“Era conduzido por caminhos antes inimagináveis”
Na vida de um/a santo/a, mais que contemplá-lo/a na sua glória, é bom considerar sua caminhada para a santidade: é o Espírito do Senhor que conduz. “O santo é aquele que é humano por excelência”. Um/a santo/a é a irrupção original e única do Espírito de Deus. Uma maravilha sem comparação que invade a história e permite que seja dito o indizível e experimentado o Transcendente.
A presença de um/a santo/a ultrapassa nossa estatura. Algo de maior se levanta, seduzindo-nos, atraindo-nos e surpreendendo-nos. Uma imagem, um modelo e um diretriz se apresenta à consciência das pessoas e comunidades. Os santos cristãos são personagens de limiar, de fronteira, são pessoas de atitude excêntrica: é sempre o Outro quem os conduz.
O heroísmo deles é deixar-se conduzir
Deixar que se manifeste a força divina ali onde é maior e mais evidente a fraqueza humana. “Neste tempo Deus o conduzia da mesma maneira que um mestre de escola conduz um discípulo: ensinando-o” (Santo Inácio, Aut. 27). “Sereis santos, porque eu sou Santo” (Lv 11,45).
Ser santo é ser dócil para deixar-se conduzir pelos impulsos de Deus, por onde muitas vezes não sabemos e não entendemos. Seus caminhos não são os nossos caminhos. Este “deixar-se levar” pela mão providente de Deus é uma ousadia. Na vida espiritual a liberdade tem que ser ousada, mas a maior ousadia é deixar-se levar. “Inácio seguia o Espírito, não se adiantava a Ele. Deste modo era conduzido com suavidade para onde não sabia. Aos poucos o caminho se lhe abria e o percorria sabiamente ignorante, colocando, simplesmente, seu coração em Cristo” (Padre Nadal).
Deixar-se levar é uma ousadia porque pressupõe a ação de Deus, um Deus que impulsiona e que impulsionará sem limites. É colocar-se na disposição espiritual por excelência de “deixe-me levar para me colocar com o filho na cruz” (Santo Inácio). É também uma ousadia porque a pessoa confia cega e descansadamente na força do Senhor que não falha. Nesse processo, o/a santo/a se converte em teoforo, alguém que tem sua natureza transformada na do Deus que o habita. Seu comportamento no mundo é imagem fiel do comportamento do próprio Deus, que é princípio e garantia da verdade, do bem, da justiça, da misericórdia, da compaixão.
Ser pessoa inaciana santa é arriscar-se em Deus
É privar-se das humanas certezas em nome da Sua Verdade. É excluir-se das seguranças e estabilidades do mundo. Por isso, a santidade é surda aos critérios do mundo, ao cálculo utilitarista, ela não sucumbe às idolatrias do progresso, da eficiência, da produtividade. O mundo moderno exige uma nova forma de santidade: a santidade da vida cotidiana, da resposta à Providência divina em meio às rotinas do tempo, uma caridade tecida nos pequenos gestos cotidianos.
Surge a imagem de um/a santo/a que é filho/a do momento e da situação presente, cujo agir se processa no mundo em que está encarnado. Não é o trivial ou o excepcional que distingue a santidade do ato: o que importa é sua correspondência à Vontade de Deus expressa na situação concreta. O/a inaciano/a que passou pela experiência dos Exercícios Espirituais é aquele/a que, na loucura santa, revela uma pulsão de vida para o mundo, é um biófilo (amigo da vida); é um/a cooperador/a, agindo sob o primado da escuta da Palavra de Deus dita na e pela situação.
Dialogar, com Deus e com o mundo
Diante de uma realidade que ameaça o ser humano pelo anonimato, pelo artificialismo, pela massificação, o santo da atualidade restaura a inviolabilidade do sacrário mais íntimo da existência individual seu núcleo original enquanto pessoa: o diálogo com Deus. Um diálogo que se dá dentro do mundo, não para negá-lo, mas sim para injetar no interior das veias deste mundo a graça transfiguradora da caridade.
Texto Bíblico: 1Ts 4, 1-12 / Ef 1, 3-14 / 1Cor 1, 1-9 / Cl 1, 3-13 / 2Tm 1, 6-12 / Cl 1, 21-23
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