“Nenhum caminho será longo…”
Escrito por Pe. Marcos Venturini, SJ
Inácio partiu sozinho, mas, nunca esteve só. Ele deixou seu irmão e despediu-se de seus empregados (Aut. 13) para viver um caminho que ele era movido a viver. Uma aventura humana e espiritual que transformaria radicalmente a sua vida e se tornaria, como atestamos ainda hoje, inspiração para muitos homens e mulheres que desejam viver como seguidores e seguidoras de Jesus.
No caminho, seu coração e sua mente foram, gradativamente, sendo dilatados para acolher tanta graça que o Senhor lhe concedia, não sem provações. Inácio precisou abrir-se para as surpresas de Deus. Diante delas, perguntava-se sobre o que deveria fazer (Aut.50). Essa dinâmica de intenso discernimento levou-o para mais longe do que ele imaginava no começo de sua peregrinação.
O peregrino foi percebendo que esse caminho, iniciado só, continuaria em companhia de várias pessoas que, além de o ajudar com conselhos, estudos e o que mais fosse necessário, compartilhariam a caminhada, tornando-se, também, peregrinos e peregrinas de Deus (Aut. 56-57).
O que sabemos é que Deus não nos abandona. Que Ele sempre escolheu estar junto do seu povo, para que este pudesse caminhar (Ex 13,21-22). E escolheu, de forma insuperável, estar no meio nós, Emanuel (Mt 1,23), que estará conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20). Nosso Deus é o Deus que sempre encontra uma forma de estar conosco em nossa caminhada, mesmo que não o percebamos (Lc 24,16).
Também nós, em alguns momentos de nossa vida, somos tomados por um ímpeto que nos impele a sair. E precisamos sair. É o êxodo necessário para encontrarmo-nos, para rompermos com o que nos aprisiona. Sem sairmos de nós mesmos não vamos superar as dinâmicas que nos impedem de crescer em liberdade. Sair do amor próprio, querer e interesse (EE 189) é a atitude fundamental de quem quer caminhar com sentido e quer chegar.
Não sabemos o que encontraremos pelo caminho. Mas, se caminharmos abertos e abertas, seremos surpreendidos e surpreendidas por esse Deus presente, que fala de muitos modos (Hb 1,1), através das pessoas que encontramos. Nesses encontros, tecemos laços que nos sustentam. Verdadeiras experiências de amizade no Senhor. São essas pessoas, os amigos e amigas que “testemunham ao nosso coração que há sempre caminho, e que nenhum caminho será demasiado longo” .
Em um mundo tão complexo e desafiante, marcado por crises que tocam todas as pessoas, as ajudas no caminho contribuem para o nosso necessário discernimento. Depois de olhar a realidade com os olhos da fé, amar a criação como Deus ama e acreditar na humanidade, é preciso decidir como e onde estar, como e onde colocar-se a caminho. Nosso caminhar não é determinado, não está delimitado. Sabemos para onde caminhamos, porém, para chegar, é preciso tomar decisões cotidianas, que vão colorindo o nosso horizonte. Nessas horas, podemos, confiantes, olhar para o lado e reconhecer que não estamos sozinhos. Podemos contar com a ajudar de tantos homens e mulheres que também escolheram viver em direção ao Reino de Deus.
Tenhamos coragem de sair e iniciar os caminhos que Deus nos convida a começar ou continuar, mesmo que eles sejam montanhosos (Lc 1, 39), o que indica dificuldade, imprevisibilidade. Aprendamos de Maria que, apressadamente, seguiu para espalhar a alegria com o seu testemunho de confiança em Deus, serviço e cuidado.
Texto bíblico: Ex 13, 17-22 ou Lc 24, 13-35
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