Escrito por Dimas Oliveira, SJ

As imagens de caminho são bastante simbólicas para o ser humano. É comum vê-las pintadas em quadros à venda em feiras de artesanato, em fotografias que decoram salas de espera em consultórios médicos, ou ainda, conferi-las em registros fotográficos feitos por amantes das estradas em suas redes sociais.

O caminho que se abre ao horizonte convida, instiga e põe os passos do peregrino e da peregrina em ação, em busca, muitas vezes, do desconhecido, tanto das pistas exteriores quanto das pistas que levam ao mais profundo do ser humano.

As motivações que fazem homens e mulheres tomarem a decisão de abraçarem caminhos diversos podem ser muitas como a necessidade de refúgio ou de um deslocamento forçado, o lazer, a aventura, o autoconhecimento, etc.

Aos jovens rapazes que desejam se configurar a Cristo seguindo a inspiração do fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, a experiência da peregrinação é fundamental. Assim como o jovem Inácio peregrinou por muitos caminhos após sua conversão, os jesuítas buscam se lançar por uma trajetória desconhecida e sem algum recurso financeiro em uma experiência de aprofundamento para conhecer e discernir melhor a vontade de Deus em suas vidas.

Em muitos relatos, as dificuldades e os desafios integram o diário de bordo dos filhos espirituais de santo Inácio de Loyola. Há quem conte o fato da necessidade de passar a noite em uma delegacia por questões de segurança para que a dupla de peregrinos não fosse confundida com bandidos pela comunidade local. Ou ainda, quem procurou abrigo na prefeitura de uma cidade após o padre do povoado recusar hospedagem aos peregrinos em pleno sertão do Brasil.

Na descrição da experiência de peregrinação que Santo Inácio faz em sua autobiografia, as histórias não são diferentes. Ainda mais radical, o peregrino mal carregava a roupa do corpo e ainda tinha que enfrentar o severo inverno europeu (cf. Autobiografia 49-50).

Também chegou a ser preso e a ter tido como suspeito de ser espião por parte de um grupo de soldados que o encontraram caminhando em território controlado por eles. Inácio era destemido e teimoso. Não costumava escutar conselhos e seguia sua intuição sempre iluminada pela confiança em Deus.

Como não possuía recurso algum, o que o santo peregrino recebia de doação, logo ele já compartilhava com os pobres que se aproximavam dele em sua jornada.

Peregrinar não é uma tarefa fácil. Inácio e os companheiros de Jesus, os jesuítas, são testemunhas disso. Mas o cuidado de Deus é muito mais notável e se faz muito presente no itinerário dos peregrinos que investem em terras desconhecidas. Desde a conquista de abrigo para passar a noite com conforto em casa de pessoas muito simples, ao direito a uma alimentação farta, após um dia inteiro de caminhada, oferecido por pessoas que não quiseram se identificar. No caso de Inácio, não foi diferente. Após ser libertado por um capitão francês, este recomendou aos soldados: “Levai-o e dai-lhe de cear, e tratai-o bem”.

Em meio às adversidades e também às boas surpresas do caminho, o que chama a atenção tanto em Inácio como na maioria das inúmeras experiências de peregrinação dos jesuítas ao redor do mundo, são a confiança em Deus e a capacidade de enxergar sempre um horizonte que os põe a caminho. O antigo superior geral dos jesuítas, Adolfo Nicolás (1936-2020), escreveu em uma carta a toda Companhia de Jesus, e nela afirma que os grandes jesuítas lhe pareciam ser “homens de uma só peça: inteiros, dedicados, consistentes, bem orientados e não distraídos”. “(…) pessoas que deram tudo e permanecem bem orientados para o objetivo final de sua autodoação: Deus e o serviço de seu Reino” (Pe. Adolfo Nicolás, SJ).

“Ver novas todas as coisas em Cristo” significa buscar sempre um horizonte alargado, que instiga o sair de si e a pôr-se a caminho em direção ao serviço das pessoas, principalmente, aquelas mais necessitadas. É confiar em Sua graça, livrando-se das distrações do caminho. É sentir-se filha e filho abraçados pela ternura e o cuidado de Deus. É amar e servir.

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