“Embora não tivesse conhecimento de coisas espirituais, ao falar mostrava muito fervor e muita vontade de progredir no serviço de Deus” (Autobiografia 21).

Escrito pela Irmã Jomaína Araújo, ASCJ

Quem pensaria que um jovem soldado, desejoso da glória  dos homens, determinado à empreender grandes batalhas pela causa de reis humanos, se tornaria o novo soldado de Cristo? Deus Pai, em comunhão com o Filho e o Espírito Santo,  já pensava em eleger Inácio como o novo soldado de seu reinado.

Inácio foi introduzido à nova vida a partir de suas batalhas interiores, na escuta das moções, no “discernimento dos espíritos” e no contato com sua humanidade. E como valente soldado que era, sabia qual arma utilizar quando sentia-se ameaçado pelas tropas inimigas. Mas nessa batalha interior ainda era principiante, não encontrando nas práticas de piedade, nas penitências corporais, na oração, nos homens e mulheres de seu tempo, a luz para sua “noite escura” e o remédio para o seu estado de desolação, de modo que deixa cair por terra sua armadura de honra e toma as vestes de mendigo, que ora a Deus, em um grito de socorro, expressando, assim, um grande desejo do coração: “Mostra-me, Tu, Senhor, onde o posso encontrar” (Aut. 23).

À medida que Inácio experenciava o amor de Deus e o conhecimento interno de Jesus, conseguia “em tudo procurar e achar o Senhor”, na oração, nas atividades diárias e nos irmãos.

A viagem à Terra Santa foi um marco na vida do peregrino Inácio. Ele recebeu muitas graças espirituais, conforme  o relato de sua Autobiografia – “Vendo a cidade de Jerusalém teve o peregrino grande consolação” (Aut. 45). Pedro Canísio fala de como Inácio foi inflamado pelo amor de Deus ao contemplar, diante dos seus olhos, os mistérios da vida e paixão de Cristo a ponto de querer permanecer na Palestina. Assim, sentiu-se interpelado a seguir Cristo Jesus mais de perto, no seu apostolado e na sua morte. Ainda assim, pesava sobre ele a culpa e a vergonha de seus pecados, de modo que isso o fazia buscar a confissão mais vezes.

Nos perguntemos como Inácio: “Que  nova vida é esta que agora começamos”? Quando nos decidimos pela Fé, quando recebemos o batismo diz Paulo: “Assim também vós considerais-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Cf. Rm 6, 11). E ainda: “Fostes sepultados com ele no batismo, também com ele que ressuscitastes, pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cf. Cl, 2,12). Da vida de Deus recebemos a nova vida: a de filhos no Filho. Mas isso não quer dizer  que a nossa humanidade será magicamente transformada, pois a graça não anula nossa natureza humana. No hoje de nossa existência, reconhecemos o novo de Deus acontecendo?

O cristão é um campo de batalha em que disputam dois inimigos: o homem velho, agarrado com seu eu, que facilmente se corrompe ao sabor de apetites enganadores e o homem novo, em conformidade com Cristo, na justiça e santidade.

Quem de nós não traz suas batalhas, sejam elas interiores ou exteriores? Como as vivemos? Nos revestindo da armadura da autossuficiência ou nos revestindo da humildade que nos faz buscar a Deus na oração, no amor e no serviço aos irmãos e irmãs? Rememoremos as batalhas passadas com gratidão e vivamos  com esperança as presentes, pois com elas começamos a viver a nova vida já em nossa existência terrena.

Como podemos perceber no Evangelho de Lucas, Jesus fala claramente do que há de vir na vida de seus discípulos: Sereis presos, perseguidos, sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos e parentes por causa de meu nome. Mas esta será ocasião em que testemunhareis a vossa fé. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida (Cf. Lc 21,19).

Inácio é um testemunho credível de perseverança e fidelidade a Cristo Jesus no amor e no serviço.

Texto bíblico: Lc 21, 12-19

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