“Defender o território-terra e não defender o território-corpo das mulheres é uma incoerência política” (Lorena Cabnal). 

Para compreender a luta das mulheres do campo na Amazônia deve-se considerar nossa experiência colonial, periférica, com modelo econômico que tem suas bases no genocídio, saques, invasões de territórios e corpos, e as violências de gênero que recaem sobre as mulheres. Assim, Ser Mulher, ou melhor, mulheres, já que não existe um “ser mulher” universal, indígenas, campesinas, extrativistas, ribeirinhas, é ser atravessada pela colonização, racismo, somado a violência patriarcal. 

 Nesse sentido, existe uma íntima relação entre a luta das mulheres, a defesa dos territórios e da vida, frente a projetos neoextrativista. Essa defesa envolve o território –terra e território – corpo, pois ao se levantar contra esses empreendimentos são ameaçadas, intimidadas, criminalizadas. Nessas áreas junto ao “desenvolvimento” vem a prostituição, alcoolismo, tráfico de drogas, além da violação dos direitos e ameaças aos seus modos de vida, nos ajuda a entender o aumento dos números de violência a mulheres no campo na Amazônia devido aos conflitos pela terra, água e territorial.

Ao mesmo tempo, cresce o protagonismo de mulheres a partir de suas auto-organizações para o enfretamento a retirada de direito. Torna-se necessário visibilizar elas e suas lutas: Maria do Socorro, Ludmila Machado e Maria Selestina que denunciam as contaminações dos mananciais pela mineração em Barcarena/PA, as irmãs Cardoso Vivia, Vanuza e Francy, combatem ações de subestação de energia elétrica e ferrovia sobre seu território quilombola. Vale lembrar, as mulheres indígenas como Tuíra Kayapó símbolo da luta contra barragens no município de Altamira/Pa, Kokoti Xikrin primeira mulher cacica na nação Xikrin representa a luta por espaço de decisões nas aldeias e Alessandra Korap liderança do povo Munduruku vem denunciando pressões de grandes empreendimentos logísticos e hidrelétricos projetados para a bacia do Tapajós em Itaituba/Pa. 

Mesmo com todo histórico de violação aos povos do campo na Amazônia, do lado de cá tem emergido resistências das mulheres que lutam para reivindicar seus direitos em defesa dos territórios e seus corpos contra todo esse sistema de opressão. Portanto, para que possamos construir um mundo possível para todos e todas, rompendo dominações capitalista, colonial, racista e patriarcal, a partir desse chão que é Amazônia e inspirados na luta das mulheres é necessário romper com a mercantilização da vida, da terra, da natureza e dos corpos. Devemos descolonizar, despatriarcalizar e descapitalizar o território-corpo e território-terra

Mulheres terra, mulheres águas,
Mulheres biomas, mulheres espiritualidade,
Mulheres árvores, mulheres raiz,
Mulheres sementes e não somente mulheres,
Guerreiras da Ancestralidade.

 

Texto: Ingridy Ferreira – Geógrafa Mestra em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável – UFPA – Belém – PA


 O Pará foi o estado com maior número de violência contra mulheres em conflitos no campo 21 no total segundo dados da CPT de 2018.

 Manifesto das primeiras brasileiras: As originárias da terra – a mãe do Brasil é indígena. Disponível em: https://apiboficial.org/2021/03/05/manifesto-das-primeiras-brasileiras/. 05 de março de 2021.

 

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