“Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos  ouviram, nem o coração humano imaginou” (Is 64,4)

A característica mais notável da vida interior é a mudança incessante que aí ocorre, o fluxo contínuo de percepções, intuições, pensamentos e sentimentos. Existe aí uma força que se revela na vida das pessoas, um “élan vital” que é responsável pela criatividade contínua da vida.

O interior é, em parte, um armazém de eventos e experiências do passado e, ao mesmo tempo, está cheio de raízes de ideias e orientações para o futuro. Dele podem surgir pensamentos inteiramente novos, ideias originais e criadoras, inspirações e intuições que nascem de súbito, revelações, experiências místicas. Pode estimular grandes empreendimentos, personificar um espírito de iniciativa, proporcionar à pessoa um poder de renovação, de coragem, de grande profundidade espiritual.

Uma pessoa integrada é certamente uma pessoa mais voltada para seus conteúdos interiores, uma pessoa que procura, de tempo em tempo, a solidão e encontra dentro de si intuições, critérios, metas e uma profunda sabedoria. A sua solidão é propositalmente procurada, é o meio preferido para se sintonizar com seus conteúdos interiores que surgem espontaneamente de dentro de si. Para chegar a esse centro interior e entrar em contato com o mistério vivo de nosso ser, os Exercícios Espirituais nos oferecem um caminho: o silêncio e a oração profunda, que permitem-nos encontrar dentro de nós mesmos uma energia dinâmica capaz de nos impulsionar para um pleno desenvolvimento de todo o nosso ser.

Encontro com sua própria humanidade

Todo o esforço em direção ao silêncio e solidão se baseia na certeza de que o ser humano encontra dentro de si seus critérios, seus valores, as respostas mais apropriadas às suas perguntas mais básicas. Encontra ali o rumo mais adequado em direção ao seu próprio desenvolvimento. Ele encontra dentro de si o modo mais apropriado para realizar o compromisso que tem consigo mesmo de descobrir e realizar o que é genuinamente humano, de identificar-se com a própria humanidade.

À medida que se compromete consigo mesmo, a pessoa encontra um sentido para si, um fundamento para seu compromisso com os outros. Ela se transcende e se dedica em sua própria humanização e dos demais. Uma abertura para o sentido próprio é uma abertura para o transcendente. Um encontro com aquilo que há de mais profundo no indivíduo implica um encontro com o divino.

O divino é a dimensão mais profunda do ser humano

O divino é aquilo que dentro de nós é o mais natural, o mais evidente, o mais humano. É, ao mesmo tempo, aquilo que nos transcende completamente. Sem o divino a pessoa é vazia, sem sentido. O divino é a razão de ser da pessoa, a origem de seu sentido. A experiência de oração é o encontro com o divino que existe em nós, encontro com o fundamento de nosso ser, com a nossa razão de ser. Não é a pessoa que inventa seu sentido, mas ela o encontra em seu próprio interior. Assumir seu sentido é assumir tudo o que lhe é natural.

Realizar-se como humano implica em identificar-se com o divino. Aprendendo a olhar para dentro de nós mesmos, aprenderemos a olhar a realidade exterior de maneira bem diferente. Não apenas no nosso íntimo, mas também no exterior descobriremos a essência das coisas e o segredo íntimo de tudo quanto existe e vive fora de nós.

Texto Bíblico  l Cor 2, 6-l6

 

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