E assim, no princípio do ano 23 partiu para Barcelona para aí embarcar. E ainda que se ofereciam algumas companhias, quis ir sozinho, porque toda sua ideia era ter só a Deus por refúgio. (Aut. 35).
Escrito por Pe. Antônio Anderson Rabêlo Costa, SJ
A vida do jovem Inácio de Loyola foi atravessada por altos e baixos. Os ares das cortes espanholas o levavam a sonhar com grandes feitos, conquistas militares, fama, prestígio, e quem sabe, “roubar” o coração de uma donzela, a quem desposaria. Entretanto, em seu caminho de conversão ele faz a experiência de ser encontrado por Cristo, especialmente no período de sua convalescência em Loyola, sua terra natal. Na solidão de seu quarto, enquanto se recuperava do incidente com a bala de canhão, Inácio desfruta da companhia de alguns livros que despertarão nele o desejo de mudança de vida.
Dois anos mais tarde, graças a esses livros, o jovem basco se coloca a caminho, deixando-se conduzir por Deus. Inácio se reconhece como peregrino, como um homem em caminho, traça para si um itinerário, expressão de seu desejo mais genuíno de seguir os passos de Jesus. Deixando sua terra natal ele passa por alguns santuários marianos, faz intensas penitências e planeja dirigir-se à Terra Santa, para ali gastar a vida. Mas seu afã de uma experiência autêntica o leva a muitos escrúpulos. Seu maior desejo era colocar somente em Deus sua confiança, afeição e esperança, rejeitando as facilidades que sua vida pregressa poderia oferecer.
Inicialmente, o peregrino experimenta um grande conflito interno. Ele quer ir à Jerusalém, mas as condições não lhe são favoráveis. A comunicação nesses lugares se dava através do latim ou do italiano, idiomas que ele pouco sabia. Surgem ao longo do caminho pessoas dispostas a ajudá-lo em sua peregrinação à Terra Santa. Mas ele resiste a aceitar qualquer intervenção na qual não veja claramente a mão de Deus. Aconselhado por seu confessor, um monge beneditino, e vestido de maneira simples, inicia seu peregrinar “sozinho”, quase imperceptível, abandonando-se completamente à Providência Divina.
A preparação da viagem à Terra Santa ajudou Inácio a crescer humana e espiritualmente. Pouco a pouco, ele se desprenderá do voluntarismo e daqueles fervores indiscretos, que marcaram os primeiros anos de sua conversão. Assim, superando os desafios iniciais ele compreenderá que confiar em Deus é também confiar nas mediações que o Senhor coloca em nosso caminho. O peregrino aprenderá a ler em sua vida os sinais da Providência de Deus. Ao mesmo tempo que irá percebendo que deve rezar e trabalhar como se tudo dependesse de si, sabendo que na verdade tudo depende de Deus.
Texto bíblico: Mc 10, 17-30.
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