Acompanhar as juventudes: trilhar caminhos entre as veredas da existência

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Padre Edson Tomé Pacheco, SJ

Abrir o coração às perguntas fundamentais do sentido da vida é o que nos caracterizada como humanidade (DN, n.8). “E a vida, e a vida o que é? Diga lá, meu irmão”, cantou Gonzaguinha. “E agora, José?”, como poetizou Carlos Drummond de Andrade, o que fazer com essa ávida busca pelo sentido de ser e existir capaz de fazer arder o coração. Este é o lugar teológico, por excelência, de uma pastoral juvenil e vocacional.

Na Conferência de Aparecida, os Bispos da América Latina e Caribe já haviam reconhecido que estamos presenciando uma “mudança de época” (DAp, n.44). Em tempos de multiplicação e transformação de referenciais balizadores da cultura, há uma procura exacerbada por certezas e por respostas imediatas. Busca por respostas a respeito de quem se é, quem são os outros e que é isso para o qual damos o nome de mundo. Respostas, aparentemente firmes, passam a servir de porto seguro aos indivíduos desenraizados à deriva nessa cultura fragmentada que desmancha no ar (FT, n.13).

Neste tecido histórico e cultural “caracterizado por um pluralismo sempre mais evidente e por uma disponibilidade de opções cada vez mais ampla”, a comunidade dos discípulos de Jesus busca colocar-se a serviço por meio do acompanhamento aos jovens (DF, n.91). A juventude é caracterizada como o momento na vida individual e coletiva de mudanças fundamentais. Fase de desenvolvimento da personalidade marcada por sonhos em transformação. Pois, por relações que se constroem e por opções realizadas, os jovens progressivamente constroem seu projeto de vida com os pés na história e os olhos no horizonte.

Diversamente que há 50 anos, os projetos de vida não são estáticos e cristalizados. Atualmente ocorrem processos de redesenho da própria trajetória mesmo que decisões “sólidas” tenham sido tomadas. Como é o caso de jovens que após fazer uma faculdade, buscam a vida religiosa e os seminários. Ou, ainda, jovens que alteram os cursos da faculdade e fazem transições de carreira depois de dez anos dedicados a uma profissão. Inexoravelmente, um dos elementos fundamentais, se não o mais fundamental, da vida juvenil é a busca pelo sentido da existência.

Os jovens buscam construir seu caminho por meio da procura por autonomia da família, dos marcadores sociais vigentes e até das instituições tradicionais religiosas (ChV, n.137). Assim, para trilhar as veredas da própria existência urge se diferenciar e demarcar a singularidade de sua trajetória com suas alegrias e angústias.

Os jovens estão impulsionados a irem em frente, mas sem cortar com as raízes. A construir autonomia, mas não na solidão (DF, n.65). A comunidade cristã amparada na experiência fundante do Filho de Deus, desenvolveu o ministério do acompanhamento. Essa experiência de serviço à comunidade já recebeu muitos nomes: Direção Espiritual, Orientação Espiritual, Acompanhamento Espiritual etc.

Os nomes são determinados pelo contexto histórico e eclesial. Na atualidade, por vezes, esse ministério é capturado por concepções enviesadas. Por isso, entendemos ser importante definir o Acompanhamento Espiritual como “uma relação permanente entre duas pessoas, em que uma delas, por meio de conversas frequentes ajuda a outra a buscar e realizar a vontade de Deus, segundo sua vocação particular” (DOMÍNGUEZ O livro do Discípulo: O acompanhamento espiritual, p. 14).

Nesse sentido, o acompanhamento espiritual é um processo a ser realizado em nível pessoal e grupal. Disto se depreende que não é uma receita pronta, mas um caminho de ajuda cuja centralidade é a pessoa acompanhada. Como tal, é um caminho trilhado junto com os jovens para ajudá-los a fazer escolhas e trilhar as veredas da existência nesse momento de grandes mudanças históricas.

Portanto, o acompanhamento não é balizado em primeiro lugar por códigos doutrinais e morais. Em primeiro lugar está a singularidade de cada jovem que se apresenta em sua busca de integração das dimensões da vida a fim de se colocar no caminho de seguimento a Jesus Cristo. “Neste processo, articulam-se três instâncias: a escuta da vida, o encontro com Jesus e o diálogo misterioso entre a liberdade de Deus e a da pessoa” (DF, n.91). O centro do acompanhamento é o encontro entre o jovem buscador e o Cristo amigo acolhedor e misericordioso. “Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11, 28).

REFERÊNCIAS

CONSELHO ESPICOPAL LATINO-AMERICANO E CARIBENHO. Documento de Aparecida: V Conferência do Episcopado Latino-americano e do Caribe. Brasília: CNBB; São Paulo: Paulus, 2007.

DOMÍNGUEZ, Luis M. G. O livro do Discípulo: O acompanhamento espiritual. Trad. Raniéri de Araújo. 1.ed.  Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2024.

PAPA FRANCISCO. Chistus Vivit. Brasília: CNBB, 2019.

PAPA FRANCISCO. Dilexit nos. Brasília: CNBB, 2024.

PAPA FRANCISCO. Fratelli Tutti. Brasília: CNBB, 2020.

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