Apenas a consciência não faz justiça

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Foto: Davidson Braga. Crianças em Ouanaminthe, Haiti, março de 2017

No último dia 20, celebramos uma vez mais a memória de Zumbi dos Palmares e a consciência negra. A pertinência desta celebração continua enquanto em nosso país ainda impera o racismo e persistem os critérios de exclusão e segregação racial. Embora ainda distantes do ideal de igualdade e liberdade, vemos alguns frutos desta conscientização emergirem a cada ano. Entre os jovens, por exemplo, aumenta a adesão à cultura afro, ao cabelo sem alisamento ou chapinha, ao orgulho de ser o que se é. Faz-se necessário, pois, seguir incentivando a sociedade a ser mais consciente.

Logicamente, ao afirmar essa necessidade, nos remetemos às campanhas lançadas pelo Programa MAGIS Brasil em 2018 e 2019: “ser mais consciente” e “ser mais livre”. Enquanto cresce em nós a consciência de toda forma de desigualdade e injustiça, crescem também as possibilidades de criarmos situações de maior libertação. A justiça pode ser fruto de uma maior consciência, mas devemos sempre lembrar que apenas a consciência não faz justiça. É mister que a justiça seja praticada. “O Senhor dizia: praticai a verdadeira justiça; cada um de vós tenha bom coração e seja compassivo para com o seu irmão.” (Zc 7, 9).

Hoje queremos, pois, repetir a toda pessoa jovem que acompanha o Cristo esta exortação feita pelo Senhor há tanto tempo: ser compassivo. Tenhamos em nosso coração a mesma paixão que Jesus teve pelo mundo! Aproveitemos este início de novo ano litúrgico para nos converter ao coração daquele que nos ama. Quão oportuno é o apelo feito pelo Papa Francisco e todos os que se reuniram no Sínodo para a Amazônia: conversão! Todo tipo de conversão. Afinal, a justiça socioambiental, a ecologia integral, acontecerá à medida que nos convertermos integralmente.

Atentemos para o fato de que a justiça socioambiental não se resume à relação entre o humano e a natureza. Muitas vezes insiste Francisco: tudo está interligado. Se ainda não são justos os humanos entre si, como podemos dizer que chegaremos a nos desenvolver de modo sustentável? Sustentar tem quase sempre o mesmo significado de suportar. Podemos, pois, iniciar a nossa prática da justiça ouvindo o apelo de Paulo: “suportai-vos uns aos outros” (Col 3, 13). Não apenas tolerar, mas dar suporte, dar sustentação. Estamos dando suporte a nossos irmãos em suas necessidades? Estamos dando suporte, por exemplo, à luta dos negros no Brasil para reaver a justiça sobre os maus tratos que receberam e ainda recebem?

Suportar nossos irmãos negros é suportar todos os nossos irmãos: amarelos, vermelhos, brancos. Dar-lhes suporte é dar também suporte à natureza, aos rios, aos campos, às florestas, a todas as criaturas que voam, nadam, caminham ou rastejam por esta terra. O mundo justo pede de nós esta consciência, mesmo sabendo que apenas a consciência não é o suficiente para que o mundo seja mais livre.

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