“Pensava muitas vezes no seu propósito, desejando estar já completamente curado para se pôr a caminho”

(Escrito por E. Luan de Amorim Moreira, SJ)

O jovem nobre Inácio de Loyola, pouco a pouco, se recuperou e restabeleceu suas forças depois do grave incidente no campo de batalha. O longo tempo de sua doença leva o seu coração inquieto a ser povoado de sonhos, não sonhos antigos de glória e estima, de ser um famoso cavalheiro, como era o percurso que naturalmente assumia em sua “carreira profissional”, antes daquela terrível bala de canhão. Surge em seu coração novos ideias, novas possibilidades para sua nova vida. O nobre cavalheiro de Pamplona, começa em seu interior a dar forma ao Inácio, o Peregrino, aliás, é como ele gostará de ser chamado daqui para frente.

Na janela daquele imenso castelo, o jovem peregrino, contempla a imensidão da presença de Deus que habita silenciosamente no mundo, ele deixa de ser prisioneiro de seu orgulho e das suas ilusões, e se abre a um processo de conversão que inicia no seu olhar. Nos olhos de Inácio, o céu como que fazia seu coração se alargar a querer viver algo mais, a mirar inúmeros sonhos, porém, mesmo sem ainda não entender bem o convite que o “Rei Eterno” lhe faz. Ele se coloca a discernir a nova fisionomia da sua história pessoal deixa ser embalado pelos seus novos projetos.

O nosso caminho

Muitas vezes como Inácio somos convidados a olhar além das nossas janelas existenciais, perceber que a vida é muito mais do que os projetos que nos são vendidos nas redes sociais como soluções mágicas e instantâneas para nossa vida. Devemos nos curar, desse excesso de querer ter e não ser. Talvez o caminho seja a experiência de se fazer pequeno, e exclamar como um pedido de graça transcrito na bela frase do poema de Adélia Prado: “me cura de ser grande, ó meu Deus”.

Diferente do que a maioria de nós pensamos, só sonha quem se coloca pequeno, quem compreende que estamos em um longo caminho feito passo a passo, de uma longa aprendizagem que é feito de calos, memórias e vivencias. Nesta jornada, nosso sonho nos impulsiona a acreditar em um amanhã melhor, gesta em nós a esperança. Nossos sonhos são conduzidos pelos nossos desejos mais genuínos e mais humanos. Nos desinstala e como que reeduca nosso olhar para ver a realidade que nos cerca e a contemplar a vida com os olhos de Deus e se colocar como cultivador da “casa comum.” E percebemos que as alegrias e dores do outro nos tocam, muitas vezes percebemos como a “bala de canhão” das outras pessoas ainda não estão curadas e queremos ser a mão e voz para elas.

Ser sonhador, podemos dizer, que é sinônimo de ser peregrino, provavelmente, por isso que Inácio se identificou tanto em se autodenominar desta forma. O peregrino é aquele que é movido por sonhos e busca se aventurar. E em seu peregrinar não se importando com a chegada, insucessos ou mudanças de rotas, mas com a beleza do caminho, que simplesmente se desabrocha no percurso. Somente isto vale a pena: o percurso e a ousadia de assumir o apelo de Deus de “em tudo amar e servir” (EE 233).

Desse modo, diante das incertezas do nosso tempo, que nos causam tanta desolação, possamos nos inspirar no Peregrino, de não termos medo de acreditar em nossos sonhos e crer que em nosso caminhar Deus embala cada um deles. E ter a certeza que generosamente Ele nos dá respostas criativas para podermos olhar a realidade de outra maneira. E assim não perdermos essa capacidade tão bela de sonharmos com os pés caminhantes na vida.

 

Texto Bíblico  Gn 15, 4-6

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