À luz de Pentecostes, duas cenas bíblicas nos impulsionam a ir mais além, aspirar pelo “magis” e ser homens e mulheres do “vento” (At 2,1-13 e Jo 3,1-21). Somos filhos/as do vento. O vento impetuoso em Pentecostes faz com que todos se sintam cheios de novo alento, de novo sopro de vida. Em outras palavras, sentem-se animados (com alma, espírito).

Todos se enchem de uma força e de um dinamismo jamais experimentado, que faz mover pessoas, corações e mentes. Sentem-se como que envolvidos pelo Espírito, que os permite falar uma linguagem que todos entendam. Tal experiência provoca um movimento que rompe fronteiras e barreiras. Assim, o Espírito faz superar o fundamentalismo, a hipocrisia e a apatia. Não há nada de mágico. Na verdade, as pessoas se deixam mover pelo Espírito, que habita o universo e os corações, e se deixam levar pelo sopro divino.

Quem se deixa mover pelo Espírito é imprevisível e não se deixa enquadrar pelas ideias cristalizadas e nem se fecha em atitudes petrificadas. Quem se deixa conduzir pelo Espírito não se contenta com a superficialidade e a mediocridade: abre espaço para a força do mais. Deseja voar mais alto e mergulhar o mais profundo, busca novidades, é dinâmico, muda de paradigmas e desfruta do presente, sem se desconectar do passado e do futuro. Quem assim o faz renasce sempre, a mudança é seu hábito de vida.

O vendaval varre o medo  e a desconfiança

O poeta Fernando Pessoa descreve este processo vital: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. O Espírito é sopro, hálito, vento que gera vida, que move, impulsiona e sopra onde quer. De onde vem e para onde vai não é fácil dizer. No entanto, está presente, se faz sentir, age. Sopra, despoja, subverte, separa, varre, empurra, levanta, expande, toca de leve. Aparecem e permanecem os sinais da sua passagem.

É um vento leve, refrescante, novo, penetrante, inovador, cambiante; um sopro sutil, interior, profundo; um sopro que não pode ser detido, sufocado. Ao mesmo tempo é um vento impetuoso, desafiador e perigoso, pois pode conduzir a direções inimagináveis. Envolve, mas não invade. Interroga, mas não condena. Arrasta, mas não constrange.

Oferece, mas não impõe. Presente, vital, essencial, livre, libertador. Pode ser acolhido e tudo torna-se novo. Por isso, quem se deixa mover por Ele sente sua força e reconhece sua ação. E, sem perder o chão da realidade e da história, aspira por algo mais alto, mais profundo, mais bonito e transcendente.

Nosso tempo pede que sejamos homens e mulheres do vento, que ajudam o mundo a respirar e sentir a vida palpitar, que buscam, na terra, viver o sonho do Reino, que alimentam as chamas da esperança nos corações sonhadores; que se reconhecem humildes ante a misericórdia e o infinito de Deus, que acreditam na força dos pequenos e dos gestos simples, que vibram com as conquistas justas e que se compadecem da miséria do humano, que cuidam de tudo e de todos com ternura e carinho.

Homens e mulheres do vento somos todos nós, quando nos deixamos mover de acordo com os movimento do coração de Deus e da paixão pela humanidade. Movidos pelo vento, pelo Espírito Santo de Deus, acreditamos e construímos mediações libertadoras que promovem, incentivam e enobrecem o espírito humano. Preferimos a proximidade à distância, o dinamismo à inércia.

É o Sopro que nos faz viver, e viver em plenitude

O Espírito é o sopro que vivifica, anima, restaura e congrega. Pela linguagem do amor, acende a luz da paixão e permite desenvolver os dons da alegria, do entusiasmo, da compaixão, do cuidado, da esperança e da fé inabalável. Tais atitudes construtivas não são obra nossa, mas dom e fruto, isto é, algo de agradável, de fascinante, de belo, de alegre, de espontâneo, de saboroso como um fruto. Elas nascem da árvore do Espírito. Nós as vivemos, mas é o Espírito que as desperta em nós, pois elas estão presentes como reservas de humanidade em cada um de nós.

Estas atitudes construtivas não são patrimônio de alguns eleitos extraordinários, elas fazem parte da vida de cada dia e que contrastam com uma moral puramente limitadora ou impositiva. Trata-se de hábito de vida fecundo, criativo, propositivo, que constrói uma comunidade cordial, calorosa, empolgante. Como filhos e filhas do Vento, basta deixar-nos envolver, escutar o sopro daquela voz que habita a dimensão mais profunda da vida e que se aninha nas cavidades mais secretas de nossa existência. Não se trata de fazer ou de realizar, mas de deixar que o Dom traga o seu fruto. É algo de gratuito, de belo, de graça, de desejável, de restaurador.

Texto Bíblico: At 2, 1-13 / Jo 3, 1-21

 

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