Experiência Inaciana: descoberta do mundo dos desejos

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“Somente Deus responde aos mais profundos desejos do coração humano”

Em Santo Inácio, o tema do desejo ocupa um lugar central. Ele havia experimentado em si mesmo a força e a energia dos grandes desejos. O desejo é como a pulsação de nossa vida; e falar do desejo é falar do ser humano em sua profundidade última, seu impulso energético vital; é uma das expressões mais nobres da pessoa.

Com o termo desejo queremos indicar aquela complexa realidade de sensações e emoções, de sonhos e aspirações, através dos quais exprimimos aquilo que mais nos atrai, aquilo para o qual se dirige o nosso olhar e que está no centro de nossa vida. O desejo não é um impulso cego e sim uma tendência significativa para algo que é importante em si mesmo; é uma força sentida, portadora de significados, uma aspiração, um impulso para conseguir aquilo para o qual a pessoa se sente feita, para a realização de seu fim último.

Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio foram qualificados como “uma autêntica escola ou pedagogia do desejo”, deles se tem dito que são uma escola para suscitar, canalizar e potenciar desejos. Os Exercícios nos ajudam a descobrir em nós formidáveis desejos e quanto mais profundamente procuramos identificar esses desejos autênticos, tanto mais eles nos revelarão o que na verdade queremos e quem somos na realidade. Ao sondar um desejo, o íntimo de nós mesmos se revelará.

“Diga-me quais são os seus desejos e lhe direi quem você é”

Para Inácio, devemos ser pessoas de “grandes desejos”: eles são as grandes avenidas pelas quais circula o melhor de cada um de nós (riquezas, intuições, criatividade, sonhos). Tudo começa no desejo, o desejo se transforma em poderoso motor que nos impele para a frente, nos impulsiona para não permanecermos inertes, paralisados. O desejo infunde ânimo, estímulo, sustenta o esforço e faz vencer os obstáculos do caminho. O desejo é a base da decisão!

Se o desejo é movimento para algo com sentido, ele é um “plasmador do futuro”, é impulso para a transcendência. O ser humano é capaz de desejar quando sai de si mesmo e mergulha num mundo maior que ele. Deus trabalha através dos desejos, suscitando atrações, movendo nosso coração, impulsionando nossa liberdade. Nos desejos mais profundos habita Deus.

“De Sua Divina Majestade, da qual procede o que se deseja” (Santo Inácio).

“Deus, quanto mais quer dar, tanto mais faz desejar” (São João da Cruz)
O desejo é indicador de Deus, transparência d’Ele, caminho para Ele. Isso porque o ser humano é fruto do desejo de Deus – Deus cria o ser humano e este sonha Deus e tem desejo d’Ele. Deus põe em nosso coração seus próprios desejos, e todo processo espiritual consiste em ir identificando os próprios desejos com os desejos de Deus. A graça de Deus intensifica o desejo e nos leva a realizar desejos que inicialmente pareciam difíceis de serem realizados. Isso pede de nós uma escuta atenta dos desejos profundos, saber levantar a folhagem do “desejo superficial” para descobrir o solo de nosso “desejo mais íntimo, mais divino”.

Um outro dado que é importante salientar: o desejo autêntico está sempre vinculado à alteridade.
Desejamos e, na medida em que o desejo nos possui, e é autêntico, nos abre ao Outro e aos outros. Os desejos mais autênticos nos conduzem para fora de nós mesmos, para a comunidade, para a comunicação… nos impulsiona ao serviço, ao compromisso, à luta.

Somos, com frequência, pessoas “carregadas de desejos, mas desprovidas de orientação” (Xavier Quinçá). Aqui é imprescindível o trabalho de discernimento da autenticidade dos desejos e de sua seleção, integração ou ordenação com respeito ao desejo básico de identificação e seguimento de Jesus Cristo. Já não se trata só de fortalecer o desejo, mas de iluminá-lo e orientá-lo corretamente. Faz-se necessário submeter à crítica evangélica o mundo de nossos desejos. É necessário fazer com que o mundo de nossos desejos fique configurado com o modo de ser de Jesus. Inácio acreditava que nossos desejos mais autênticos deveriam ser cristocêntricos.

Textos Bíblicos: Mc 10, 17-22 / Ga 2, 15-21 / Mt 6, 7-15 / Is 35 / Jó 29 / 1Rs 3, 4-15

 

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Veja também a reflexão da semana passada.

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