Como se dá o Éfeta de Jesus como caminho  catecumenal no mistério pascal?
(Escrito por Pe. Felipe Assunção Soriano, SJ)

Os relatos com o ressuscitado são todos instrumentos catequéticos da fé pascal da Igreja. Neles, celebra-se o processo catecumenal que a comunidade primitiva faz junto a Cruz e à fonte batismal. Por meio desses relatos, a Igreja refaz o seu percurso do exterior para o interior quando a comunidade diz aos catecúmenos “Éfeta” (Abra-se) [Mc 7,34]. Experiência semelhante faz Santo Inácio em Manresa, quando passa a reconhecer “todas as coisas novas em Cristo” (EE 30). Seu “Éfeta” se dá quando se abriram os olhos e ouvidos de seu mundo interior. É nas águas do Rio Cardoner que ele faz sua imersão nesse mundo novo daqueles que Cristo atravessou o caminho. 

Os vários relatos do ressuscitado confirmam seu ofício de consolador, pois, como atestam os discípulos de Emaús, nosso coração ardia pelo caminho quando ele nos explicava as Escrituras (Lc 24).  De fato, o que a experiência inaciana quer nos ensinar é que o místico é um homem aberto, isto é, aquele ou aquela que acolheu o convite do Senhor que nos abre os olhos, solta a nossa língua e abre nossos ouvidos. Esse Éfeta que a espiritualidade nos dá nos abre a Deus, ao mundo e aos outros, como lugar do encontro. Aceitar que não sabemos tudo é o que nos abre a outro modo de saber e de entender a si mesmo, pois, quase sempre, por crer que sabemos demais, impedimos que irrompa o mistério.

Ir de encontro aos demais

Na Autobiografia de Inácio, uma mulher antiga e experiente em assuntos espirituais, no início de seu caminho de conversão, faz-lhe uma prece intrigante: “Rezo a Deus que o Senhor Jesus queira te aparecer um dia” (EE 21). De fato, Inácio não compreendeu nada do que aquela senhora havia lhe dito. É diante do fluir do rio que ele faz sua experiência de nascer de novo, deixando-se reconciliar com Deus como fez Nicodemos (Jo 3,1-21). Essa experiência de encontrar o Senhor, na medida em que supera seus próprios escrúpulos, fará de sua vida terra fértil para o serviço aos demais.

Como se lê nos Evangelhos da Ressureição, depois do encontro com o Senhor vem a missão. Como o ofício do Senhor ressuscitado é consolar os seus, parte Inácio de Loyola servir às almas, isto é, ajudar aos demais e continuar sua obra. Diante de tantos sinais de morte que se impõe em nossa sociedade, como eu faço a experiência da ressurreição? Como experimento os efeitos da sua ressurreição em minha vida? Como a minha fé me faz fazer a experiência do Éfeta, abrindo-me ao serviço?

Texto Bíblico  Ef 2,4-10

 

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