A dinâmica da busca marca a caminhada humana e define os rumos da vida. Vive-se em permanente busca e só à medida que se vive para buscar é que a vida se torna, de verdade, vida, com mais sabor e sentido. O que se busca define e determina o que é a vida da pessoa. “Diga-me o que buscas e te direi quem és”.
No interior de cada um ficou aguçada a dinâmica da busca, aquela que mantém a vida de todo coração e o incita na busca do que vale, do que conta e do que é essencial. O coração humano foi feito para encontrar a razão mais profunda do seu viver; há uma inquietude latente em seu interior que o faz peregrino do sentido. Tão fundamental como é o respirar, toda pessoa precisa assumir sua condição de navegadora do infinito.
Somos, por natureza, eternos buscadores e garimpeiros do novo.
A vida se torna mais vida à medida que se vive para dar razão a essa busca. Uma busca que exercita o coração e o modula na sinfonia amorosa do coração de Deus. Ele é a única e completa razão da busca do coração humano. Para Inácio, “buscar e encontrar a Vontade de Deus” é a finalidade última do ser humano. A expressão “buscar” aparece 24 vezes nos Exercícios Espirituais (cf. 1; 4; 11; 15; 16; 20; 76; 87; 189). O desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a chama da dinâmica da busca. É uma chama que se mantém acesa em proporção ao sentido e à importância grande de quem ou do que se busca.
É preciso aceitar viver à busca de Deus
A Ele é que se deve buscar. Por iniciativa, Ele busca a todos, vai ao encontro de cada um. Ninguém fica de fora. Uma lógica de contínua busca deve permear o coração do inaciano, para aprender a viver da busca d’Ele, o Senhor, e da busca de todos os outros, colocando-se a serviço da vida, unicamente por amor.
É importante ter claro o que é que se busca. No supermercado da vida pode-se buscar tudo. As ofertas são muitas. Há força de sedução nas ofertas de busca. Viver para buscar “outras coisas” é correr o risco de perder o rumo, priorizar o menos importante, apegar-se ao que é passageiro, não perceber o que é e onde está o essencial. Busca-se também por outras tantas razões. Muitas dessas razões geram prejuízos graves porque a busca desemboca em algo sem sentido, vazio.
A força da busca que move o próprio coração
exige cuidado e especial atenção
Toda busca inclui a purificação de motivações para permitir, como resultado da busca, o encontro de tudo o que garante e promove a vida. É exercício de discernimento constante: O quê busco? Por quê busco? Tem sentido e valor aquilo que busco? Para onde me leva a força da busca? É preciso buscar sempre. Importa, pois, buscar o que dá garantias de fecundidade para a vida.
Uma das passagens bíblicas mais belas que descrevem o sentido, o valor e a dinâmica desta busca é aquela relatada por Mateus 2, 1-12. De fato, todo o relato e todos os protagonistas são pessoas que estão em busca: Herodes e toda Jerusalém, os sumos sacerdotes e os escribas do povo e, obviamente, os Magos. Todos envolvidos na inquieta busca do Messias.
No entanto, quanta diferença há nas motivações e nos êxitos desta busca. Herodes não é somente o cínico e perverso rei que teme pela estabilidade do seu trono. É também aquele que vive na mentira e que tem medo da verdade. Quer, portanto, buscar a verdade, mas para eliminá-la radicalmente da face da terra. Tudo faz para conservar egoisticamente o seu poder. Este é o seu ídolo e este é o seu verdadeiro deus. Os sumos sacerdotes e os escribas sabem onde buscar a verdade, tem a Escritura, são “experts” em indagar e investigar a verdade, mas permanecem fechados e resistentes em sua posição. No fundo estão a serviço do poder e tem medo de perder seu lugar.
Quão diferente, contrastante e diametralmente oposto é a atitude de busca dos Magos! Estes sábios do Oriente, com humildade perscrutam por entre as pegadas da ciência em busca da verdade e quando descobrem um vestígio dela, põem-se em movimento. Viram a estrela e partem, seguindo seu caminho; e no seu trajeto se informam, procuram, indagam, retomam o caminho. Com a paciência do diálogo, com a humildade da espera, com a alegria da esperança, esses vão ao encontro da Verdade.
Viver é desafiador na medida em que viver é buscar
A pessoa inaciana é alguém que vislumbrou a “estrela”, aponta-a e, junto com os outros, deslocam-se seguindo sua direção. O caminho da vida é marcado por percalços, dúvidas, fracassos, mas seu coração é portador da força insubstituível da busca. Como os Magos, porque busca, desperta no outro o ser buscador que está latente. No processo dos Exercícios, a busca é um dinamismo determinante da mente e do coração do exercitante. Aquele que busca, movido por um espírito de aventura e por uma causa, quando encontra, vibra de alegria, como na parábola do buscador de pérolas.
Texto Bíblico: Lc 11,9-13 / Lc 12,22-32 / Mt 13,44-46
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