Deus me livre de ser normal

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Há uma normalidade doentia instalada no interior dos educadores.

Reprimindo seu nobre potencial e condicionando-os a levar uma vida sem meta, sem fulgor, sem paz, sem significado, sem vigor, sem criatividade, sem felicidade, sem entusiasmo. O normal é o tipo imaginado pela coletividade, por ela condicionado, e dela dependente. Esta normalidade  é uma mediocridade que não admite ou até mesmo condena tudo o que se encontra fora de suas normas e o considera como a-normal. O grande prejuízo decorrente desta patologia é que ela inibe o bom senso, a iniciativa e a criatividade de umas poucas mentes inquietas e corações inconformados que querem propor algo diferente.

Normal é o mesmificado

Sempre buscando ajustar-se ao coletivo, perde sua identidade, e faz todas as concessões aderindo à dança dos modismos que se sucedem. É subserviente à estrutura existente e, sem a mínima possibilidade de optar e discordar adota as mesmas idéias, entroniza os mesmos costumes, as mesmas normas. Demonstra, com isso, que sua segurança está em enturmar-se, falta-lhe a salvadora coragem de ser diferente.

Com o termo mesmismo, Erich Fromm denominou o fenômeno de cada um precisar se parecer com o outro. É o eterno demônio da comparação. Inconsciente da importância de viver livre e autêntico, a pessoa está perdida de si mesma, deixando-se arrastar pela pressão de seu ambiente. Ser normal é ser doente, normalidade doentia é a vida pequena, mesquinha, atrofiada, é sempre fazer as mesmas coisas e não imaginar que elas poderiam ser realizadas de uma forma diferente. É a doença de praticar o que todos praticam sem refletir, sem questionar se existiria outra forma de fazer isso ou aquilo.

Na missão educativa, onde regras, normas, conceitos, fórmulas, planejamentos, metas e objetivos têm de ser explicitados, normatizados e cumpridos, a possibilidade de nos deixarmos contaminar pelo perigoso vírus da normalidade é muito grande. Quantas vezes, ao iniciarmos um processo, ao invés de refletir sobre a sua totalidade e a partir daí elaborarmos seus passos, por mera comodidade abrimos um arquivo antigo, dali retiramos um velho projeto e apenas damos uma maquiagem nova, repetindo a dose.

A máxima da normalidade é esta: sempre fizemos assim e deu certo. Desconhecendo o por quê e para quê de sua missão, o educador  tem atrofiadas, em seu interior, a vida e a juventude, preguiçosos ou tímidos. Não pode o ser humano dar vazão a uma intuição ou a uma ideia criativa enquanto tem a mente e o coração formatados pela automação (ação mecânica e sem sentido).

A verdade não está com os normais

Com isso, as doenças degenerativas se apressam a se manifestar antes do tempo. Para identificar se existe o vírus latente da normalidade é necessário um autodiagnóstico, observando os seguintes aspectos:

– Geralmente os normais  são pessoas passivas e acomodadas diante da própria vida. Optam por contidas reações aos fatos, produzindo respostas irrelevantes e previsíveis, conformadas ao óbvio e ao que propõe a massa não-pensante que habita parte significativa do planeta.
– Os normais, em geral, encontram argumentos previsíveis para justificar o porque não fizeram alguma coisa ou porque desistiram de um desafio.
– Há um grau crescente de robotização no normal. Ele vive sob efeito da auto-mimese, que nada mais é do que a auto-imitação. O indivíduo que imita a si mesmo tende a se fechar num ciclo vicioso. Sempre as mesmas convicções, as mesmas soluções ou os mesmos discursos. Faz as coisas de forma repetitiva, utilizando baixo potencial criativo. Não surpreende e abre mão do direito de criar e de ser diferente. É aquele cujo desejo mais profundo ainda dorme e que teme a ação perigosa de acordar.
– E há uma característica decisiva que identifica um normal: ele não aprendeu a perguntar. Não questiona o que lhe chega aos ouvidos. E também não questiona suas próprias atitudes. O senso crítico e auto-crítico é sofrível. Sua curiosidade intelectual é rasa, o que o impede de se aprofundar nas questões com que se depara na vida.
– Na pessoa normal predomina o dinamismo do medo e não do desejo.
– A necessidade de mudanças gera, na pessoa normal, insegurança, obscuridade no seu horizonte.

Uma pessoa se humaniza quando abandona os trilhos normais e previsíveis, penetrando em trilhas criativas e inusitadas. O imenso desafio da existência humana implica na ousadia de transgredir, consciente e responsavelmente, as amarras da normalidade, romper as velhas rotinas consagradas e se aventurar no mar aberto da vida. Neste caso, a pessoa realmente saudável é a que expressa um certo desajustamento justo, uma rebeldia criativa, uma angústia mobilizadora.

Texto Bíblico  Lc 5, 1-11

 

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