O Papa aos jesuítas húngaros: lutar contra o “retrocedismo” na Igreja, doença nostálgica

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A importância do testemunho, o dom da ternura, o diálogo entre as gerações. Estes são alguns dos temas abordados na reflexão de Francisco, em Budapeste, durante o encontro com os confrades da Companhia de Jesus, no âmbito de sua 41ª viagem apostólica internacional

Vatican News

“É preciso falar com os jovens como adultos, não como crianças”, porque eles precisam de “testemunho e autenticidade”. Também na Igreja é preciso combater o “indietrismo” (“retrocedismo”), a reação contra o moderno”, que se revela “uma doença nostálgica”. Estas são algumas das reflexões que o Papa fez em seu encontro privado com os jesuítas da Hungria, realizado na nunciatura de Budapeste no sábado, 29 de abril de 2023, um dia após sua chegada à capital húngara. 

Coerência de vida

Francisco respondeu a sete perguntas feitas por alguns dos 32 jesuítas presentes. Dentre eles também o provincial, pe. Attila Andras. A primeira pergunta dizia respeito aos jovens, em particular ao cuidado pastoral dedicado a eles e ao modo como se comportar com esses fiéis. O Papa sugeriu uma palavra, “testemunho”, que “significa coerência de vida”, caso contrário “acabamos – observou – como aquela canção de Mina, palavras, palavras, palavras”, mas “sem testemunho, nada se faz”. Testemunho significa também “coerência, porque os jovens não toleram a duplicidade de linguagem” e “com os jovens em formação é preciso falar como adultos, como se fala com homens, não com crianças”. Em seguida, o Pontífice sublinhou a importância do diálogo entre jovens e idosos, porque “a profecia de um jovem é aquela que nasce de uma relação de ternura com os idosos”.

A viagem à Hungria

Um dos padres jesuítas perguntou a Francisco o que o levou a retornar a Budapeste. “A razão – foi a resposta – está no fato de que na primeira vez tive que ir à Eslováquia, mas o Congresso Eucarístico foi em Budapeste. Então eu vim aqui por algumas horas. Fiz uma promessa de voltar, e voltei”. Falando novamente dos jovens, a atenção voltou-se para duas palavras: autenticidade e ternura. Esta última “é uma das palavras-chave de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus”. Depois, deixar aos jovens a liberdade de serem autênticos, “que digam – pediu o Papa – o que sentem”.

Abusos e condenações

O Papa foi então questionado sobre como é possível amar como irmãos também quem cometeu abusos sexuais, oferecendo a compaixão que o Evangelho pede para todos, mesmo para quem foi condenado. “Não é nada fácil, sua pergunta é muito forte”, respondeu Francisco, explicando que “o abusador deve ser condenado, mas como irmão”. Neste sentido, “condená-lo deve ser entendido como um ato de caridade”, porque “há uma lógica, uma forma de amar o inimigo que se expressa também desta forma”, embora não seja “fácil de compreender e viver”. “Também eles – continuou – são filhos de Deus. É necessária uma pastoral. Merecem um castigo, mas também um cuidado pastoral”.

A dramática história do padre Jálics

O Papa também foi convidado a falar sobre sua relação com o padre Ferenc Jálics, o jesuíta que em 1976, na Argentina, foi encarcerado nas masmorras da ESMA, um dos maiores centros de prisão, tortura e extermínio da ditadura argentina. O regime militar tentou envolver o então provincial padre Bergoglio que fez o possível para salvá-lo. “Jálics veio logo ter comigo e falámos”, disse o Papa recordando a sua libertação, ocorrida depois de ter sofrido “ameaças e torturas”. “Eu o aconselhei a ir para a casa de sua mãe nos Estados Unidos. A situação era muito confusa e incerta. Então – continuou ele – desenvolveu-se a lenda de que fui eu quem os entregou para serem presos. Saibam que há um mês a Conferência Episcopal Argentina publicou dois volumes com todos os documentos relativos ao ocorrido entre a Igreja e os militares. Vocês encontram tudo lá.” Francisco também lembrou o outro jesuíta preso, Orlando Yorio. “Quero acrescentar que quando Jálics e Yorio foram levados pelos militares, a situação na Argentina estava confusa e não estava nada claro o que deveria ser feito. Fiz o que eu sentia no coração de fazer para defendê-los. Foi – disse ele – uma história muito dolorosa”.

O perigo do “retrocedismo”

Por fim, foi feita uma pergunta sobre o Concílio Vaticano II e em particular sobre como encontrar a voz de Deus amando o próprio tempo. “O Concílio ainda está sendo implementado e – disse Francisco – sei que a resistência é terrível. Há um restauracionismo incrível”. Daí o convite a não ter medo de mudar, porque “o retrocesso nunca preserva a vida. É preciso mudar”, enquanto hoje “o perigo é o “retrocedismo”, a reação contra o moderno”, e esta é “uma doença nostálgica”. “Este é o motivo – explicou – pelo qual decidi que agora é obrigatório obter a concessão para celebrar de acordo com o Missal Romano de 1962 para todos os sacerdotes recém consagrados. Depois de todas as consultas necessárias, decidi porque vi que aquela medida pastoral bem feita por João Paulo II e Bento XVI era usada de forma ideológica, para voltar atrás”.

Imagens: Vatican News

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