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Não tenhais medo
Querido e Querida jovem. Chegamos ao Sábado Santo, também conhecido como Vigília Pascal. Vigília, momento de espera, de expectativa, de esperança que envolve a todos os cristãos. Fazemos memória da noite em que, depois da vivência dolorosa da paixão de Jesus, esperamos vigilantes a alegria advinda de sua Ressurreição. As igrejas estão despidas. O altar está despojado. O sacrário está aberto e vazio. “É o dia da ausência. Dia de repouso, de solidão. O próprio Cristo está calado. É o mistério do Sábado Santo em que o Cristo colocado no túmulo manifesta o grande descanso sabático de Deus depois da realização da salvação dos homens e das mulheres, que coloca em paz o universo inteiro.” (CIC) Na liturgia de hoje celebramos o restabelecimento da amizade de Deus com a humanidade, a salvação dos filhos e filhas de Deus prometida e oferecida por meio da Ressurreição do Filho de Deus. Relendo toda a história desta relação amorosa entre Deus e os homens, desde a criação até a recriação pela Ressurreição, podemos nos alegrar pelo modo como Deus nos tratou e nos trata, nos ama salvando e nos salva amando, a cada um de maneira toda particular. Que a alegria e a paz sejam frutos que possamos colher neste momento orante e estarmos unidos como cristãos no mundo inteiro, rezando sempre uns pelos outros.
Texto Bíblico | Mateus 28, 1-10
Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. Os guardas ficaram com tanto medo do anjo, que tremeram, e ficaram como mortos. Então o anjo disse às mulheres: ‘Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar onde ele estava. Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que vai à vossa frente para a Galiléia. Lá vós o vereis. É o que eu tenho a dizer-vos.’ As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria, para dar a notícia aos discípulos. De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: ‘Alegrai-vos!’ As mulheres aproximaram-se, e prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés. Então Jesus disse a elas: ‘Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão.’
Reflexão | Papa Francisco (Sábado Santo 2019)
As mulheres vão ao túmulo levando os aromas, mas também elas temem que a viagem seja inútil, porque uma grande pedra bloqueia a entrada do sepulcro. O caminho daquelas mulheres é também o nosso caminho; lembra o caminho da salvação, que voltamos a percorrer nesta noite. Nele, parece que tudo se vai estilhaçar contra uma pedra […]. O mesmo se passa na história da Igreja e na história de cada um de nós: parece que os nossos passos dados nunca levam à meta. E assim pode insinuar-se a ideia de que a frustração da esperança seja a obscura lei da vida.
Hoje, porém, descobrimos que o nosso caminho não é feito em vão, não esbarra contra uma pedra tumular. Que há uma frase incita as mulheres e muda a história: “Por que buscais aquele que está vivo entre os mortos?” (Lc 24, 5); porque pensamos que tudo seja inútil, que ninguém possa remover as nossas pedras? Por que cedemos à resignação ou ao fracasso? A Páscoa, irmãos e irmãs, é a festa da remoção das pedras. Sim, Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expectativas: a morte, o pecado, o medo. A páscoa é a festa da vida nova. A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobrimos a “pedra viva” (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado. Como Igreja, estamos fundados sobre Cristo e, mesmo quando desfalecemos, mesmo quando somos tentados a julgar tudo a partir dos nossos fracassos, Cristo vem fazer novas todas as coisas, Ele vem inverter as nossas decepções e percepções equivocadas. Nesta noite santa, cada um é chamado a encontrar, Naquele que está vivo, o Cristo que remove do coração as pedras mais pesadas. Perguntemo-nos, antes de mais nada: Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra? O que me impede de viver e de amar? O que me atrapalha e tira toda minha beleza?
Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Quando se dá espaço à ideia de que tudo corre mal e que sempre vai de mal a pior, resignados, chegamos a crer que a morte seja mais forte do que a vida e tornamo-nos cínicos e sarcásticos, portadores dum desânimo doentio. Pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, o sepulcro da esperança. Lamentando-nos da vida, tornamos a vida dependente das lamentações e espiritualmente doente. Insinua-se, assim, uma espécie de psicologia do sepulcro: tudo termina ali, sem esperança de sair vivo. Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa, desta noite santa: Porque buscais Aquele que está vivo dentre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca nós O encontraremos: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Irmãos e irmãs, não sepultemos a esperança! […] Cristo está vivo!
Nesta noite santa, Deus pede-nos para olharmos a vida como Ele a contempla, em cada um de nós sempre vê um núcleo de beleza. No pecado, vê filhos carecidos de ser levantados; na morte, irmãos carecidos de ressuscitar; na desolação, corações carecidos de consolação. Por isso, não tenhais medo! O Senhor ama esta tua vida, mesmo quando tu tens medo de a olhar de frente e tomar a sério. Na Páscoa, nesta noite santa, mostra-te quanto você a ama. A Ama a ponto de a atravessar toda, experimentar a angústia, o abandono, a morte e a mansão dos mortos para de lá sairmos vitoriosos e dizermos: Não estamos sozinhos, Cristo ressuscitado está conosco, Ele está vivo, é Ele que dá a vida. Jesus é especialista em transformar as nossas mortes em vida, os nossos lamentos em dança (cf. Sal 30, 12). Com Ele, podemos realizar também nós a Páscoa, isto é, a passagem: passagem do fechamento à comunhão, da desolação ao conforto, do medo à confiança. Não fiquemos a olhar para o chão amedrontados, fixemos nosso olhar a Jesus ressuscitado: o seu olhar infunde-nos esperança, porque nos diz que somos sempre amados e que, não obstante tudo o que possamos combinar, o amor d’Ele não muda. Esta é a certeza não negociável da vida: amor de Cristo não muda. Perguntemo-nos: Na vida, para onde eu olho? Contemplo ambientes sepulcrais ou procuro Aquele que está vivo? Como é reconfortante descobrir, reconhecer a presença de Jesus ressuscitado em tantas pessoas, em tantos homens e mulheres que fazem bem. Descobrir a ação do ressuscitado em você que está me ouvindo. Sim, o Cristo vive em você e Ele é capaz de te devolver a alegria, a esperança, o sentido da vida. Alegrai-vos! O Cristo está vivo!
Pontos para Oração
Relendo minha história, iluminada pelo Cristo Ressuscitado, nos momentos de dor e sofrimentos vividos, qual é minha postura diante da vida? Encontro-me neste silêncio do sábado santo como ausência ou numa espera pelo “desconhecido” que surge?
Onde é nossa Galileia? Onde posso encontrar o Cristo Ressuscitado?
Para onde Ele me conduz?
No silêncio deste dia, como tenho assumido a vida nova que vem do Cristo Ressuscitado?
Oração de Santo Inácio
Tomai, Senhor, e recebei
toda a minha liberdade,
a minha memória também
o meu entendimento e toda a minha vontade.
Tudo o que tenho e possuo
Vós me destes com amor:
Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo;
disponde deles, Senhor, segundo a Vossa vontade.
Dai-me somente o vosso amor, a vossa graça.
Isto me basta, nada mais quero pedir.