ilusão é pensar que só poderemos amar, servir, fazer o bem quando formos perfeitos (OLIVEIRA, 2000, p. 18)”.

– Pedido de Graça: “Senhor, dai-me a graça de ser santo”
– Texto bíblico: Lc 7, 36 – 50
– Provocações:

  • Quais são os meus pensamentos e sentimentos em relação à santidade? Como a vejo?
  • Em meu caminho vocacional, desejo ser santo ou perfeito?
  • Qual é a imagem que tenho de Deus? Juiz todo-poderoso ou Pai amoroso?

 

Compartilhar.
Deixe uma resposta