Guilherme Augusto Siebeneichler

Na imensa tapeçaria da fé e da espiritualidade, a juventude emerge como um lugar teológico enriquecedor, onde as vozes dos jovens ecoam como mensageiras divinas. No Documento 85 da CNBB, a visão de considerar o jovem como esse espaço teológico ganha vida, afirmando que a cultura juvenil traz consigo uma teologia própria, um discurso de Deus comunicado através da juventude. Neste contexto, nesse artigo vamos olhar um pouco para o elo entre a juventude e a espiritualidade, reconhecendo a importância de compreender e nutrir essa conexão essencial.

Os jovens enfrentam um desafio muito grande de se encontrar no mundo, a juventude vive uma experiência de “não-lugar” muito grande, isso porque, o mundo que conhecemos e tudo ao nosso redor é completamente pensado, organizado e arquitetado conforme a perspectiva de vida dos adultos. Dessa forma, a linguagem, os símbolos, as representações, as relações, os meios… tudo que está a nossa volta vive coberto por um véu de “adultificação” da qual os jovens incansavelmente tentam remover, criando espaços, linguagens e formas próprias de ser e estar no mundo. Isso não é diferente com a espiritualidade, o jovem quer olhar para a figura de Cristo e ver nele o seu amigo, que o acompanha para o colégio, para a faculdade, para a praça, para os jogos online, para o shopping, para os clubes… Um Deus com o seu rosto, um Deus jovem como ele.

Os jovens anseiam por uma experiência de fé que transcenda os limites do tradicional, que respire nas atividades cotidianas, que traga significado para sua experiência de oração trazendo elementos que já está habituado, as músicas que ouve em casa, os elementos que vê nas ruas, os cheiros e os sabores que remetem suas experiências e tudo aquilo que transpareça suas relações.

O desejo por um Deus próximo, um companheiro nas alegrias e desafios do dia a dia, inspira os jovens a verem o divino em cada momento, em cada risada compartilhada e em cada lágrima derramada. Eles anseiam por uma fé que se entrelace com sua cultura, permitindo-lhes traduzir suas emoções, dúvidas e aspirações em uma linguagem que ressoa com o coração de Deus.

Ao contrário do que se pensa, os jovens não querem se distanciar do Sagrado, eles só não querem viver uma experiência de fé adultificada. Querem ser jovens que creem em algo, com propósito de vida claro, com sonhos, com liberdade de errar, com esperança, compartilhando experiências… Os jovens querem que a linguagem que falam seja a linguagem que possam falar com Deus. Querem poder traduzir suas angústias e alegrias em poesia, rap, funk, paródias, memes e piadas para que Deus ria, dance, gargalhe, apoie, se emocione junto com eles. Os jovens querem viver uma experiência de fé que respeite sua cultura, sua origem, e isso não significa negar a tradição e a vida em comunidade, muito pelo contrário, é crescer em harmonia com a comunidade que aprende e partilha com a juventude.

Apesar dos desafios e das complexidades do mundo moderno, a esperança brilha como uma estrela guia na trajetória da juventude. Ao considerarmos a juventude como lugar teológico, abrimos as portas para uma conexão profunda com o sagrado. Ao trazer Deus para perto como um amigo jovem e compassivo, a espiritualidade se torna um espaço de autenticidade e liberdade, onde cada jovem pode expressar sua fé de maneira criativa e sincera.

Na esteira do Documento 85 da CNBB, uma nova abordagem se desenha. As pastorais e movimentos que escutam a voz da cultura juvenil, que respeitam sua linguagem e compreendem sua busca por um Deus que os entende e os acompanha em cada esquina da vida, oferecem um solo fértil para o crescimento da fé. Assim, a juventude se torna não apenas destinatária, mas também protagonista de sua própria jornada espiritual, guiada pela mão amorosa de Deus.

Ao final dessa reflexão, emerge a visão de um horizonte de esperança, amor e compaixão. Cada palavra compartilhada aqui visa inspirar pastorais, líderes e, especialmente, os próprios jovens a continuarem a edificar uma realidade onde a fé seja uma ponte entre a tradição e a contemporaneidade. Que a fé na juventude e a compreensão da juventude como um lugar teológico renovem a experiência espiritual de todos, nos conduzindo a contribuir para a construção do Reino de Deus neste mundo em constante transformação.

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