Traduzido do artigo “Ten Elements of Ignatian Spirituality”, publicado no site ignatianspirituality.com

A espiritualidade inaciana é uma das visões espirituais mais influentes e difundidas de nossa era. Há uma história por trás dela. E ela possui muitas características. Este artigo fornece uma introdução a ela.

  1. Começa com um soldado ferido sonhando acordado em seu leito de doente.
    A espiritualidade inaciana está enraizada nas experiências de Inácio de Loyola (1491–1556), um aristocrata basco cuja conversão a uma fé cristã fervorosa começou enquanto ele se recuperava de ferimentos de guerra. Inácio, que fundou a Companhia de Jesus (os jesuítas), ganhou muitos insights sobre a vida espiritual ao longo de uma jornada espiritual de décadas, durante a qual se tornou especialista em ajudar os outros a aprofundar seu relacionamento com Deus. Sua base na experiência pessoal torna a espiritualidade inaciana uma espiritualidade intensamente prática, bem adequada para leigos e leigas que vivem vidas ativas no mundo.
  2. “O mundo está carregado da grandeza de Deus.”
    Esta linha de um poema do jesuíta Gerard Manley Hopkins captura um tema central da espiritualidade inaciana: sua insistência de que Deus está em ação em todos os lugares – no trabalho, nos relacionamentos, na cultura, nas artes, na vida intelectual, na própria criação. Como disse Inácio, todas as coisas no mundo nos são apresentadas “para que possamos conhecer Deus mais facilmente e retribuir o amor mais prontamente.” A espiritualidade inaciana coloca grande ênfase em discernir a presença de Deus nas atividades cotidianas da vida comum. Ela vê Deus como um Deus ativo, sempre em ação, nos convidando para um caminhar cada vez mais profundo.
  3. É sobre chamada e resposta – como a música de um coro gospel.
    Uma vida espiritual inaciana foca em Deus agindo agora. Ela fomenta uma atenção ativa a Deus junto com uma resposta imediata a Ele. Deus chama; nós respondemos. Esse ritmo de chamada e resposta da vida interior torna o discernimento e a tomada de decisões especialmente importantes. As regras de discernimento de Inácio e sua abordagem astuta para a tomada de decisões são bem consideradas por sua sabedoria psicológica e espiritual.
  4. “O coração tem suas razões, que a razão desconhece.”
    A conversão de Inácio de Loyola ocorreu quando ele se tornou capaz de interpretar o significado espiritual de sua vida emocional. A espiritualidade que ele desenvolveu coloca grande ênfase na vida afetiva: o uso da imaginação na oração, discernimento e interpretação dos sentimentos, cultivo de grandes desejos e serviço generoso. A renovação espiritual inaciana foca mais no coração do que no intelecto. Ela sustenta que nossas escolhas e decisões frequentemente vão além do meramente racional ou razoável. Seu objetivo é uma oferta ávida, generosa e de todo coração de si mesmo a Deus e ao seu trabalho.
  5. Finalmente livre.
    A espiritualidade inaciana enfatiza a liberdade interior. Para escolher corretamente, devemos nos esforçar para estar livres de preferências pessoais, apegos supérfluos e opiniões formadas. Inácio aconselhou um desapego radical: “Não devemos fixar nossos desejos em saúde ou doença, riqueza ou pobreza, sucesso ou fracasso, uma vida longa ou curta.” Nosso único objetivo é a liberdade de fazer uma escolha de todo coração para seguir a Deus.
  6. “Resume à noite o que fizeste durante o dia.”
    A mentalidade inaciana é fortemente inclinada à reflexão e ao autoexame. A oração inaciana distinta é o Exame Diário, uma revisão das atividades do dia com o objetivo de detectar e responder à presença de Deus. Três perguntas desafiadoras e reflexivas estão no coração dos Exercícios Espirituais, o livro que Inácio escreveu para ajudar os outros a aprofundar suas vidas espirituais: “O que fiz por Cristo? O que estou fazendo por Cristo? O que devo fazer por Cristo?”
  7. Uma espiritualidade prática.
    A espiritualidade inaciana é adaptável. É uma visão, não um programa; um conjunto de atitudes e insights, não regras ou um esquema. O primeiro conselho de Inácio aos diretores espirituais foi adaptar os Exercícios Espirituais às necessidades da pessoa que entrava no retiro. No coração da espiritualidade inaciana está um profundo humanismo. Ele respeita a experiência vivida das pessoas e honra a vasta diversidade da obra de Deus no mundo. A frase latina “cura personalis” é frequentemente ouvida nos círculos inacianos. Significa “cuidado da pessoa” – atenção às necessidades individuais das pessoas e respeito pelas suas circunstâncias e preocupações únicas.
  8. Não faça sozinho.
    A espiritualidade inaciana valoriza muito a colaboração e o trabalho em equipe. Ela vê o vínculo entre Deus e o homem como um relacionamento – um laço de amizade que se desenvolve ao longo do tempo, assim como um relacionamento humano. A colaboração está embutida na própria estrutura dos Exercícios Espirituais; eles quase sempre são guiados por um diretor espiritual que ajuda o retirante a interpretar o conteúdo espiritual da experiência de retiro. Da mesma forma, missão e serviço no modo inaciano são vistos não como uma empresa individualista, mas como trabalho feito em colaboração com Cristo e com os outros.
  9. “Contemplativos na ação.”
    Aqueles formados pela espiritualidade inaciana são frequentemente chamados de “contemplativos na ação.” São pessoas reflexivas com uma rica vida interior que estão profundamente envolvidas na obra de Deus no mundo. Eles se unem a Deus juntando-se ao trabalho ativo de Deus para salvar e curar o mundo. É uma atitude espiritual ativa – uma maneira de todos buscarem e encontrarem Deus em seus locais de trabalho, lares, famílias e comunidades.
  10. “Homens e mulheres para os outros.”
    Os primeiros jesuítas frequentemente descreviam seu trabalho como simplesmente “ajudar almas.” O grande líder jesuíta Pedro Arrupe atualizou essa ideia no século XX, chamando aqueles formados na espiritualidade inaciana de “homens e mulheres para os outros.” Ambas as frases expressam um profundo compromisso com a justiça social e uma entrega radical de si mesmo aos outros. O coração desse serviço é a generosidade radical que Inácio pediu em sua oração mais famosa:

Senhor, ensina-me a ser generoso.
Ensina-me a servir-Te como Tu mereces;
a dar sem contar o custo,
a lutar sem considerar as feridas,
a trabalhar sem buscar descanso,
a labutar sem pedir recompensa,
a não ser a de saber que faço a Tua vontade.

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