Gabriel Araújo Pacheco

“Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
estas ficarão”

(Memória, Carlos Drummond de Andrade)

O paradoxo do poema de Carlos Drummond de Andrade pode até fazer referência a algum caso de amor ou paixão do narrador, mas queria trazer estas simples linhas para retratar a sensação de quem, há quase um mês, viveu uma experiência dessas que criam carne e se fazem memória no coração. Os momentos fortes – até os já findados – ficam sempre presentes, cristalizados pelo afeto e pelos frutos. Momentos que se foram, mas que permanecem sempre.

Estar no MAGIS e na JMJ 2023, em Portugal, foi um presente. E quero destacar, neste relato, algumas palavras dos discursos do Papa Francisco, palavras simples e profundas que me marcaram intimamente.

Ao sermos acolhidos, na quinta-feira, na Colina do Encontro, a primeira emoção forte foi poder ver de perto um ser humano que transmite tanta paz e esperança. Do seu discurso, cheio de ternura e aconchego, duas partes me chamaram a atenção:

“Vocês foram chamados pelo nome; não somos chamados automaticamente; Jesus nos chamou pelo nome. São palavras escritas no coração e Ele nos chama porque somos amados como somos, sem maquiagem. Para Deus ninguém é um número. Cada um é um rosto, é um coração”.

“Na Igreja há espaço para todos. Para todos. Ninguém sobra. Assim como somos. Todos, todos, todos… Mas eu sou um(a) desgraçado(a), há lugar para mim? Há lugar para todos!
Um Deus que ama e chama e uma Igreja que é Mãe que acolhe a todos. Uma sensação incrível a de saber que a fé que professamos tem sentido e pode ser, ainda hoje, sinal de acolhida e caridade.

Na Vigília, depois de uma intensa caminhada, escutar palavras que consolam foi revigorante. O Campo da Graça, numa noite de sábado, no Parque Tejo, repleto com mais de 1 milhão de jovens do mundo inteiro, ficou num silêncio admirável para ouvir o Papa Francisco falar de pressa, de alegria, de raízes, de apoio mútuo. A pressa de Maria que não titubeia em sair para servir; a alegria dela que a move, uma alegria missionária; as raízes daqueles que, em nossa história, foram luz e que hoje nos inspiram a difundir essas alegrias com raízes para todos os cantos; a ajuda daqueles que, vendo os caídos e desanimados, não se põem na posição de um poder que, de cima, oprime, mas no apoio daqueles que se abaixam para erguer os que têm dificuldades de levantar-se das quedas no caminho. Enfim, palavras de uma noite cheia de luz, uma noite de vigília cheia de movimentos, encontros, decisões. Uma noite que, como disse Francisco, nos convidou a caminhar, a aprender a caminhar com passos firmes na vida.

O domingo no Campo da Graça, num clima de despedida e gratidão, foi um dia singular. A Eucaristia, que marcava o fim de dias cansativos e felizes, intensos e especiais, foi um espaço para escutarmos as últimas palavras daquele encontro importante com um homem que nos inspira. Na Solenidade da Transfiguração de Jesus, contemplando tal imagem, o Papa nos convida a sermos resplandecentes e luminosos, mas não a luz que vangloriza e ensoberbece e que nos distancia dos outros, mas sim uma luz que brilha quando fazemos obras de amor e quando aprendemos a amar como Jesus, a Luz verdadeira que nos ilumina até nas noites mais escuras.
As últimas mensagens, sobre escutar sempre o Senhor e de nunca ter medo de dar passos nos caminhos da vida, foram conselhos para nós, jovens, que dali voltaríamos às nossas terras.

Os discursos de Francisco, juntamente com as experiências daqueles dias em Lisboa, foram para mim inspiração que motiva a seguir em frente e luz que ajuda a discernir caminhos.

Nas últimas frases, já no fim da celebração, o Papa afirmou que Lisboa foi, naqueles dias, “Casa da Fraternidade e Cidade de Sonhos”. Trago no meu coração a certeza de que, com tantas línguas, culturas que se encontraram, sementes de fraternidade foram plantadas e sonhos foram reacendidos nos corações de muitos de nós que, atentos e sensíveis, pudemos estar num momento tão lindo e marcante.

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