“Ah! Comigo o mundo vai modificar-se.
Não gosto do mundo como ele é.”
Carolina Maria de Jesus

Dandara, Anastácia, Luíza Mahín, Tereza de Benguela, Aqualtune, Zeferina, Maria Felipa, Acotirene, Adelina, Tereza do Quariterê, Esperança Garcia, Maria Firmina, Eva Maria, Tia Simoa, Zacimba Gaba, Laudelina… São muitas Marias, Joanas, Margaridas, Ritas, Cláudias, Antônias, Marieles, Aparecidas. Mulheres que escreveram com suas vidas histórias de resistência e transformação.

No Brasil, nascer mulher e negra em um contexto de sociedade patriarcal, machista, misógina e racista é um desafio que mais de cinquenta por cento da população feminina vive.

Na história de luta das mulheres, a pauta da mulher negra nem sempre foi evidenciada como uma demanda específica. Entretanto, no contexto de discussões e lutas pela igualdade de gênero, mostra-se ser imprescindível compreender a dinâmica perversa do racismo e a forma como ele se estruturou – e se estrutura, em nossa sociedade, sobretudo os seus impactos na vida das mulheres negras.

Dados indicam que mulheres negras têm o menor rendimento mensal do Brasil[1]. De acordo com dados do IBGE de 2019, o Brasil tem mais de 11,4 milhões de famílias formadas por mães solo, dessas, 7,4 milhões são de mulheres negras. Esses mesmos dados indicam que há maior número de mulheres negras em situação de pobreza, o que dificulta o acesso à educação, à informação e à segurança. Para essas mulheres, as políticas de promoção da igualdade de gênero e de enfrentamento à violência – quando existentes, são mais inacessíveis.

A partir dos dados que evidenciam as desigualdades sociais como fruto de um histórico processo de racismo estrutural, as informações sobre o encarceramento no Brasil indicam que, dentre as detentas mulheres, 63,55% são negras e 35,59% são brancas[2].

Uma breve análise dessas informações somada a uma percepção lúcida da realidade indicará que as mulheres negras são mais pobres, têm menos acesso aos direitos básicos e estão distantes – em muitos aspectos, da rede de atendimento e apoio.  Não são raros, também, os casos de racismo institucional, que distanciam as mulheres negras das políticas de proteção e promoção de suas vidas.

Dessa forma, é importante compreender que o debate sobre as desigualdades de gênero precisa reconhecer a diversidade de experiências, histórias e condições das mulheres, sobretudo a partir das perspectivas de classe, étnica e racial. Assim, conhecer as formas pelas quais as desigualdades de gênero se produzem e o que as sustentam, é condicionante para o enfrentamento do sexismo e do racismo, práticas que geram violência e morte cotidianamente.

O entendimento de que a desigualdade de gênero é vivenciada de forma diversa pelas mulheres é ponto de partida para a superação de todas as formas de opressão e para a construção da sociedade justa que tanto sonhamos.

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta
com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social
onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo.”
Angela Davis  


[1]De acordo com o estudo Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil, do IBGE, de março de 2020, mulheres negras ganham R$ 1.394 por mês em média, já os homens brancos recebem mais que o dobro (R$ 3.138), em média. Mulheres brancas ganham 70% a mais (R$ 2.379) e os homens negros 26% a mais (R$ 1.762).

 

[2] Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen, disponível em http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=975.

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