“Inácio seguia o Espírito, não se adiantava a Ele. Deste modo era conduzido serenamente por onde não sabia. Aos poucos o caminho se lhe abria e o percorria sabiamente ignorante, colocando, simplesmente, seu coração em Cristo” (Nadal)
Na pessoa de Santo Inácio encontramos claramente um processo de crescimento. E não vamos pensar que se trata de um processo todo programado para obter frutos pré-estabelecidos. A definição de peregrino, que ele mesmo se aplicou no fim de sua vida, comporta certa dose de riscos e de ignorância quanto ao êxito final. O peregrino é um homem livre, que gosta de cada passo em cada momento e sofre por isso, que não se acomoda num determinado lugar, que está sempre na expectativa da novidade. Na pessoa de Inácio há um caminho interior que nos ensina muitas coisas.
É alguém que não tem medo de si mesmo, capaz de se olhar em todos os aspectos e dar-se conta do que está acontecendo. Com o passar do tempo, irá se tornar capaz de reconhecer a ação de Deus. Desenvolverá uma enorme capacidade de distinguir e aceitar o momento presente para identificar o próximo passo possível e pôr mãos à obra.
Passo a passo, mas sempre em busca
No nosso pessoal processo espiritual devemos também desenvolver esta capacidade de ver quem somos nós e onde estamos, sem o temor de nos defrontarmos com respostas desagradáveis. Somente partindo da realidade de nós mesmos, que é sempre uma realidade encoberta e limitada, poderemos crescer como peregrinos para um ponto que progressivamente se mostrará sempre mais claro.
A mensagem de Inácio, como pessoa que experimentou um caminho interior, é impressionante, nos convida a desenvolver hoje algumas atitudes, como o discernimento dos espíritos e o exame de consciência, o testemunho de sua vida e a liberdade com a qual subordinava os fins intermediários a uma única meta mais importante, o respeito pelas pessoas com as quais tratou e formou, o integrar em Deus as várias etapas vividas, o abrir-se ao que virá, e o maior bem para a humanidade que ele pode nos deixar que é o itinerário dos Exercícios Espirituais.
Caminhando na escola de Inácio não se resolvem todos os problemas da vida e do amor humano, mas se adquire este processo interior e esta linguagem, que permite um diálogo mais sereno consigo mesmo, com Deus e com os outros. Ser mulher ou homem espiritual é deixar-se conduzir a cada dia pelo Espírito de Deus, que anima a luta em busca do novo céu e da nova terra, que leva a inserir-nos na trama humana e a assumir o risco da história.
A espiritualidade inaciana é um caminho estreitamente ligado à vida concreta. Deus nos chama a cada dia para o desconhecido, para o novo. Deus nos tira de casa, nos faz sair do que é nosso, da segurança, da comodidade, e nos faz buscar e entrar numa terra nova. Ao deixar-se conduzir, cada pessoa vai construindo seu caminho único, original, o seu sagrado, caminhante.
Não há dois caminhos iguais
Em um dos seus raros escritos, o sábio Sufi Hafik comenta a busca espiritual: “Aceite com sabedoria o fato de que o Caminho está cheio de contradições. O Caminho, muitas vezes, nega-se a si mesmo, para estimular o viajante a descobrir o que existe além da próxima curva. Se dois companheiros de jornada estão seguindo o mesmo caminho, isto significa que um deles está na pista falsa Porque não há fórmula para se atingir a verdade do Caminho, e cada um precisa correr os riscos de seus próprios passos. Só os ignorantes procuram imitar o comportamento dos outros. Os homens inteligentes não perdem seu tempo com isto, e desenvolvem suas habilidades pessoais; sabem que não existem duas folhas iguais numa floresta de cem mil árvores; não existem duas viagens iguais no mesmo Caminho.”
Texto Bíblico Mc 10, 46-52
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