Liderança Inaciana pra quê? Pra quem?

“Liderança é a arte de persuadir as pessoas para que façam o que já deveria ter sido feito” (Harry Truman)

Atualmente assistimos a uma das mais profundas crises sociais. Por trás desta crise se oculta, entre outras causas, a falta de líderes competentes, responsáveis, conscientes do bem comum, abertos ao futuro, com um projeto mobilizador. Normalmente entendemos por liderança a atitude de alguém que possui um carisma especial, convicto de determinada ideia ou projeto, com qualidades extraordinárias, distinguindo-se por influenciar mediante seus atos e palavras, sendo capaz de suscitar simpatizantes ou colaboradores.

Com este perfil, a pessoa líder é uma raridade no cenário social. Santo Inácio, nos seus escritos, enfoca a liderança sob um prisma diferente: ele não nos diz muito sobre o que fazem os líderes, porém, ele tem muito a nos dizer sobre quem são os líderes, como vivem e como chegam a ser líderes. Ele nos revela um modelo e uma concepção de liderança que vão além daquilo que normalmente entendemos: não equipara a liderança a uma simples técnica e táticas e nem restringe a ação do líder a momentos fortes e isolados. Para ele, as oportunidades para o exercício de liderança não acontecem só nos momentos extraordinários, de forte tensão, mas também nas atividades cotidianas da vida.

Todos somos líderes e exercemos a liderança o tempo todo

Embora muitos tenham querido definir a liderança como uma capacidade inata, devemos dizer, no entanto, que se trata de uma capacidade que tem algo de natural, mas que igualmente pode ser despertado e desenvolvido.

A concepção inaciana de que toda pessoa possui um potencial de liderança não desenvolvido contradiz abertamente o modelo hierárquico de líder, presente nas instituições sociais, eclesiais. Contrariando a afirmação de Harry Truman, a missão da Companhia de Jesus não é persuadir as pessoas, mas dotá-las de instrumentos para discernir, por si mesmas, o que devem fazer nas circunstâncias habituais da vida. Nesse sentido, ser líder não é privilégio reservado a uns poucos, mas um dom presente em todos e todas e que se expressa no serviço e no desejo de trabalhar pela causa do Reino, neste mundo.

De acordo com esta convicção, cada pessoa pode encontrar na espiritualidade inaciana, a possibilidade de:

– reconhecer-se e amar-se como pessoa, única, original, criada continuamente por Deus
– desenvolver-se como pessoa autônoma, criativa, competente, intuitiva, em todos os campos da vida
– aprender a ousar no cotidiano
– potencializar as qualidades e talentos para uma ação sempre nova e eficaz
– ter a convicção de estar participando da construção do Reino, tendo como critério os valores do Evangelho

A visão inaciana de ser humano não considera como líderes unicamente quem exerce o poder, ou cumpre uma função de mando. Ela descarta, também, a teoria do “único grande homem-mulher” e se concentra nos 99% dos potenciais líderes. Todo ser humano é um líder e todo o tempo está exercendo esse dom, às vezes de maneira imediata, dramática e óbvia, mas, normalmente, de uma maneira sutil, difícil de medir, mas nem por isso menos real.

Um líder inaciano aproveita todas as oportunidades

Sempre enxerga possibilidades para difundir uma ideia, deixar sua marca, causar um impacto e uma mudança. As circunstâncias da vida dão a uns poucos a oportunidade de viver momentos muito decisivos, que transformam uma parcela da realidade. A grande maioria das pessoas não tem essas oportunidades-limite. No entanto, não é a magnitude da oportunidade que define a liderança, mas a qualidade da resposta às oportunidades e desafios cotidianos.

Ninguém pode controlar todas as suas circunstâncias, mas sim a maneira como responde a elas. E isso faz a grande diferença. Num mundo em que nem todos são capazes de grandes façanhas ou de alcançar sucessos, Deus nos deu a capacidade de encontrar a grandeza e o heroísmo nas atividades de cada dia. Temos apenas de ser sábios o bastante para que possamos encontrar o milagre no ritmo da vida.

Texto Bíblico Cl 3,12-17 / Mt 20,20-28 / Mt 25,14-30

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