“O verdadeiro amante ama em toda parte e sempre se recorda da amada; seria coisa difícil se só nos lugares tranquilos se pudesse fazer oração” (Santa Teresa)
De sua experiência, Santo Inácio retirou uma lição: não é o tempo consagrado à oração que é decisivo, mas a “atitude de coração” daquela pessoa que pretende rezar. Ele relativiza o aspecto do tempo consumido na oração, para colocar o acento sobre a disponibilidade do coração (atitude interior). Antes de tudo, Inácio coloca a liberdade ou o grau de desapego que lhe permitirá “encontrar Deus a todo momento” para cumprir a Sua Vontade. Em resposta ao estudante jesuíta Antonio Brandão, Santo Inácio escreve: “mas pode exercitar-se em buscar a presença de Nosso Senhor em todas as ações, como é conversar com alguém, ir e vir, divertir-se, escutar, entender, enfim, tudo o que fizermos; pois verdadeiramente sua Divina Majestade está em toda parte por presença, poder e essência. Esta maneira de meditar, achando Deus em todas as coisas, é mais fácil do que levantar-nos às realidades divinas mais abstratas, pois nossa presença diante delas exige esforço. Este excelente exercício nos dispõe para grandes visitas do Senhor, mesmo no decurso de curta oração”.
A originalidade de Inácio permite superar de uma vez a dicotomia entre ação e oração. Para ele, a própria ação é oração na medida em que ela é o lugar do encontro com Deus. “Convém, portanto, no próprio coração da atividade, voltar frequentemente à oração e realizar um movimento circular que vai da oração à ação, e desta à oração” (P. Nadal). Mais que um exercício, a oração na vida ou oração apostólica é, para Santo Inácio, uma maneira de viver.
Oração e ação unificadas
Tal maneira de rezar – encontrar Deus em todas as coisas – é um dom de Deus. Cada um recebe esse dom na medida que Deus lhe concede, e que ele coopera com toda humildade, simplicidade, pureza de coração. Logo, tal oração não se improvisa. Ela é resultado de um longo aprendizado, que se inscreve no interior de uma vida espiritual bem conduzida.
A pessoa inaciana reza, às vezes utilizando a meditação, que é o exercício da racionalidade, da vontade, da memória, outras vezes reza utilizando a contemplação que é o exercício da sensibilidade, do intuitivo, do sensível. A contemplação chega ao seu cume na aplicação de sentidos, onde se exercita toda a sensibilidade. É aqui que Inácio dá à sensibilidade um papel que nunca tinha sido dado até então. A oração da pessoa inaciana envolve a totalidade das dimensões humanas: corpo, mente, afetividade, coração, sempre num processo de integração e harmonização.
A pessoa inaciana está habituada a uma oração contextualizada. O esquema dos Exercícios Espirituais serve como o trilho por onde se desliza sua experiência. A rota dos Exercícios é a combinação da história da Salvação, apresentada à maneira de Inácio, em articulação com a história da própria vida: a biografia espiritual. Isto se converte no caminho básico da condução da oração. Tudo isto nos indica o talante da oração inaciana: é uma oração que torna a pessoa contemplativa na ação, e numa ação que terá repercussão política, porque quer mudar o rosto do mundo.
Tudo é mobilizado para a experiência de encontro com o Senhor
Conclui-se que, para o/a inaciano/a, os Exercícios, além de ser uma escola de oração, são sobretudo, escola de vida. Escola que pode ajudar a inverter este fato: “assim como nos comportamos na vida, nos comportamos também na oração”, e passar, depois de seu aprendizado, para esta realidade: “assim como nos comportamos na oração, podemos também nos comportar na vida”. Ou seja, se na oração aprendemos a ter um novo padrão de conduta, é possível, com a força da graça, começar a ser uma pessoa nova na vida. Se levarmos em conta que a experiência profunda de encontro com Deus vivida nos Exercícios, modifica também o inconsciente, o exercitante se torna realmente uma pessoa nova.
Texto Bíblico Mt 7,1-11 / Lc 18,9-14
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