Vatican News
Um convite a não ceder aos pedidos que “humilham”, que muitas vezes é preciso fazer “para se sair bem”, abrindo caminho num contexto, o do mundo do trabalho, “poluído” por modelos difíceis de aceitar. Modelos em que o prestígio social e o dinheiro parecem ser os únicos objetivos. Ambientes em que o “desempenho” das máquinas “não é tudo”, e onde é fundamental apoiar “a fantasia pela qual Deus nos fez todos diferentes”.
Sair das “tocas”, somos feitos “para o ar livre”
“Somos ‘peças únicas’, ajudemo-nos uns aos outros a recordar isto”, é a exortação que o Papa Francisco fez aos participantes da terceira edição do “LaborDì”, o projeto que visa “promover e colocar o trabalho digno de volta no centro, “promovido pela ACLI de Roma.
“Talvez o trabalho tenha aparecido para vocês até agora como um problema dos adultos. Como bispo idoso de Roma, gostaria de lhes dizer: não é assim!”, explicou Francisco, destacando o compromisso e a energia necessários para o crescimento do novas gerações. Cada um pode “ter desperdiçado boas oportunidades”, mas nunca deve se cansar de sair de suas “tocas”: aqueles refúgios construídos quando surgem “confusões e ameaças”.
Mas, na realidade, fomos feitos para a luz, para o ar livre. Assim, depois de passar pela adolescência, o cenário do mundo se abre diante de vocês. Pode parecer cheio e distraído quando vocês chegam; e, no entanto, ainda falta a contribuição de vocês, daquilo que sempre vocês esperam. Com vocês – e gostaria de dizer a cada um: com você – o novo entra no mundo. Tudo, realmente tudo pode mudar.
Uma “revolução suave” baseada nas relações e unicidade
A partir do “grito da Terra” e do seu “modelo errado de desenvolvimento”, o Papa reflete sobre a interligação presente entre cada ser humano citada na Encíclica Laudato si’. O mundo do trabalho também é “humano”, embora por vezes contaminado “por dinâmicas e comportamentos negativos que por vezes o tornam inabitável”. Nos ambientes profissionais são precisamente os “nossos laços” que contam mais do que os “números e desempenhos”. Cultivá-los, unindo-os à “consciência” da própria “unicidade, que independe de qualquer sucesso ou fracasso”, pode desencadear uma “revolução suave”.
O coração, “lugar de decisões”, onde “surgem os sonhos”
O Papa recorda a imagem do canteiro de obras, proposta durante a segunda edição do LaborDì, também familiar para os trabalhos em vista do Jubileu. Este ano, porém, ele nos convida a refletir sobre o coração. Ele, presente “também nas mensagens que vocês trocam todos os dias”, é na Bíblia “o lugar das decisões”, onde “nascem as aspirações”, “surgem os sonhos”, “sente-se a resistência” e “a preguiça se insinua”.
Vocês conhecem seu coração: guarde-o! Às vezes ele pode ser assustador e podemos fingir que não o sentimos, mas ele continua sendo nosso, inviolável. Sempre podemos voltar a ele. E lá, se vocês tiverem o dom da fé, saberão que Deus espera por vocês com infinita paciência.
O “sopro no pescoço” que causa solidão e resignação
O Papa denuncia a velocidade muitas vezes opressiva que caracteriza o contexto de trabalho atual. O “sopro no pescoço” de tantas pessoas, os seus “muitos pedidos, às vezes muitas indicações e recomendações”, não devem alienar as novas gerações, extinguindo seus sonhos, tornando-as “solitárias e resignadas”.
O coração sabe perceber e, quando for o caso, precisamos pedir ajuda e nos unir a quem nos conhece e se preocupa conosco. É preciso escolher.”
O risco de se tornar “engrenagens de uma máquina”
A entrada no mundo do trabalho acontece, segundo Francisco, “juntos”. Caso contrário, o risco é de se tornar “engrenagens de uma máquina”, onde quem “têm poder pode fazer qualquer coisa conosco”. Um modelo contrário a esta alienação é o da ACLI, onde “as intuições do coração” se transformam em “laços sociais”.
O coração busca amizades, pensa sem se isolar, se aquece identificando-se. O coração pode ser flexível e generoso. Ele sabe abrir mão de algo, mas perseguindo o ideal. Ele sabe estabelecer objetivos, mas se preocupa com as formas como eles são alcançados.
A imaginação humana, “que cria o que ainda não existe”
A falta destes requisitos coloca em perigo “a dignidade humana de quem trabalha, ou não encontra trabalho, ou se adapta” a um trabalho “indigno”. As tarefas das máquinas devem ser acompanhadas pela “inteligência” inteiramente “humana” do coração, “a razão que ouve as razões dos outros, a imaginação que cria o que ainda não existe”.
Os adultos não corrompam a “novidade” dos jovens
Por fim, Francisco agradece aos adultos presentes, convidando-os a não submeterem os jovens “às razões da existência”. “Não corrompamos a novidade”, acrescenta, exortando-os a apresentá-los passo a passo “aos longos tempos e até ao peso das responsabilidades”, confiando “naquilo que é semeado em seus corações”. Ali germina “o trabalho que não aliena, mas liberta”.