Índice

1. Memórias de um caminho já trilhado: itinerário Tempo

2. Apresentação do itinerário Dom
2.1 Jesus Cristo como fundamento
2.2 Inácio, experiência de dar-se
2.3 Dom, gratuidade que transborda

3. Percursos metodológicos e agenda para viver este itinerário
3.1 Exercícios Espirituais para jovens (diversas modalidades)
3.2 Dialogando com a Rede
3.3 Roteiros de Oração
3.4 Roteiros para Encontros com Jovens
3.5 Ação continuada do Eixo Pedagogia da Formação

4. Sugestões de materiais para aprofundamento

5. Referências

A Campanha Ser Mais Presente iniciou em março de 2022 com o seu primeiro itinerário, denominado O tempo presente. A dimensão do tempo promoveu discussões sobre as realidades sociais, políticas e ambientais das juventudes. Os apelos e os sentimentos que surgiram das reflexões sobre as batidas do relógio (Chronos) e as batidas do coração (Kairós) foram essenciais para compreendermos que há um momento propício para tudo. Não há como pensar no tempo agora sem considerar as memórias passadas, que ecoam no presente e diretamente influenciam o futuro. No entanto, faz-se necessário eleger quais destas memórias de fato nos ajudam a continuar construindo nosso projeto de vida com esperança, ânimo e generosidade.

O paradigma do tempo, que refletimos nesse itinerário, se tornou ainda mais denso quando nos deparamos com a perda da nossa companheira, Evenice Neta (em memória), que tanto sonhou com essa campanha. Netinha nos deixou um legado de profundas reflexões, de criativas ideias. Ela foi e continuará sendo sinal de resistência e de doação ao próximo. Ao partir, intensificou nossa rede de afetos de norte a sul do país, ressignificando o Ser Mais Presente. Seguimos, então, com o propósito de colocar em prática todos os ensinamentos e desejos inspiradores dessa companheira. Netinha foi e é luz, que segue irradiando beleza na vida de tanta gente ao longo desses anos. Gratidão damos por tanto.

Os desdobramentos do primeiro itinerário da Campanha Ser Mais Presente possibilitaram que conhecêssemos os sinais dos tempos através das atividades realizadas pelos Centros e Espaços MAGIS: formações, missões de Semana Santa, jornadas de espiritualidade, celebrações, convívios etc., tendo sempre Jesus como o modelo de atuação em seu tempo presente, tornando a pessoa jovem protagonista de sua história. O itinerário terminou em outubro de 2022, com grandes reverberações e com o desejo de continuar caminhando através do segundo itinerário, intitulado DOM.

Contigo de la Mano


Vengo aquí,
El corazón abierto, libre frente a ti,
A contarte de mis viajes, de lo vivido.

Aquí estoy,
Hay tan solo una silla y un instante que
Se enciende en el calor de tu mirada, escúchame.

Ya sin más distancias ni límites
Necesito hablarte, abrázame.
Con la vida entre mis manos
Me abandono hoy a las tuyas,
Estas lágrimas te cantan lo que soy.
Te sonrío y siento calma.

Te miro y digo:
Gracias, gracias porque me haces vivir.
Gracias, gracias porque tú eres amor.
Veo con mayor claridad
Lo que puedo llegar a ser
Si de la mano contigo voy (…)

Cristóbal Fones, SJ.

Eu venho aqui,
O coração aberto, livre diante de ti,
Para contar sobre minhas viagens, sobre o que vivi.

Aqui estou,
Há apenas um banco e um momento que
Acende-se no calor do seu olhar, ouça-me.

Sem distâncias ou limites
Preciso falar contigo, me abraça.
Com a vida em minhas mãos
Eu me abandono hoje nas tuas,
Essas lágrimas cantam para você o que eu sou.
Eu sorrio para você e me sinto calmo.

Eu olho para você e digo:
Obrigado, obrigado porque você me faz viver.
Obrigado, obrigado porque você é amor.
Eu vejo mais claramente
o que eu posso me tornar
Se de mãos dadas com você eu vou.

Cristóbal Fones, SJ.

O segundo itinerário da Campanha Ser Mais Presente começa em novembro de 2022 e vai até junho de 2023, com propostas de reflexões acerca da capacidade do ser humano de compreender que nossa vida é dom e tarefa. Reconhecer o que de mais belo cada um possui, suas experiências, suas histórias e memórias, a exemplo de Jesus Cristo, que compreendeu que nada era d’Ele e tudo era do seu Pai, motivando-nos a partilhar com os demais toda a graça que é doada e recebida, principalmente para aqueles que vivem à margem da sociedade, excluídos, sem oportunidades.

2.1 Jesus Cristo como fundamento

Antes da criação, nada tinha forma (Gn 1,2). Essa é uma das primeiras considerações descritas no livro do Gênesis. Não existiam cores, formatos e sabores, tudo era igual. Deus, percebendo esse mundo insosso, resolveu embelezá-lo a partir da sua dádiva, criando estrelas, mar, terra e todos os tipos de seres de maneira tão única e especial, tornando-os irmãos na criação. Em cada elemento da criação, Deus derramou um pouco da sua graça, carregada de dons bem particulares, construindo um universo rico em possibilidades. Esse é o presente que Ele nos deu: sermos únicos e vivermos conforme os nossos dons.

No entanto, será que compreendemos a beleza de nossos dons? A dinâmica de vida pós-moderna, na qual as relações são cada vez mais frágeis e o ritmo de vida é cada vez mais degradante, nos tira a possibilidade de assimilar e reconhecer os nossos dons. Valorizamos cada vez mais habilidades e características que de alguma forma se relacionam mais profundamente com um sistema que valoriza apenas o lucro, nos descaracterizando a cada dia. Deixamos o compromisso de sermos irmãos na criação e, agora, nos tornamos objeto de uso.

O jovem é, desde cedo, apresentado a essa dinâmica e se alimenta dela, sendo convidado a uma vivência de mundo sem sentido por deixar para trás seus dons mais primordiais. Essa vivência precária nos leva a reviver uma pré-criação dentro da criação, tornando-nos insensíveis a todos os movimentos e belezas da vida ao nosso redor, e também a todos os desafios e dificuldades que a nossa geração passa.

O Programa MAGIS Brasil, com a campanha Ser Mais Presente, nos convida a redescobrir nossos dons, a dar significado e a nos colocar à disposição dos demais, dando luz às características tão pertencentes às juventudes: criatividade, solidariedade, compromisso, alegria e esperança. Porém, surge um questionamento: qual o caminho para descobrir meus verdadeiros dons?

Algumas passagens bíblicas nos ajudam a perceber a importância de Jesus nesse processo, pois Ele mesmo diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida…” (Jo 14, 6). Ele é a pessoa que estava desde o início da criação. A partir d’Ele tudo se caracteriza, tudo toma forma, tudo se torna dom. Seu protagonismo na criação revela a profundidade de toda característica humana, resgatando a ideia de que fomos criados à Sua imagem e semelhança.

O Criador partilha o seu Espírito com a criatura, capacita o ser humano para ser também artista do infinito, capaz de ser gestor da vida; fez-lhe à sua maneira, à sua imagem e semelhança.

Ele demonstra que tudo que envolve o cuidado com a vida e a plenifica nos enche de sentido, é Dom. Somos vocacionados ao infinito, criados para dar sentido ao sem sentido. Reconhecer essa dádiva em nós é condição para uma vida genuinamente profunda.

Carregamos essa capacidade divina e somos chamados a expressar em nossa vivência o potencial de doação, que não é fonte em nós mesmos, nos supera. Quando nos acolhemos como presente, nos colocamos em sintonia com o criador e assumimos a postura real de ser mais para os demais, de ser magis.

Em Lucas (5, 10), Jesus diz: “Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador do humano”. Nessa fala, Lucas expressa um movimento interessante de Jesus, fazendo com que os discípulos percebam seus dons de maneira mais profunda. Naquele contexto, longe de qualquer ideia de missão, seus seguidores viviam na dinâmica da sobrevivência, colhendo o peixe de cada dia, utilizando seus dons para dar um pouco de dignidade às suas famílias… No entanto, uma mudança profunda era necessária, como nos diz Pe. Adroaldo, SJ:

“Jesus, o homem integrado, sempre teve
acesso ao seu oceano interior e deixou emergir ricas possibilidades,
criatividades, inspirações… Seu modo de ser e viver revelou
o “novo” presente nas profundezas do seu próprio coração:
novo ensinamento, novo olhar sobre a vida, nova
atitude, novo compromisso”¹

Jesus conseguia perceber com facilidade as possibilidades mais profundas de cada um, aquilo que os levava para a direção de mais vida. Sua presença sempre instiga, ativando o que há de mais humano dentro de cada um. Pescador de homens, sim! Esse é o momento que Ele se conecta com o que há de mais natural dentro daqueles discípulos, e não só isso, os faz acreditar que eles podem ser mais e de maneira mais autêntica. Aliás, o importante é a essência que nos constitui como seres humanos. Esse é o verdadeiro talento: o que há de mais humano em nós. Sentirmo-nos livres para sermos humanos e sermos melhores a cada dia, nos reconectando com a criação e tornando nossa vida dádiva para o mundo.

Para refletir

● Reconheço a minha vida como dom?
● Quais dons eu reconheço em mim?
● Sinto-me valorizado pelos dons que compartilho hoje?
● Quais dons Jesus resgataria em mim?

2.2 Inácio, experiência de dar-se

A vida de Inácio de Loyola nos ajuda a fazer um caminho rumo ao encontro da nossa realidade mais profunda. Ele foi um homem entregue às ilusões mundanas: soberba, vãs glórias. O incidente da bala de canhão ocasionou uma pausa providencial que possibilitou ao então Íñigo deparar-se com a fragilidade humana, com a transitoriedade de sua vida, passando a discernir, a perceber e a nomear as coisas relativas, secundárias, identificando suas pegadas.

Afinal, somos marcados por experiências. O olhar de fé possibilita ver a nossa existência com os fatos negativos e positivos. Voltar o olhar para a própria história possibilita entender muitos elementos que estão presentes em nossa vida, compreender o modo de relação que temos conosco, com os outros e com Deus.

O dinamismo de nossa história acontece na lógica do passado-presente-futuro. Percebendo toda a possibilidade do que podemos ser, dom/presença (Princípio e Fundamento), lançamos um olhar corajoso e sincero para o passado e isso ajuda a nomear e identificar muitas coisas em nossa realidade atual que limitam a nossa capacidade de ser. Aqui não se trata de encontrar-nos com o passado para ficarmos com o peso dos acontecimentos negativos. A proposta é justamente o contrário disso: as feridas identificadas, cicatrizadas e integradas podem ser remédio para nossa existência e para vida do outro, porque seremos mais capacitados para amar. Dá-se um processo de acolhida no qual não se vê o passado com temor, senão como parte da própria história, como possibilidade esperançosa de amadurecimento pessoal e espiritual. “Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz” (Primeira Semana).

Esse processo de autoconhecimento é extremamente importante para iluminar o presente e pensar no futuro, despertando o desejo de sermos mais livres para que o mais belo que levamos dentro de nós, aquilo que nos move, o magis, se manifeste em nossa existência. Então nos dispomos a caminhar com Aquele que é nosso modelo ideal de liberdade, contemplando sua maneira de ser no mundo: Jesus de Nazaré (Segunda Semana).

Percebemos em Jesus o que podemos ser, todas as capacidades divinas reveladas na realidade humana. Somos convidados a fazer um caminho de identificação e configuração com Ele. Essa experiência pode favorecer uma alegria tão agradecida que nos lança para fora de nós mesmos em direção aos demais com desejo de salvar.

Jesus, com sua presença inspiradora, revelou o dom de despertar e extrair o “melhor” no interior das pessoas: seus recursos, seus desejos, suas vontades, sentimentos, seus sonhos ousados. Sua sensibilidade tocava e impulsionava o que havia de mais sagrado no interior do coração humano, alimentando uma nova esperança e abrindo um horizonte de sentido para todos.

Quando nos deixamos “tocar” por Deus naquilo que mais amamos, brotam as ideias, os sentimentos oceânicos, a criatividade, o impulso para a comunhão, a integração e a abertura para com a realidade que nos cerca. Assumimos a missão.

Quando Inácio de Loyola se deixou ser tocado por Ele, entendeu que tudo o que possuía não pertencia a si mesmo, que na sua vida tudo é dom e graça de Deus, e então transbordou esse amor na oração:

“Tomai, Senhor, e recebei
Toda a minha liberdade, a minha memória também.
O meu entendimento e toda a minha vontade
Tudo o que tenho e possuo, vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo
Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade.
Dai-me somente, o vosso amor, vossa graça
Isto me basta, nada mais quero pedir”.

Aí pode ser suscitada em nosso coração a gratuidade de sermos totalmente para os demais. Vamos nos acolhendo verdadeiramente como Dom – vida presente, doada e partilhada. Passamos a perceber o mistério profundo da entrega, do serviço e da cruz como a grande catequese do amor (Terceira Semana).

Assim, esse caminho de liberdade e profundidade possibilitará uma vida entendida como entrega e assumida como tarefa no horizonte agradecido da gratuidade. Em um mundo tocado pela frieza da apatia e indiferença, somos chamados a expressar o calor amoroso da Suprema Presença doadora de toda expressão de cuidado (Quarta Semana).

É justamente nessa maneira de estar presente na realidade que vamos realizando a Maior Glória do Pai. É Deus atuando através de nossa presença no mundo. Vamos nos reconhecer como Dom, chamados a ser presentes numa realidade tão ausente de presença. Isso nos leva a reconhecer e a promover a dádiva que o outro também é para nós.

Recordamos em nossa memória pessoas especiais às quais poderíamos enviar com carinho um bilhete:

“Tu me fizeste melhor do que eu era…, porque acreditaste em mim de uma maneira que ninguém fazia, porque foste capaz de olhar em mim mais além daquilo que eu via, porque me ajudaste a avançar muito mais do que eu jamais poderia imaginar”.

Aqui também podemos contemplar cada uma destas presenças que nos curam, nos preenchem, que nos impulsionam para o novo, que nos fazem mais criativos, que nos abrem um horizonte de sentido, enfim, que geram vida ao estilo de Jesus, que passou pela vida tornando melhores as pessoas que encontrava.

Também Ele continua fazendo com que sejamos cada vez melhores, através de infinitas presenças de pessoas especiais. Sintamos e manifestemos gratidão por cada uma destas presenças inspiradoras em nossas vidas que nos fazem ir além de nós mesmos, nos acompanham, nos dão vida!

Assim como inúmeras pessoas nos tornaram melhores, também nós somos chamados a ser “presenças humanizadoras”, mobilizando a criatividade, a inspiração, a compaixão…, faíscas do Divino no coração de cada um(a). Crescer em nosso ser verdadeiro é o melhor que podemos fazer pelos outros e pela criação inteira. A primeira e mais nobre missão de todo ser humano está dentro dele mesmo, nunca fora. Deus só quer que sejamos autênticos, ou seja, que sejamos o que devemos ser.

Para refletir:

● Quais pessoas exemplo de dom trago na memória?
● Como a oração de Santo Inácio me interpela a ser um dom que retribui todos os dons recebidos?
● Até que ponto sou capaz de me acolher como verdadeiro presente?

2.3 Dom, gratuidade que transborda

Se conseguirmos observar com um pouco de atenção, ao mesmo tempo que nos deixamos surpreender por aquilo que é objeto de nossa observação, podemos nos dar conta de que a vida, em suas diversas formas e expressões, tem como traço característico a capacidade de doar-se. Possui uma gratuidade que só é possível entender enquanto se oferece em todos os níveis de inter-relações em que esteja presente. Deste modo, as plantas, as árvores e seus frutos, os animais, a natureza são doação, e o ser humano só se compreende na medida em que se doa ao Outro e aos outros.

É de se supor que todas as formas de vida não possuem o mesmo valor, ainda que todas sejam radicalmente valiosas. O ser humano, por seu processo evolutivo, é o único que, por sua característica “sapiens”, pôde tomar consciência disso, é o único ao que se pode pedir responsabilidades pelo uso que faz da sua liberdade. É através da bondade, dessa qualidade que é adquirida no reconhecimento do presente que é a vida, que o ser humano é capaz de dar o melhor de si a outros e que, ao mesmo tempo, é o modo que dispõe para transbordar generosamente, para comunicar aquilo que singulariza cada um, isto é, os dons que possui.

Só quando o ser humano permite o transbordamento de si, do melhor de si mesmo, então se pode afirmar que se doa na gratuidade de sua própria existência. Para doar-se, significa que há uma necessidade de reconhecer os próprios defeitos e virtudes, ou seja, suas limitações e suas fortalezas.

Para o filósofo espanhol Francesc Torralba, dar o melhor de si mesmo só é possível se a pessoa reconhecer suas virtudes e defeitos, o fundo emocional que palpita em seu ser e tem a inteligência para separar, distinguir e ordenar esse fundo, para transbordar o mais valioso que há no interior de cada um.

Isso acontece no simples gesto de agradecer. Quando agradecemos, estamos dando graças a nós mesmos. Alguém que diz “gratidão” a outra pessoa realmente está dizendo “estamos juntos”.

A palavra “obrigado” tem origem na palavra latina obligatus, que é o particípio passado do verbo obligare, que tem sentido de ligar, amarrar. Um dos significados possíveis é o elo que a palavra estabelece entre quem doa e quem é beneficiado com essa doação. A ideia de comunhão entre quem foi beneficiado e o provedor do favor. Estou obrigado a você pelo bem que tem me feito. Mas esse obrigado não deve ser visto só em sentido de obrigação, como muitos atribuem ao sentido da palavra, seria muito limitado se ficássemos com esse sentido. É salutar considerarmos a manifestação do obrigado como sentido de ligado estou a você, quando reconheço que não estou sozinho e dependo de outros. Depender aqui não tem o sentido de submissão por qualquer relação que seja, mas de depender como reconhecimento que sozinho não posso ir a lugar nenhum. Na peregrinação da vida, desde o nascimento, estamos ligados a outras pessoas que fazem parte dos nossos processos.

“Dependi e dependo de várias pessoas para ser quem sou hoje, na diferença tenho muita riqueza, sou fruto das inúmeras convivências que tive na minha vida, que só através do outro pude e posso me abrir a ver quem realmente sou, conhecer mais minha dimensão interna”². É nessa relação que muitos filósofos escreveram sobre o poder da alteridade como essência de nosso sentido mais profundo. É no reconhecimento dessa dádiva que os outros são na minha vida e na minha história que posso dizer obrigado, dar graças e ser dom para os demais. Por isso, Santo Inácio dá tanta importância à gratidão. Não é por acaso que esse é o primeiro passo no método inaciano de oração. É tão importante a gratidão, que podemos dizer que ela libera nossa sensibilidade e nos predispõe ao encontro com Deus. Ao reconhecer que tudo é graça, os sentidos mais profundos são liberados, ficam disponíveis e nos abrem para uma relação transparente com o Criador e com toda a obra criada.

Ser mais presente, em uma última instância, é colocar em prática a própria liberdade. Por isso, pode-se considerar como liberação da nossa sensibilidade, do nosso eu mais profundo. Mas, para isso ocorrer, o ser humano precisa conhecer-se, entender a sua natureza, submeter-se a um rigoroso exame, a uma autoanálise. Essa autorreflexão precisa assumir o risco que supõe entrar na própria interioridade para reconhecer não só nossas luzes, mas também nossas sombras. O porão tem a capacidade de guardar muitas coisas e muitas vezes pode estar mais descuidado que outras partes da casa, afinal não convidamos ninguém ao porão, e sim à sala, que está mais limpa e cuidada. Na medida em que conseguimos converter o porão em um lugar habitável, estamos dando oportunidade a nós mesmos de oferecer a outras pessoas aquilo de mais valioso que guardamos.

A origem da vida é a gratuidade que transborda, um exceder-se como pura doação. A origem da nossa vida, que integra nossa identidade dentro dessa outra vida, possui a mesma capacidade. Seu sentido só é conquistado quando acontece o oferecimento de si mesmo, a abertura mais radical que nos deixa na incerteza e faz aparecer o mais raro do Mistério, do sentido inicial e último do Amor, algo que nos Exercícios Espirituais começa com o Princípio e Fundamento e termina na Contemplação para Alcançar o Amor.

A entrega só pode ser autêntica se nos permite esvaziar o nosso ego, nos deixa em uma transparência que, sendo abismal, descobre a humanidade que nos une, desvelando nosso sentido radical e definitivo, o amor como dom que transborda.

Para refletir

● Quais as micro atitudes do meu cotidiano que me abrem para o verdadeiro dom?
● Como a gratidão me ajuda a ser mais presente para as pessoas que Deus me presenteou?

Para melhor vivermos a dimensão do Dom que a Campanha Ser Mais Presente nos interpela, teremos alguns materiais de suporte, pensados para serem prioritariamente vividos localmente, desde cada presença da Rede MAGIS até quem deseje viver conosco essa Campanha.

Os materiais são inspiradores. Podem ser adaptados conforme a necessidade. Além disso, acreditamos que a força criativa do Espírito e a dinamicidade e ousadia de jovens farão brotar outros instrumentos fecundos para a melhor vivência da Campanha. Nesse caminho que está em construção, desejamos que jovens, assessoras e assessores se animem a compartilhar o que for vivido e as ferramentas criadas, no sentido de multiplicarmos as experiências e nos ajudarmos mutuamente.

3.1 Exercícios Espirituais para jovens (diversas modalidades):

Animar e apoiar a realização dos EEJ durante todo o itinerário, principalmente em locais com mais dificuldade em realizar.

3.2 Dialogando com a Rede

Confira aqui como foi a live.

3.3 Roteiros de Oração

Clique aqui e acesse o roteiro

3.4 Roteiros para Encontros com Jovens

Clique aqui e baixe o roteiro 

3.5 Ação continuada do Eixo Pedagogia da Formação:

Período: outubro de 2022 a junho de 2023. Campanha pela vida de todas as mulheres, em março de 2023.

● “A criação” (Gênesis 1).
● “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós…” (João 1, 14).
● “No princípio Ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio Dele e sem Ele nada foi feito. O que foi feito d’Ele era a vida, e a vida era a luz dos homens…” (João 1, 2-4).
● “A viúva” (Marcos 12, 41-44).
Música Todo, Cristóbal Fones.
Oração de Santo Inácio de Loyola.

Baixe aqui o texto base do Itinerário Tempo


Notas
¹ CHAMORRO, José. La vida, puro don. 2015. Disponível em: <https://www.viviragradecidos.org/la-vida-puro-don/>. Acesso: 07 de outubro de 2022.
² CHAMORRO, José. La vida, puro don. 2015.

Referências
CHAMORRO, José. La vida, puro don. 2015. Disponível em: <https://www.viviragradecidos.org/la-vida-puro-don/>. Acesso: 07 de outubro de 2022.
CONTIGO DE LA MANO. Mano nella mano. Texto (italiano) y música © Andrea Picciau, SJ; Vincenzo Mario Boi. Traducción © Cristóbal Fones, SJ. Disponível em: <https://youtu.be/0cKEttgEJHA>. Acesso: 07 de outubro de 2022.
Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.
Importância da gratidão. Redação psicanálise clínica, 2019. Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com/obrigado-2/. Acesso: 07 de outubro de 2022.
PALAORO SJ, Adroaldo. O dom de tornar os outros melhores, disponível em: <https://ignatiana.blog/2022/02/04/adroaldo-30/> Acesso: 07 de outubro de 2022.

 

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