Em 29 de março de 1549, mais de mil homens desembarcaram no Arraial do Pereira, em plena Bahia de Todos os Santos. Além de Tomé de Sousa, primeiro governador-geral da Terra de Santa Cruz, a grande armada trazia seis jesuítas, liderados pelo padre Manoel da Nóbrega. Foram 56 dias de viagem até aportar na então colônia portuguesa, que mais tarde receberia o nome de Brasil.

Passados 470 anos, ressaltamos a importância desses jesuítas que deram os primeiros passos na construção da forte ligação existente entre a Companhia de Jesus e o desenvolvimento da nação brasileira nas mais diversas áreas, até os dias atuais. Além de Nóbrega, então com 32 anos, o grupo era formado pelos padres Antônio Pires, Leonardo Nunes e João de Azpilcueta Navarro, e os irmão Vicente Rodrigues e Diogo Jácome.

Para o padre Carlos Alberto Contieri, coordenador do Cuidado do Patrimônio Histórico e Cultural da Companhia de Jesus no Brasil, o que moveu esses jesuítas foi o desejo de transmitir a doutrina cristã. “Somos uma Ordem Religiosa eminentemente missionária e que tem como finalidade ‘ajudar as almas’. Essa expressão, típica do século XVI, dava a dimensão de ajudar as pessoas, por meio de diferentes ministérios, como a pregação da Palavra, os Exercícios Espirituais etc.”, explica.

O jesuíta destaca a ousadia da Companhia de Jesus. “A Ordem religiosa tinha apenas nove anos quando os primeiros jesuítas desembarcam no Brasil. Evidentemente, nesses poucos anos, ela cresceria tremendamente. Mas, naquele momento, enviar seis jesuítas para uma terra desconhecida, sem saber o que iriam encontrar, mostra o risco que a Ordem religiosa assumia correr. Então, aceitar o risco é característica própria da Companhia de Jesus”, ressalta Pe. Contieri, que é também diretor do Pateo do Collegio e do Museu de Arte Sacra dos Jesuítas e reitor do Colégio São Luís, em São Paulo (SP).

Legados dos jesuítas

Ao longo desses 470 anos de história, os jesuítas deixaram um grande legado. Pe. Contieri destaca quatro elementos fundamentais desse trabalho. O primeiro é o reconhecimento do território nacional. “Como apontado na elaboração da primeira cartografia brasileira, os jesuítas foram os primeiros a percorrer o Brasil de norte a sul. A primeira questão dessa consciência nacional foi dada pelos jesuítas pelo conhecimento que eles tiveram do território nacional”, aponta ele. “Esse é um conhecimento agudo, capaz de descrever com uma riqueza de detalhes impressionante não só a natureza, mas também os costumes. Explorando o território, eles iam aglutinando as pessoas em torno deles, em torno dos lugares onde iam ficando. Nisso, os jesuítas foram fazendo essa ou aquela vila, fundando cidades e assim por diante”, diz.

O segundo elemento ressaltado por Pe. Contieri é a preocupação dos jesuítas com as pessoas. “De maneira prioritária, eles passaram a se preocupar com os indígenas que eram ameaçados, inclusive, pela Coroa Portuguesa por meio da escravização e assim por diante. Essa preocupação com as pessoas vai fazer, em primeiro lugar, com que os jesuítas se adaptem aos costumes dos indígenas e não simplesmente importem coisas da Europa”, afirma.

ensinamento da doutrina cristã é o terceiro ponto. Pe. Contieri salienta que, ao abordar esse tema, devemos levar em consideração o contexto da época. “Quando falamos de história e de um período tão distante, nós não podemos esquecer a questão da consciência possível. É importante ressaltar que não podemos julgar o passado com a consciência que temos hoje. Desse modo, um dos elementos que deu identidade a este País, e a Companhia foi responsável por isso, é a fé. A fé cristã e a fé católica”, explica.

Para padre Contieri, o quarto elemento marcante da atuação da Companhia de Jesus no Brasil é a educação.Os jesuítas descobrem a educação como um meio eficaz de promover o bem comum, portanto, a educação vai dar, também aqui no Brasil, uma perspectiva de identidade. Sem educação, não há identidade, pois é ela que nos permite dizer quem somos e isso não só como pessoas, mas também quem nós somos como comunidade e nação. A educação promovida pela Companhia de Jesus patrocinou essa consciência nacional”, afirma.

Em 1550, os jesuítas criaram o primeiro colégio do Brasil, em Salvador (BA), sendo responsáveis, nos anos seguintes, pela fundação de inúmeras instituições de ensino nos mais variados cantos do território brasileiro. O legado jesuíta é percebido não só na educação, referência até hoje como ensino de qualidade, mas também na cultura e na ciência, entre outras áreas. É importante ressaltar ainda que os jesuítas foram fundadores das primeiras cidades brasileiras.

Jesuítas e a juventude

Desde os primórdios da chegada dos jesuítas no Brasil, o envolvimento dos trabalhos desenvolvidos com a sociedade local sempre teve grande parte com os mais jovens, direta ou indiretamente. E atualmente essa articulação se faz cada vez mais ativa, seja pela rede de educação, obras sociais ou pelo Programa MAGIS Brasil. Duplamente escolhida como frente de trabalho, seja como Preferência Apostólica da Província ou Preferência Apostólica Universal, é com as juventudes que a Companhia de Jesus enxerga a possibilidade de um futuro esperançoso. Como afirmou o Padre Arturo Sosa, SJ, Superior Geral da Companhia de Jesus, “só os jovens, com suas perspectivas, que podem nos ajudar a compreendermos melhor a mudança de época que estamos vivendo e sua promissora novidade. Queremos caminhar com eles, discernir essas possibilidades e encontrar a Deus nas profundidades da realidade.“.

De modo especial, é visível a fertilidade dos frutos que o Programa MAGIS Brasil vem trazendo com sua articulação nacional em rede, em mais de 20 locais de trabalho espalhados em diversos estados do país. Este projeto vem auxiliando jovens na construção de seu projeto de vida, na promoção e defesa da vida, formando homens e mulheres conscientes e que sejam mais para os demais. É com imensa gratidão que o MAGIS Brasil, com poucos anos de história, se enxerga como parte importante desses 470 anos de projetos transformadores, afinal, “o Amor consiste mais em obras do que em palavras” (Santo Inácio de Loyola).

 

Fonte: Jesuítas Brasil
A edição completa dessa matéria foi publicada na 50ª Edição do informativo Em Companhia (Nov/Dez 2018)

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