No dia 28 de novembro de 2020, nove jesuítas foram ordenados como diáconos na Paróquia São Francisco Xavier, em Belo Horizonte (MG), pela oração da Igreja e imposição das mãos de Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte.

O momento contou também com a presença do Pe. Mieczyslaw Smyda, SJ, Provincial dos Jesuítas no Brasil, jesuítas padres e irmãos, a comunidade local, amigos e familiares dos jesuítas ordenados. A ordenação diaconal é marcante na vida de um jesuíta, pois é quando ele finaliza seus estudos em teologia e é enviado a viver seu chamado em alguma obra da Companhia de Jesus.

Conversamos com Davi Mendes Caixeta, SJ, que teve seu discernimento e caminhada vocacional ligado ao trabalho junto às juventudes, em especial no Centro MAGIS Anchietanum, e com o Antônio Anderson, SJ e o Marcos Venturini, SJ, que foram destinados a somar esforços em torno das juventudes através do Programa MAGIS Brasil, para ouvirmos como foram seus processos de discernimento e quais suas expectativas junto ao Programa. Confira:

Como conheceu a Companhia de Jesus?

Anderson: Conheci a Companhia de Jesus participando de um encontro arquidiocesano da Pastoral da Juventude. Na ocasião eu estava representando a paróquia a qual pertencia e na qual atuava pastoralmente. Ali encontrei-me com um irmão jesuíta que me convidou para conhecer a Paróquia Santa Luzia, em Porto Velho (RO), atendida pelos jesuítas. Me impactou a simplicidade da casa e a acolhida que os jesuítas que ali viviam me deram. Também ali recebi um livro sobre a vida de Santo Inácio, o que aguçou meu interesse por conhecer melhor os jesuítas e a espiritualidade inaciana.

Davi: Conheci a Companhia de Jesus através da espiritualidade inaciana, mais precisamente dos Exercícios Espirituais para Jovens, promovidos pelo Centro MAGIS Anchietanum. A partir da experiência dos Exercícios, conheci outras atividades, como projeto de vida, voluntariado, espaços de formação. Assim, acredito que o magis esteve presente em minha caminhada, nas provocações por melhor conhecer a pessoa de Jesus, no inquietante desejo de discernir como segui-lo, na busca por cada vez mais me doar ao Reino.

Marcos: Acredito que a Companhia de Jesus e eu nos encontramos na Missão. Minha paróquia de origem (Iconha-ES) é administrada pelos jesuítas desde sua fundação. Ainda adolescente, fui assumindo, como é muito comum em nossa paróquia, serviços na vida da comunidade de fé. Nas formações, experiências de Semana Santa e missões sempre contávamos com a presença de estudantes jesuítas. Trabalhávamos juntos. Com o tempo, fiquei conhecendo quem eram esses jovens, parte da Companhia de Jesus, e fui me identificando com o modo de proceder, com o jeito de colocar-se e situar-se no mundo, colaborando com a missão de Cristo.

 

Quais foram as maiores dúvidas e medos para tomar a decisão de se tornar um jesuíta?

Anderson: Minhas maiores dúvidas e medos antes de tornar-me jesuíta se relacionavam ao futuro. O tempo vai passando e a gente vê nossos amigos se realizando em certas dimensões da vida e, como religiosos, nós renunciamos a elas (família, bens, etc.). Aos poucos fui compreendendo que nossa vida como religiosos não se constrói só com base em renúncias, mas se fundamenta nos valores que assumimos, na disponibilidade para a missão e no serviço aos demais.

Davi: Essa caminhada de vida tem algumas dúvidas, como considerar se a opção por servir ao Reino como jesuíta é vontade de Deus. Diante das provações que surgem no decorrer da vida, muitos questionamentos podem surgir e, de fato, surgiram. Acredito que esses momentos de desafios são importantes ocasiões para amadurecer a eleição em continuar seguindo o Cristo como jesuíta. Isso suscita uma vida de oração e proximidade com a pessoa de Jesus, no sentido de ir confirmando o chamamento a essa vocação e o projeto de vida assumido.

Marcos: A decisão de tornar-me jesuíta é diária, confirmada por minhas palavras e ações cotidianas. Entendo que a espiritualidade inaciana e jesuítica me coloca em uma constante dinâmica de resposta aos apelos do Senhor. Muitas dúvidas e medos permanecem e, também, vão mudando com o passar do tempo. Mesmo assim, sinto que o Senhor me convida a seguir. Os momentos de tomar as grandes decisões são sempre os mais dramáticos, porque sentia, e ainda sinto, minha vida em minhas mãos e era convidado a entregá-la, toda. Acredito que tudo o que somos é acolhido por Deus, se a Ele nos confiarmos, e transformado em oferta para o bem do mundo. Nessa dinâmica, as dúvidas e medos não são capazes de impedir a “oblação de maior estima” (EE 97-98).

 

Quais sentimentos poderia partilhar conosco sobre esse momento de viver sua ordenação diaconal?

Anderson: O que predominou em mim foi a gratidão! A ordenação diaconal é um passo a mais em nossa caminhada formativa como jesuítas. O ministério exercido pelo diácono junto à comunidade eclesial se caracteriza pelo serviço aos pobres, pela diaconia do altar e pelo anúncio da Palavra. Mesmo consciente de minhas fragilidades, não deixo de experimentar o chamado a ser companheiro de Jesus.

Davi: A palavra diácono remete a servir, àquele que serve. Um sentimento que surge, no momento da ordenação diaconal, é justamente a alegria em servir. A provocação de seguir e servir a pessoa de Jesus suscita coragem e uma crescente liberdade diante da vida, das outras pessoas, de Deus, de mim mesmo. Ser diácono me inspira a manter presente o desejo de colaborar com o Reino de Deus, de servir na missão de Jesus, junto com os demais que se colocam como discípulos e discípulas desse mestre, tendo em vista as pessoas mais necessitadas, os empobrecidos, os pequeninos.

Marcos: Nossa ordenação diaconal foi um convite a escutar a Palavra de Deus, a servir generosamente, enchendo as talhas até a borda (Jo 2, 7), para não cessar a ALEGRIA, que enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus (EG 1). Pelo contexto de pandemia, não foi possível a proximidade física de muitas pessoas queridas. Mas essa impossibilidade não nos furtou a comunhão de corações (At 4, 32). Pela oração da Igreja, Povo de Deus, espalhada pelo mundo, e pela imposição das mãos de Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, fomos ordenados em uma celebração simples e muito orante. O sentimento mais marcante era de estar em comunhão com as pessoas, com a comunidade de fé. Sentia-me abraçado, cuidado por Deus. E, ao mesmo tempo, chamado a responder concretamente a tanto bem recebido, através do serviço, que foi confirmado pelo Sacramento da Ordem.

 

Quais suas esperanças para essa nova fase nessa caminhada como jesuíta e com o trabalho no Programa MAGIS?

Anderson: Trabalhar com as juventudes me enche de alegria e esperança. É uma missão consoladora e ao mesmo tempo desafiante. Como “jovem jesuíta” me sinto interpelado a trilhar este caminho ao lado das juventudes, dispondo meu coração para aprender com elas.

Davi: Após a ordenação diaconal, fui destinado para colaborar na formação da Companhia de Jesus, mais precisamente no Noviciado Nossa Senhora da Graça, em Feira de Santana, Bahia. Para mim, o trabalho no noviciado é algo muito inspirador, me enche de esperanças, me faz rememorar e ter sempre presente o magis que tem me provocado a estar aqui hoje. Minha principal esperança é colaborar com tantos jovens que vivem esse bonito momento em conhecer a Companhia de Jesus, em se consagrar ao seguimento de Jesus como jesuíta. Lembro das palavras de Pedro Arrupe, que “o noviciado é antes de tudo uma escola de oração. A oração do apóstolo, do homem que tem de voltar toda sua existência a evangelizar, de uma ou outra maneira. Isso exige uma autêntica experiência pessoal do que há de ser anunciado, um amor pessoal a Jesus Cristo pessoa, Deus e homem verdadeiro”. Dessa forma, colaborar no noviciado é caminhar com demais companheiros, noviços e outros jesuítas, aprofundando o sentido do amor à pessoa de Jesus.

Marcos: Uma dinâmica que me ajuda a gastar a vida como jesuíta é acreditar no bem que podemos viver e realizar na e por meio da Companhia de Jesus. O Senhor, através de Inácio e dos primeiros companheiros, confirmando-se no decorrer de séculos, tem convidado a Companhia de Jesus a colaborar na missão de Cristo. Pelo provincial fui enviado para colaborar nessa missão através do Programa MAGIS, que consiste em “acompanhar os jovens na criação de um futuro cheio de esperança”, ajudando-os “na construção de seu projeto de realização pessoal como dom e serviço aos demais, na promoção e defesa da vida”, como sintetizado nas Preferências Apostólicas Universais e da Província do Brasil, respectivamente. É uma missão a ser vivida reverencialmente, por tocar a existência e história de cada jovem que busca responder à sua vocação. Sinto-me animado e confiante, pois não caminho sozinho. Caminhamos como corpo apostólico, com a graça de Deus, para viver essa missão. Além dessa missão primeira, com o Programa MAGIS Brasil, a realizar-se singularmente no Centro MAGIS Inaciano da Juventude de Fortaleza, também colaborarei na Paróquia Cristo Rei. Será a comunidade de fé na qual viverei e alimentarei minha vida cristã, colocando-me a serviço.

 

Que mensagem deixaria para um jovem que está inquieto vocacionalmente?

Anderson: Falar a um jovem vocacionalmente inquieto é uma grande responsabilidade. Mas me veio à mente uma frase atribuída a Santo Inácio, que penso ser uma boa síntese da “tensão” que experimentamos durante o processo de discernimento vocacional. A frase é: “Ninguém sabe o que Deus faria de nós, se não opuséssemos tantos obstáculos à sua graça”. Isto é o que eu diria a um jovem hoje.

Davi: Algo que tem me ajudado é viver essa inquietação vocacional com liberdade. Liberdade para aprofundar a amizade com a pessoa de Jesus. Liberdade para estar diante de Deus, reconhecendo e dando graças pela própria história de vida. Liberdade para estar junto com outros filhos e filhas, comungando do desejo de colaborar com o Reino. Liberdade e coragem para escutar e deixar-se interpelar pela Palavra, que chama cada um e cada uma para a vida em plenitude.

Marcos: Coragem para caminhar, para seguir a Jesus, para buscar a liberdade cristã e para experimentar as surpresas de Deus, que florescem na simplicidade da vida. Tenha certeza que você experimentará a fragilidade de nossas respostas aos apelos do Senhor. Mas, tenha mais certeza ainda, que sentirá na caminhada a presença que faz arder o coração e transforma nossa oferta em vida para muitos homens e mulheres que nos esperam. Assim como nos lembra o Papa Francisco, “o ponto fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem é, antes de tudo, a sua amizade. Este é o discernimento fundamental” (CV 250). Por isso, não caminhe sozinho! Caminhe na amizade com Jesus e com tantas pessoas, também amigas de Jesus, que podem ser companhia nesse tempo de discernimento.

 

CV – Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit
EG – Exortação Apostólica Evangelii Gaudium

 

 

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