Pe. Edson Tomé Pacheco Silva, SJ- Secretário para Juventude e Vocações da Provincia dos Jesuítas do Brasil 

Em tempos de inúmeras mudanças, buscas e transformações, pensar em um projeto de vida faz todo sentido para quem deseja trilhar novos caminhos.  O método que Santo Inácio de Loyola aponta para a construção de um projeto de vida, é de uma pedagogia própria para o acompanhamento das pessoas, dos jovens em seu processo humano e espiritual, como aconteceu no primeiro momento em Barcelona, Alcalá e Salamanca, mas, sobretudo, no segundo momento em Paris, com os “primeiros companheiros”. Assim, em sua práxis, reconhecemos como um dos pontos mais relevantes a forma como Inácio e os seus companheiros se tornaram modelos no processo de acompanhamento. Inspirados na sua pedagogia, apresentaremos de forma resumida quatro elementos que seguem guiando a nossa forma de acompanhar a juventude.

Aproximar-se da juventude

Aproximar-se é o primeiro elemento do processo de conhecimento e acompanhamento de Inácio aos jovens. Essa aproximação se dá por meio da “Conversa Espiritual”. Dado que em sua Autobiografia consta que Inácio procurava pessoas para “falar das coisas de Deus”, esse desejo de Inácio – aproximar as pessoas de Deus – é o ponto de partida para iniciar uma aproximação de si com o outro em questão.

Nesse contexto, ele se interessa pela realidade, pela vida de cada um dos jovens que encontra em seu caminho. Coloca-se diante deles de maneira atenta e cuidadosa em Barcelona, Alcalá e Salamanca e também em Paris. Seu modo de se aproximar dos jovens nos remete ao modo de Jesus, quando, na passagem dos discípulos de Emaús, se aproxima, reconhece, escuta e orienta os jovens discípulos, acolhendo as inquietudes e questionamentos próprios de seu momento vital.

Assim, nos alegra saber que, seguindo os passos de Jesus e de Inácio, encontramos um modo de aproximar, acolher e acompanhar os jovens.

Escutar os jovens

O segundo elemento de sua práxis está marcado pela escuta. Essa atitude é definida como a ação de “prestar atenção ao que se ouve e àquele a quem se escuta. Ou seja, dar ouvidos, atender a um aviso, um clamor ou sugestão”[1]. Escutar implica estar aberto à palavra de Deus, acolhê-la e pô-la em prática, mas, além disso, implica também empatizar, colocar-se na experiência do outro, centrar a atenção na pessoa, na sua capacidade de discernimento e escuta profunda. Tais sensibilidades também foram experimentadas por aqueles primeiros companheiros de Inácio. Em outras palavras, a escuta, tanto na experiência do Peregrino, quanto na nossa, tornou-se um ministério, um modo de estar a serviço dos jovens.

Caminhar com os jovens

Caminhar, para Inácio, foi uma constante em sua vida. “O jovem Inácio descobriu-se como peregrino e, desde então, não abandonou este estilo de vida”[2]. Caminhar com os jovens é, desta forma, um convite que ele nos faz para a construção de um futuro cheio de esperança. Nesse sentido, “caminhar com” implica caminhar ao lado, envolve conhecer o outro, compartilhar a vida, acompanhá-lo em seus processos.

Nesta perspectiva, caminhar ao lado dos jovens implica, portanto, partir da própria realidade, de suas buscas, das suas necessidades e desejos. Devemos levar em conta o modo próprio de Inácio para realizar nossa ação apostólica junto aos jovens. Deste modo, ele nos orienta a caminhar tendo em vista “as pessoas, tempos e lugares”[3], para que melhor possamos fazer caminhos de vida junto aos jovens.

Acompanhar os jovens

Inspirados no modo de acompanhar de Inácio, somos convidados a viver sempre em Companhia, não como um fim em si mesmo, mas como um meio para alcançar a “maior glória de Deus e ajuda para as almas”. Assim, o acompanhamento é um meio para alcançar a formação integral que se procura como objetivo principal do apostolado juvenil. Para Inácio, acompanhar vai além de estar ao lado do outro, se trata da ação daquele que auxilia o acompanhado em seu desenvolvimento humano e espiritual, requer a vontade de percorrer um trecho do caminho juntos, estabelecendo uma relação significativa que vai desde a missão de saber acompanhar à de saber acompanhar de forma pessoal, comunitária e integralmente a cada pessoa.

Em síntese, acompanhar os jovens como Inácio o fazia, através de conversas e Exercícios Espirituais, é um desafio para nós como Igreja e, por isso mesmo, propomos que seja um modo de ser e estar com eles, como confirma García de Castro, quando diz que “Inácio inclui este aspecto de ajuda na compreensão e orientação da vida”. Orientação, sobretudo espiritual, é um fim que se traduz em uma ajuda concreta, diretamente relacionada com as conversações espirituais cujas características são a aproximação, a escuta, o caminhar junto e o acompanhamento, próprios da pedagogia de Inácio.

Eis a importância destes quatro elementos característicos que, experimentados por Inácio e elaborados em seu modo de proceder e estar com a juventude, podem ser respostas diante do contexto atual: são elementos que podem ajudar a responder aos apelos da Igreja a uma nova evangelização, com especial ênfase no serviço aos e com os jovens, e dá grande sentido e significado à partilha e ao acompanhamento dos jovens na construção de um futuro esperançoso, como nos desafia a terceira Preferência Apostólica Universal da Companhia de Jesus[4].

A vida de Inacio, em especial sua relação com os jovens de seu tempo, nos inspira a fazer caminho de vida como fez Jesus, junto aos jovens. Este caminho como vimos parte de uma aproximação, escuta e acompanhamento dos jovens na construção do seu projeto de vida. Um meio seguro para este itinerário são os Exercícios Espirituais inspirador de nosso método. Inspirados por estas Preferencias Apostólicas, desejamos estar a serviço da juventude como rede apostólica, na construção de vida cheio de esperança.

Referência Bibliográfica

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[1] Diccionario de la lengua española, Real Academia Española. vol. I, 964. Madrid: Espasa-Calpe, 2001.

[2] Cf. Josep Lluís Iriberri Díaz. “El camino ignaciano de Loyola” en Manresa 93 (2021): 379.

[3] Concordancia Ignaciana. Editado por Ignacio Echarte. Bilbao Santander-St.Louis: Mensajero-Sal Terrae Institute of Jesuit Sources, 1996, p. 64. 

[4] Acompanhar os jovens na criação de um futuro cheio de esperança.

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