Fundamentar-se nas origens
“Vocês moram na casa em que Santo Inácio viveu, escreveu as Constituições e enviou os primeiros companheiros em missão para o mundo“, disse Francisco aos jesuítas.
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (03/12), na Sala do Consistório, no Vaticano, a comunidade jesuíta do Colégio Internacional de Jesus, fundado por Pe Pedro Arrupe, SJ, em 1968, que comemora 50 anos de fundação.
“Deus os fundou como jesuítas. Este jubileu é um momento de graça a fim de recordar e sentir-se com a Igreja, numa Companhia e numa pertença que tem um nome: Jesus. Lembrar significa fundamentar-se novamente em Jesus, em sua vida. Significa reiterar um não claro à tentação de viver para si mesmos. Reafirmar que, como Jesus, existimos para o Pai.”
Fundamentar
“Que em Jesus devemos viver para servir e não para ser servidos. Lembrar é repetir com a inteligência e a vontade que a Páscoa do Senhor é suficiente para a vida do jesuíta. Não precisa de mais nada. É bom retomar a segunda semana dos Exercícios Espirituais para fundamentar-se novamente na vida de Jesus, no caminho da Páscoa. Pois formar-se, é primeiramente fundamentar-se”, disse Francisco.
“Peço a vocês para que, em todas as suas coisas, se fundamentem totalmente em Deus”, disse Francisco citando São Francisco Xavier.
“Vocês moram na casa em que Santo Inácio viveu, escreveu as Constituições e enviou os primeiros companheiros em missão para o mundo. Fundamentem-se nas origens. É a graça desses anos vividos em Roma: a graça do fundamento, a graça das origens. Vocês são um manancial que leva o mundo a Roma e Roma ao mundo, a Companhia no coração da Igreja e a Igreja no coração da Companhia.”
Crescer
Depois, o Pontífice destacou a importância do crescer.
“Vocês são chamados nesses anos a crescer, aprofundando as raízes. A planta cresce das raízes que não se veem, mas juntas se sustentam. Para de dar frutos não quando tem poucos ramos, mas quando as raízes se secam. Ter raízes é ter um coração bem enxertado, que em Deus é capaz de se dilatar. Ao Deus sempre maior, responde-se com o magis da vida, com o entusiasmo límpido e impetuoso, com o fogo que arde dentro, com a tensão positiva, sempre crescente, que diz não a toda acomodação. É o ‘Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho’ do Apóstolo Paulo. É o ‘não parei um instante’ de São Francisco Xavier. É o que impelia São Alberto Hurtado a ser uma flecha pontuda nos membros adormecidos da Igreja. O coração, se não se dilata, se atrofia. Se não cresce, murcha.”
Francisco sublinhou que “não há crescimento sem crises, não há fruto sem poda ou vitória sem luta. Crescer, criar raízes significa lutar incansavelmente contra toda mundanidade espiritual, mal pior que pode nos acontecer, como dizia Padre de Lubac. Se a mundanidade afeta as raízes, adeus frutos e adeus planta. Para mim, este é o maior perigo neste tempo: a mundanidade espiritual que leva ao clericalismo e vai adiante. Ao invés, se o crescimento é um agir constante contra o próprio ego, haverá muito fruto. Enquanto o espírito inimigo não cessará de tentar vocês a buscar seus consolos, insinuando que se vive melhor quando se obtém o que quer, o Espírito amigo os encorajará, suavemente no bem, a crescer na docilidade humilde, indo adiante, sem ruptura e sem insatisfação, com a serenidade que vem somente de Deus”.
O Papa citou dois sinais positivos de crescimento: liberdade e obediência.
“Duas virtudes que crescem se caminham juntas. A liberdade é essencial, pois ‘onde se acha o Espírito do Senhor aí existe a liberdade‘ (2 Cor 3, 17)”.
“O Espírito de Deus fala livremente a cada um através de sentimentos e pensamentos. Não pode ser fechado em tabelas, mas acolhido com o coração, em caminho, por filhos livres, não por servos.”
“Desejo que vocês sejam filhos livres que, unidos nas diversidades, lutem todos os dias para conquistar a liberdade maior: a de si mesmos. Serão ajudados pela oração que nunca deve ser transcurada: é a herança que o Padre Arrupe nos deixou”.
“E a obediência. Como para Jesus, também para nós o alimento da vida é fazer a vontade do Pai, e dos padres que a Igreja doa.”
“Livres e obedientes, seguindo o exemplo de Santo Inácio, que em plena liberdade apresentou ao Papa a total obediência da Companhia, numa Igreja que certamente não resplandecia por costumes evangélicos. Ali há o jesuíta adulto, crescido.”
Amadurecer
A seguir, o Papa falou sobre o amadurecer.
“Não se amadurece nas raízes e no tronco, mas colocando para fora os frutos que fecundam a terra de sementes novas. Aqui, entra em jogo a missão, o colocar-se face a face com as situações de hoje, cuidando do mundo que Deus ama.”
Segundo Francisco, “a paixão e a disciplina nos estudos contribuem nessa missão. Fará bem a vocês aproximar-se do ministério da Palavra e do ministério da consolação. Ali, vocês tocam a carne que a Palavra tomou: ao acariciar os membros sofredores de Cristo, aumenta a familiaridade com a Palavra encarnada.”
“Não se espantem com os sofrimentos que vocês verem. Levem o crucifixo adiante.” Levem os sofrimentos “na Eucaristia que sabe abraçar os crucificados de todos os tempos”.
“Assim, amadurece também a paciência e junto com ela a esperança, pois são gêmeas: crescem juntas. Não tenham medo de chorar no contato com as situações difíceis: são gotas que irrigam a vida, a tornam dócil. As lágrimas de compaixão purificam o coração e os afetos.”
Papa Francisco, no Colégio de Jesus se aprende “a arte do viver incluindo o outro”.
“Não se trata apenas de se entender e querer bem, mas carregar os fardos uns dos outros. Não somente os fardos das fragilidades recíprocas, mas das diferentes histórias, culturas, memórias dos povos. Fará bem a vocês partilhar e descobrir as alegrias e os problemas verdadeiros do mundo através da presença do irmão que lhe está próximo. Abraçar nele não somente o que interessa ou fascina, mas as angústias e as esperanças de uma Igreja e de um povo”, concluiu.
Fonte: Vatican News