“E como já tinha alguma experiência da diversidade de espíritos, com as lições que Deus lhe dera, começou a reparar nos meios pelos quais aquele espírito tinha vindo” (Autobiografia 26).
Escrito por E. Carlos Cesar Barbosa Silva, SJ
A Autobiografia de Santo Inácio nos mostra todo o processo de conversão, de peregrinação, de dúvidas, das buscas e decisões que ele foi sendo submetido ao longo de sua vida. A conversão é fruto de um processo em que vamos descobrindo e acolhendo a vontade de Deus para a nossa vida, a partir do concreto de nosso cotidiano. Santo Inácio aprendeu, em seu próprio itinerário de conversão, a discernir, ou seja, aprendeu a “sentir e conhecer as várias moções que se causam na alma: as boas para as aceitar e as más para as rejeitar” (EE 313).
No relato sobre as moções interiores (Aut.25-26), observamos a luta de Inácio com os seus escrúpulos. O passo para a sua libertação foi se dar conta das “lições que Deus lhe dera” através das moções. Ao dar a devida importância àquilo que se passa em seu interior, Inácio busca encontrar a origem de seus sentimentos e agitações internas, para assim, passar dos excessos ao equilíbrio. Ele foi capaz de discernir as moções que vem do bom espírito, do mal espírito e de si mesmo, buscando identificar a sua origem (de onde vem) e o seu fim (para onde levam). A partir de sua experiência, o santo peregrino nos ensina que um discernimento bem realizado, reconhece e acolhe as moções do bom espírito, permitindo-nos, desse modo, ordenar a nossa vida, tendo a certeza de que somos moradas de Deus.
Discernir não é recorrer a um manual mágico. Requer que consideremos as circunstâncias, os próprios desejos, o contexto, as urgências da realidade e, sobretudo, considerar os critérios do Evangelho. Exige o cuidado constante de não converter a vontade de Deus num monte de coisas que não são. Podemos dizer que discernir, portanto, significa estar consciente de que Deus nos ajudará a tomar boas decisões, levando-nos a escolher o caminho mais alinhado com os desejos que Ele tem para cada um de nós e para o mundo.
A vida espiritual, quando vivida de modo intenso, exige de nós uma atenção especial às moções para que, com lucidez, sejamos capazes de separar o joio do trigo. Inácio foi aprendendo a perceber as moções e a identificar as suas causas, buscando tomar a atitude mais correta diante delas, o que compreende distinguir os movimentos do bom e do mau espírito, bem como entender as estratégias e o modo de agir de cada um. Distinguir (discernir) as moções internas é um modo como podemos intuir para onde aponta a vontade de Deus.
A experiência de Inácio nos leva a compreender que o discernimento nos ajuda a converter nossas convicções interiores em decisões de vida. Discernir é ter critério para conhecer o bem ou o mal, a conveniência ou inconveniência das coisas e daquilo que me aproxima ou me afasta dos caminhos de Deus. Supõe, portanto, chegar a uma decisão cristã acertada sobre a verdade e a bondade de determinados sentimentos, pensamentos e inclinações, para tomar uma decisão saudável e salvífica.
Texto bíblico: Mt 13,24-30
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