Guilherme Augusto Siebeneichler
A educação, como direito inalienável de todo indivíduo em uma sociedade moderna, continua a ser um pilar essencial para o desenvolvimento e o progresso de uma nação. No entanto, por trás dessa afirmação, muitas vezes esconde-se uma realidade crítica que raramente fica visível. Recentemente, na Região Sul, testemunhamos como as condições climáticas extremas prejudicam o acesso e a garantia do direito à educação para os residentes rurais.
Saviani (2011, p.13) afirma que a educação é “o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Freire contribui trazendo a reflexão de que:
[…] se não me posso permitir a ingenuidade de pensar-me igual ao educando, de desconhecer a especificidade da tarefa do professor, não posso, por outro lado, negar que meu papel fundamental é contribuir positivamente para que o educando vá sendo o artífice de sua formação com a ajuda necessária do educador (Freire, 2011, p. 68).
Com o suporte desses dois educadores e baseado no artigo 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB n.º 9394/96), a educação deve ser oferecida pelo Estado de forma obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade. Nesse sentido, o ensino deve ser uma garantia para os sujeitos, pois permite conhecer, refletir e transformar o mundo em que vivemos.
Nos últimos dias, as fortes chuvas assolaram a Região Sul, resultando em alagamentos e condições precárias das estradas de chão. Para muitos jovens e adolescentes que dependem de ônibus escolares para chegar às escolas, essas condições climáticas têm representado uma barreira inesperada em seu direito à educação. A ausência de investimentos significativos em infraestrutura e suporte para a locomoção tem obrigado esses estudantes a enfrentarem obstáculos cada vez mais complexos.
Isso se deve principalmente a uma concepção equivocada de que a educação do campo ocorre para o campo, mas não no campo. Quando nos referimos à educação no campo, direcionamos nossa atenção para a possibilidade de criar condições de ensino e aprendizagem dentro da área rural, fortalecida pela relação imediata com o cotidiano da comunidade que compõe esse espaço e contribui para o processo de ensino/aprendizagem, potencializando os sujeitos nesses espaços. Além de aproximar a escola e estreitar essas barreiras, torna-se crucial tornar o conteúdo mais tangível e relevante para a condição de trabalho que gera as relações sociais e econômicas.
Em muitas áreas rurais, os ônibus escolares enfrentam dificuldades extremas para trafegar por estradas alagadas e enlameadas. Como resultado, os jovens têm sido obrigados a faltar às aulas por vários dias consecutivos. Essas ausências prolongadas não apenas prejudicam seu desenvolvimento, mas também podem afetar negativamente sua motivação e compromisso com a educação.
Essa situação suscita questões cruciais sobre a prioridade dada à infraestrutura nessas áreas e sobre a necessidade de garantir que o acesso à educação não seja interrompido por circunstâncias que poderiam ser atenuadas com investimentos apropriados e planejamento eficaz. É vital que os governos locais e nacionais reconheçam a importância de oferecer condições de transporte seguras e confiáveis para os jovens e adolescentes que residem em áreas rurais.
Além disso, é fundamental enfatizar a necessidade de promover a reflexão sobre maneiras de continuar educando os sujeitos em seu ambiente de origem, ou seja, em convívio com suas raízes culturais e nesse espaço de aprendizado que também é educativo e favorece o desenvolvimento da identidade desses sujeitos, valorizando seus modos de ser e estar no mundo.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2023. – Lei n.º 9.394/1996, Brasil.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações/Dermeval Saviani. 11. ed. rev. — Campinas, SP: Autores Associados, 2011.