“Mudanças abrem novas portas”

Escrito por Márcio Danilo Gomes dos Santos

Estamos no tempo do advento. Esse momento é marcado pela espera daquele que virá. Jesus vem nascer no meio de nós. A igreja celebra esse tempo como o início do ano litúrgico. É hora de preparar-se, de cuidar, de olhar as situações com esperança.

Inácio, no exame espiritual, convida-nos a agradecer por tanto bem recebido. Para ele, a gratidão é crucial no processo de re-conhecer Jesus que nos acompanha no trajeto. Estamos rodeados de eventos, de afazeres e não é difícil passar despercebido as bonanças cotidianas. Nossa sociedade está, talvez, acostumada a se deparar com as notícias tristes. O ano, ainda pandêmico, marcado por mudanças na rotina, no modo de se relacionar com as outras pessoas, sem a espontaneidade e a fluidez dos encontros de antes carrega uma sensação de superficialidade; o tempo do Advento permite que experimentemos a profundidade e a autenticidade das relações inspirados pela atitude de abertura e humildade do nosso Criador ao se fazer homem como nós.

O advento, entendido como lugar de aguçar os sentidos, de ordenar os afetos para acolher o Cristo, humano, pobre e abundante em simplicidade, é tempo de re-acender a esperança e reafirmar que haverá dias melhores. O convite a romper com as estruturas de injustiças, a repensar nosso modo de consumir, de se comunicar, de assumir o compromisso de cidadão nas mais variadas esferas políticas e sociais são pistas para acolhermos o Natal. Afinal, nascimento é vida. Façamos um paralelo com a vida de Inácio. Ele se dedicou a buscar encontrar a vontade de Deus em todas as coisas por meio do discernimento. Atento aos sinais do que “devo fazer por Cristo” o peregrino experienciava consolações e desolações. No entanto, as dificuldades não o paralisavam, pelo contrário, servia de combustível no constante desejo de mais e melhor servir ao Reino de Deus.

Os Exercícios Espirituais, no início de sua segunda semana, nos convidam a usarmos da imaginação contemplando a humanidade. “Ver as pessoas, umas após outras. Primeiro, as da face da terra, em tanta diversidade de roupas e de fisionomias: uns brancos, outros negros; uns em paz, outros em guerra; uns chorando, outros rindo; uns sãos, outros enfermos; uns nascendo, outros morrendo” … (EE106). Numa proposta de oração inaciana, após esta contemplação é que a Segunda Pessoa da Trindade se faz homem e chegamos na cena que há na bíblia. O anjo Gabriel é enviado à Maria com a mensagem de que ela será a Mãe do Salvador. Há todo um preparo marcado por mescla de confusão, “Como isso vai acontecer se não conheço homem algum?” (Lc 1,34). Mas também de prontidão: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A confiança total de Maria é porta para esperança.

Façamos também um paralelo com a nossa vida. Para nós, hoje, o que nos encoraja a nascer de novo? O que visualizamos ao contemplar a humanidade e toda a Criação ao nosso redor? Qual a nossa atitude diante desta contemplação?

Texto bíblico: Lc 1, 26-38

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