A Espiritualidade que Caminha: Maria e os Companheiros de Jesus

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Ir. Douglas Turri, SJ 

A fascinante história da Companhia de Jesus começa com um caminho — um percurso que é tanto geográfico, traçado por passos em busca de um destino, quanto espiritual, vivido com um coração aberto à escuta da voz divina. Inácio de Loyola, conhecido como “o peregrino”, e seus primeiros companheiros, movidos por um ardente desejo de servir a Cristo, veem-se impedidos de realizar o sonho de viajar de Veneza à Terra Santa, em virtude das guerras que assolavam a região. O que poderia parecer o fim de uma jornada transforma-se em uma nova oportunidade, pois Deus, em sua infinita sabedoria, continua a guiá-los. 

Decididos a não se deixar abater, eles se dividem em três grupos e partem rumo a Roma, prontos para se colocar à disposição do Papa. Inácio, em sua Autobiografia, descreve essa travessia como um momento em que foi “especialmente visitado por Deus”. Pouco antes de chegarem à Cidade Eterna, eles se detêm na capela de La Storta para um momento de oração. Ali, Inácio experimenta uma transformação profunda, uma revelação que muda o curso de sua vida. Ele vê claramente que Deus Pai o coloca ao lado de Cristo, seu Filho, de tal maneira que a dúvida nunca mais teria espaço em seu coração (Aut. 96). 

Em Roma, uma devoção especial os aguarda diante da imagem de Nossa Senhora da Estrada, que reside em uma pequena capela ao pé do Capitólio. Diante daquela imagem, a certeza de que não estão sozinhos se fortalece, e Maria se torna uma verdadeira companheira de caminhada. Assim, ela assume o papel de padroeira da Companhia de Jesus, cuja missão principal é a evangelização por todas as estradas do mundo. 

Nossa Senhora da Estrada torna-se, portanto, um poderoso símbolo de uma espiritualidade que se movimenta. Ela representa a certeza de que Maria nos acompanha — não apenas como intercessora, mas como guia, suporte e consolo. Em sua presença suave, sentimos que ela nos conduz ao encontro de Jesus, o verdadeiro Caminho. Seu olhar acolhedor e seu silêncio firme nos asseguram que, mesmo diante das incertezas, da dor e da dúvida, Ele está ao nosso lado. 

Ser devoto de Nossa Senhora da Estrada é assumir uma identidade peregrina: não estamos estacionados, não temos todas as respostas e, muitas vezes, o destino final nos escapa. Mas seguimos em frente. Confiamos. E fazemos isso juntos, em companhia. 

Essa devoção nos compromete a agir. Como discípulos de Jesus, guiados por Maria, não caminhamos apenas por caminhar. Temos uma direção clara: desejamos transformar o mundo de acordo com os valores do Reino, lutar pela justiça, promover a paz e testemunhar a fé com coragem e alegria. 

E, quando tudo parecer incerto, quando os sonhos se esvaírem — assim como aconteceu com Inácio e seus companheiros ao não poderem seguir à Terra Santa —, lembremo-nos de que Deus continua a nos conduzir, muitas vezes por caminhos inesperados. E Maria, Nossa Senhora da Estrada, permanece conosco, apontando para Cristo e sussurrando, em silêncio: “Tu nunca estás só.”

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