Tempo dos estudos VI (Autobiografia, 78)

Escrito por Pe. Felipe Soriano, SJ

Ao regressar a Paris, Inácio tem uma ingrata surpresa, pois muitos espanhóis haviam se reunido e convencido seus mais novos amigos no caminho dos Exercícios a deixar aquela loucura. Para muitos alunos e mestres da Universidade de Paris, era escandaloso ver os mais talentosos alunos residindo num hospital, pedindo esmolas e doando seus livros aos pobres, isto é, renunciando a um futuro brilhante e promissor por causa das loucuras de Inácio de Loyola. Todos esses fatos contribuíram para aumentar as murmurações e dissidências entre os espanhóis contra o peregrino.

Tal fato levantou a fúria de muitos, principalmente das autoridades acadêmicas. Vendo-se combalidos por tão grande disputa de ideias e argumentos, os três companheiros de Inácio se veem persuadidos a retroceder em seus piedosos desejos voltando à Universidade. Já na Universidade, diante dos mestres e superiores, concordaram em só voltar às suas práticas piedosas quando terminassem os estudos. Depois do acontecido, João Castro, Pedro de Peralta e Amador Elduayen não permaneceram juntos ao peregrino. Terminados os estudos, cada um deles tomou o seu próprio caminho.

“O bacharel Castro veio depois para Espanha, pregou algum tempo em Burgos, e fez-se frade cartuxo em Valença. Peralta partiu para Jerusalém, a pé e peregrinando, mas foi apanhado em Itália por um capitão, seu parente, o qual arranjou modos de o levar ao Papa e conseguiu que o mandasse voltar para Espanha”.

Ao retornar a Paris, Inácio encontra um ambiente francamente hostil por parte das autoridades acadêmicas, por causa da mudança de vida observada naqueles três estudantes que fizeram os Exercícios Espirituais. O mais preocupado com a situação era o Doutor Diogo de Gouveia, o principal mestre da Universidade Santa Bárbara, onde estudavam o Amador de Elduayen e o talentoso teólogo Doutor Pedro Ortiz, parente de Pedro de Peralta.

Este cenário trouxe grande preocupação para Inácio no início do novo ano letivo, manifesto na animosidade e na ameaça de castigo.

Diogo de Gouveia, o humanista português, ameaçou-lhe impor um castigo público, penoso e humilhante: “O réu com o dorso nu apresenta-se perante os alunos congregados na sala grande do colégio e aí os mestres o flagelam com abundantes vergastadas”. O temido castigo aplicado aos alunos era conhecido por todos com o nome de “sala”, por causa do lugar onde ele se dava. Assim havia prometido o humanista português: “a primeira vez que Inácio de Loyola viesse a Santa Bárbara, lhe daria uma sala como sedutor dos estudantes”.

Sabendo que o procuravam, Inácio apresentou-se espontaneamente às autoridades de Paris. O inquisidor reconheceu que recebeu queixas contra ele, mas, por causa da proximidade do início do ano letivo, decidiu não aplicar nenhuma medida. Acalmada a tempestade interna e externa, Inácio passa a viver no colégio de Santa Bárbara nas classes de filosofia, sob a orientação de João Peña, da diocese de Sigüenza, pois para Inácio o que valia mesmo era obedecer antes a Deus do que os homens.

Texto bíblico: At 5, 18-29

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