Gleison Pereira, SJ
A vocação é sempre uma resposta ao convite “Vinde e Vede” de Jesus, por isso, responder ao chamado do Senhor é, antes de tudo, uma experiência de escuta e confiança. Esta escuta vem ganhando novas cores e novos sentidos na Amazônia, ecoando no sussurro das árvores, no canto dos rios, no clamor dos migrantes e refugiados, no riso e no choro dos jovens. Nas terras de Macunaíma, em Boa Vista, tenho descoberto, todos os dias, como a vocação jesuíta se realiza em meio às tensões e a beleza dessa terra sagrada.
A Amazônia é um lugar onde Deus tem se revelado a mim na diversidade dos povos originários e suas culturas, nos migrantes que atravessam fronteiras em busca de um recomeço e nos jovens que sonham com um futuro mais pleno e digno. Aqui, tenho aprendido que a missão do jesuíta não é apenas fazer, mas ser presença viva de Deus. Do Deus que caminha ao lado, que arma sua tenda e acolhe, escuta e sofre com eles.
No Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), tenho o privilégio de acompanhar pessoas que, mesmo em meio os desafios, não deixam que a esperança desapareça. Entre elas, destaco os jovens que chegam ao Brasil carregando sonhos e o desejo de uma vida nova, repleta de oportunidades. Esses jovens, com suas histórias, são testemunhas vivas de que a esperança, mesmo em meio às dificuldades, é uma graça de Deus que não nos deixa sós.
A espiritualidade inaciana tem sido a base para todos os trabalhos e acompanhamentos dos jesuítas na Diocese de Roraima, principalmente, no acompanhamento dos jovens da PJ, da Pastoral Universitária e outros. A proposta do Projeto de Vida, inspirado na experiência do autoconhecimento por meio da oração inaciana, tem nos ajudado a colaborar para que jovens indígenas e não indígenas façam a experiência de reconhecer que Deus chama, não apesar de suas histórias, mas através delas.
Deste modo, todos os jesuítas que estão em Boa Vista/RR têm desenvolvido o acompanhamento por meio de um enfoque vocacional, num compromisso comunitário com a cultura vocacional. Destaco os acompanhamentos dos jovens indígenas da Serra da Lua, onde têm-se promovido o aprofundamento na própria identidade como forma de reconhecer o Deus que se revela na comunidade e na partilha; a proposta de oferecimento de aprofundamento espiritual e doutrinal à jovens universitários; na promoção de encontros vocacionais junto com outros religiosos e religiosas por meio do SAV; com o acompanhamento, oferta de retiros e acompanhamento espiritual a fim de colaborar com o encontrar a Deus que nos chama por nossa vida.
Destaco especialmente alguns jovens vocacionados que enfrentam desafios consideráveis, vindo de áreas indígenas ou cidades do interior do estado, percorrendo estradas de terra em condições precárias para participar dos encontros vocacionais e das atividades para jovens em Boa Vista. Esses gestos de perseverança e fé me lembram que, como jesuíta, sou chamado a responder com esperança e firmeza ao convite do Senhor.