“Há diferentes tipos de viagem; algumas delas são sagradas”
– A liberdade ou a necessidade de sair do “lugar” em que estamos
Não podemos peregrinar sem dispor-nos sinceramente a ultrapassar as fronteiras e os esquemas pré-concebidos que muitas vezes nos fecham e nos dão segurança. Isto não nos deixa livres para encontrar a Vontade de Deus. A um peregrino não lhe basta simplesmente percorrer com seu olhar ou com sua fantasia o mapa de sua peregrinação. O importante, na experiência dos Exercícios Espirituais, é deixar que o Evangelho nos abra ao dom de nós mesmos em total disponibilidade.
O que se requer é colocar-se a caminho, seguindo as pegadas dos Magos, fazendo opções e usando desvios, “pondo o amor mais nas obras que nas palavras”, lançando-se pessoalmente a ações concretas. Somos capazes de abandonar o que é familiar, no pleno sentido da palavra, de renunciar a quaisquer certezas e costumes, para mergulharmos nas penosas situações da vida dos homens, sobretudo dos mais marginalizados e despossuídos?
– A estrela ou a necessidade que temos de reorientar nossa rota
Os sábios do Oriente poderiam ter ajudado a Herodes a encontrar o Rei esperado por seu povo. Mas com uma condição: que esse reconhecimento significasse para Herodes deixar de continuar reinando como reinava. Em outras palavras, precisava de uma mudança de rota, de atitude na relação com Deus e com os outros.
– O caminho: totalmente singular e generoso
Os Magos deram-se conta de que o caminho para a morada do Menino devia ser empreendido contra a corrente. Nosso caminho para Deus, como o de Cristo, não pode ficar determinado e nem condicionado pela astúcia de Herodes. Devemos entrar nos Exercícios Espirituais com nossa vida. Temos nos colocado a caminho arrastando os pés ou “procurando andar avante no caminho do divino serviço?” (Santo Inácio). Mais ainda, temos nos lançado a “correr pelo caminho de Cristo nosso Senhor?”.
O lugar onde se encontra o Menino está relacionado com a sorte de nossos irmãos e irmãs e, em particular, dos mais necessitados. Poderíamos tomar outro caminho para Deus a não ser o dos pobres?
Para que sejamos capazes de indicar aos outros o caminho que conduz a Jesus, precisamos de uma profunda experiência de Deus. Existe a possibilidade de pretender mostrar o Caminho a outros confiando somente em nossos discursos e em nossas capacidades?
– Fazer a experiência dos Exercícios Espirituais como verdadeiros companheiros de viagem
O texto de Mateus nos recorda também que os sábios do Oriente não peregrinaram cada um por sua conta. Iam em grupo. Como comunidade orante, rezemos uns pelos outros. Quando juntos, cada um dos companheiros de viagem faz suas descobertas e procura passá-las para outros, a riqueza da luz se amplia. “Exilados sereis em todas as terras paternas. Que o futuro e o mais distante sejam a causa do vosso hoje. Onde subirei com a minha nostalgia? De todas as montanhas procurei terras maternas e paternas. Mas não encontrei lar em lugar algum. Sou um fugitivo em todas as cidades, um adeus em todas as portas. Sou expulso de terras maternas e paternas. Assim, agora, amo somente a terra de meus filhos, ainda não descoberta, no mar distante. Para lá direciono minhas velas, numa busca sem fim.” (Nietzsche)
Na oração: A oração não se realiza somente num tempo determinado, com um certo ritmo e frequência, ela não se fecha sobre si mesma, mas cria uma atitude aberta que penetra todas as nossas condutas. Esta atitude é feita dos mesmos elementos que surgem na oração: atenção pacificada, escuta, silêncio, paz.
Texto Bíblico: Mt 2, 1-12
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