Sílvio Marques Sousa Santos, SJ
Diretor do SARES, secretário da equipe dinamizadora do SJPAM
e membro da Comissão do Apostolado Intelectual da Companhia de Jesus
O Chamado à Missão na Amazônia
A Amazônia, com sua vastidão de florestas, rios e povos, é um dos biomas mais importantes do planeta. Além de sua riqueza natural, ela abriga uma diversidade cultural e espiritual que desafia e inspira a missão evangelizadora da Companhia de Jesus – SJ. Trabalhar nesta região é, acima de tudo, responder a um chamado profundo que a Companhia Universal nos faz por meio das suas quatro preferencias apostólicas especialmente, no caminhar com os pobres e no cuidado da casa comum.
Desafios e Esperanças na Missão Jesuíta
O contexto da missão da SJ na Amazônia é marcado por uma realidade complexa. De um lado, há a beleza e a generosidade da natureza, que nos convida a contemplar a presença de Deus em todas as coisas. De outro, enfrentamos desafios urgentes, como o desmatamento, a exploração predatória dos recursos naturais, a violência contra os povos indígenas e comunidades tradicionais, e a falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação. Nesse cenário, a missão jesuíta se faz presente por meio de um trabalho que busca integrar fé, justiça e ecologia. No nosso caso particular, isso se concretiza através do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (SARES), um dos centros da Rede de Promoção da Justiça Socioambiental.
Para nós do SARES, um dos maiores desafios é a busca de recursos para seguir provendo a justiça socioambiental. No entanto, essa mesma realidade, além de nos oferecer a oportunidade de testemunhar o Evangelho de forma inculturada, respeitando e valorizando as tradições locais, nos permite trabalhar em parcerias e em rede.
A Vocação Jesuíta e o Compromisso com os Vulneráveis
A vocação jesuíta se manifesta de maneira especial na Amazônia por meio do compromisso com os mais vulneráveis. Inspirados pelo exemplo de Santo Inácio de Loyola, que nos convida a “encontrar Deus em todas as coisas”, buscamos estar presentes onde a vida mais clama por justiça. Isso se traduz em iniciativas como o apoio às comunidades indígenas na luta por seus territórios, a formação de lideranças locais, e a promoção de projetos de educação, que atendam às necessidades das populações mais isoladas.
São muitas as histórias que marcam profundamente meu trabalho na região. Nossos compromissos com a formação de lideranças populares através do curso sobre ecologia integral na Área Missionária Santa Goret, te reunido mais de 100 pessoas. O interesse e a disposição desse povo sofrido, mas que não desiste da luta, são inspiradores. Outro exemplo é a resistência do Povo Mura, impactados pela implementação do mega projeto – Potássio do Brasil – que invade e usurpa suas terras em Autazes (AM). Estar do lado desses povos, nos enche de alegria e compromisso em testemunhar o reino, mesmo sob forte pressão e ameaças.
Espiritualidade e Defesa da Vida
Em encontros com essa comunidade indígena, que luta para proteger seu território de invasores, ao ouvir suas histórias de resistência e fé, pude perceber como a espiritualidade indígena e a espiritualidade cristã se entrelaçam na defesa da vida e da criação. Foi um momento de profunda graça, no qual pude ver claramente como a missão jesuíta se realiza no serviço aos outros e no cuidado com a criação.
O cuidado com a Amazônia dialoga diretamente com os valores inacianos e a missão jesuíta. A ecologia integral, tema central na encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, nos lembra que tudo está interligado. Cuidar da Amazônia é cuidar da humanidade, é proteger os mais pobres e vulneráveis, e é responder ao chamado de Deus para sermos guardiões da criação. Nesse sentido, a espiritualidade inaciana nos convida a uma conversão ecológica, a um modo de vida mais simples e solidário, e a um compromisso concreto com a justiça socioambiental.
Projetos e Iniciativas Jesuítas na Amazônia
Entre os projetos que merecem destaque está o trabalho realizado pelo Serviço Jesuíta Pan-Amazônico (SJPAM), que reúne iniciativas de diversas obras jesuíticas na região. Esses projetos incluem a formação de agentes de pastoral, o apoio à educação intercultural, a defesa dos direitos dos povos indígenas e a promoção de alternativas econômicas sustentáveis. Além disso, destacamos o envolvimento de jovens e leigos nessa missão, fortalecendo a ideia de que o cuidado com a Amazônia é uma responsabilidade de todos.
Por fim, gostaria de ressaltar que a vocação jesuíta na Amazônia é um chamado contínuo à conversão. É um convite a sair de nós mesmos, a mergulhar na realidade do outro e a discernir, em cada momento, como melhor servir ao Reino de Deus. A Amazônia, com seus desafios e belezas, nos ensina que a missão não é apenas algo que fazemos, mas algo que nos transforma. E é nessa transformação que encontramos a verdadeira realização de nossa vocação.
Ad Maiorem Dei Gloriam.





